Paulo Querido

Oracle compra Sun: nasce um colosso do open source

Com as atenções todas concentradas nos mediáticos nomes Google, Microsoft, Yahoo!, Facebook e Twitter, não admira que a notícia do trimestre, e vamos ver se não é a do ano, tenha surpreendido o jornalismo dos dois lados do Atlântico.



O negócio foi anunciado discretamente num press-release emitido esta segunda-feira: vale 7.400 milhões de dólares, a principal fatia dos quais (5.600 milhões) em papel (aqui, a breve publicada no Expresso Multimedia).



Mas o dinheiro é o menos importante. O que conta é o posicionamento no tabuleiro do jogo. A fusão deixará Larry Ellison, CEO da Oracle, a comandar o maior potentado de open source do mundo. Um "porta-aviões" capaz de impor respeito até à Google, Inc, mas sobretudo à Microsoft.



O colosso resultante da fusão de dois gigantes domina por completo o sector dos grandes servidores. Tanto no software (o Solaris e a reputada base de dados Oracle somam-se à Java da Sun) como no hardware (as estações SPARC da Sun, a deslumbrar há mais de uma década).



Na prática, as duas empresas há muito que mantinham uma frutuosa relação: os seus produtos são quase simbióticos e evoluiram em interdependência. Nesse sentido, a fusão é sobretudo financeira e de estratégia, restanto pouco para os engenheiros dos dois lados harmonizarem.



Do ponto de vista corporativo, a nova empresa ficará com uma dimensão mais próxima da Microsoft: 100.000 funcionários contra os 90.000 desta, 36.200 milhões de dólares de facturação, ainda um pouco abaixo dos 60.000 desta, contas feitas com os números de 2008.



A Oracle-Sun fica, também, com rédea livre para fazer face ao paradigma do cloud computing, aumentando a coesão com a sua imensa base instalada ao nível das maiores empresas do mundo.



A notícia causou alguma desconfiança na comunidade open source. Desde logo, porque a Oracle passa a controlar um produto que lhe faz alguma concorrência nos mercados de entrada: o MySQL, uma base de dados fundamentalmente gratuita que dá conta das necessidades de milhões de empresas de pequeno e médio porte.

Larry Ellison deu o sinal de que pretende manter o compromisso com o código livre - mas Larry Ellison é conhecido há duas décadas por ser fiel ao único fito de ganhar dinheiro e nem uma sobrancelha se levantaria de surpresa se um dia ele deixasse cair o open source.



Contudo, ambas as empresas têm um passado de apoio ao código aberto, a começar pelo sistema operativo Linux, passando pelo MySQL - desenvolvido nos últimos anos sob a égide da Sun - e pelo OpenOffice, um pacote alternativo ao Office da Microsoft, tão igual, tão igual, que partilha até os seus defeitos, mas é grátis, uma vantagem importante para alguns decisores.



Há quem veja a oportunidade: o MySQL não belisca o mercado do super motor de base de dados Oracle mas tem sido o carrasco do concorrente apresentado pela Microsoft, que visava as faixas médias. E manter o OpenOffice, mais do que contentar os aguerridos defensores do código livre, é pressionar a Microsoft no ponto mais sensível desta: o seu pacote de escritório.

Paulo Querido, jornalista