Bill veio passar uma temporada no Brasil, a trabalho, e aconteceu: se apaixonou por uma mulata. A Rosineide. Belíssima. Traços finos. De se levar pra casa. E foi o que o Bill fez: casou-se com a Rosineide e a levou para conhecer seus pais, em Cincinnati.
O Bill sabia pouco sobre Rosineide. Depois de ser apresentado
a ela, tinha ouvido alguém comentar:
- Ela é do balacobaco.
Estranhou. Ela não era carioca?
- Quíssima! - disse a Rosineide, já no avião a caminho de Cincinnati.
- Mas me disseram que você era de Balacobaco.
Rosineide hesitou um pouco antes de responder:
- Originalmente de Balacobaco, mas fui criancinha para o Rio.
E, a pedido de Bill, pôs-se a descrever Balacobaco. Nunca mais voltara à sua terra natal. Sabia que tinha parentes lá, mas perdera o contacto com eles. Onde ficava Balacobaco? Na Amazónia. Para ajudar Bill a localizar sua cidadezinha, Rosineide foi mais específica.
- Faz parte da Grande Cafundó.
Bill apresentou Rosineide a seus pais, em Cincinnati.
- She's from Rio, but originally from Balacobaco. In the Amazon!
Os pais do Bill acharam interessante, fizeram muitas perguntas sobre a Amazónia (desmatamento, cobras gigantes) e, em geral, acolheram bem a Rosineide. Que está até hoje morando com o Bill em Cincinnati e prometeu que, na primeira vez que os dois vierem ao Brasil, o levará para conhecer Balacobaco. Ainda mais que agora tem aeroporto em Cucuia, que fica perto de Cafundó. Só a mãe do Bill, que vota no partido republicano, às vezes fica olhando para a nora com um ar de dúvida. Ela também desconfia que não se sabe tudo sobre o Barack Obama.
O MISTÉRIO
"Me enganei", era a única explicação que o homem dava para o seu estado lamentável. Vivia bêbado, triste, maltrapilho. O que tinha lhe acontecido para ficar daquele jeito? Um engano, apenas um engano. E mais não dizia. As pessoas especulavam. Inventavam hipóteses para a sua desgraça. Ele teria escolhido a mulher errada? A profissão errada? Era um cirurgião que um dia cortara o que não era para cortar? Um engenheiro que se enganara no cálculo e o edifício ruíra? Um piloto que acelerara quando era para desacelerar, ou vice-versa? Alguém que declarara o que não devia, comprara o que não podia, aderira ao que perdia? Ele não dizia, e o mistério persistia. Até que, de tanto insistirem, o homem revelou qual tinha sido o engano que o arruinara.
- Um dia, confundi "ónus" com "ânus".
E calou-se outra vez. O que, na verdade, só aumentou o mistério.
NO AR
- Alô.
- Frota?
- Não, não.
- Não é o Frota?
- Não, é engano.
- Elano?
- Não. En-ga-no.
- Ó Elano, me chama aí o Frota.
- Aqui não tem nenhum Frota.
- Tinha um recado no meu celular do Frota, pra ligar pra ele.
- Mas esse não é o celular do Frota.
- Claro que não, este é o meu. Esse aí é que é do Frota.
- Não! Este é o meu!
- De quem?
- Do Elano. Que Elano! Eu tou ficando maluco... Engano. En-ga-no. Entendeu?
- Ó Tadeu, me chama aí o Frota.
AUTORIZADOS
(Da série "Poesia numa hora destas?!")
Vou pôr uma placa no coração
dizendo "Atenção:
só deve ser manejado
por pessoal autorizado.
Bons cardiologistas
ou mulheres com muito,
mas muito, cuidado.