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José Cutileiro, In memoriam

Robert Bernstein (1923-2019)

Começou como paquete e chegou a CEO de uma das maiores editoras mundiais. Reformou-se e nunca mais parou

Robert Louis Bernstein, que morreu de insuficiência respiratória num hospital de Manhattan na segunda-feira, 27 de Maio, foi um editor (no sentido português da palavra: alguém que publica ou colabora directamente na publicação de livros) nova-iorquino de grande prestígio, trabalhando e dirigindo durante longa carreira algumas das melhores casas editoras norte-americanas havendo começado, já formado por Harvard, do alto do seu metro e noventa, como paquete na Simon & Schuster em 1946, pouco depois do fim da guerra e da sua desmobilização da força aérea, por recomendação à casa de amigo dos pais, passando dez anos depois para a recém-criada Random House (o nome ‘Random’ viera da vontade dos sócios de publicarem também autores vindos de carreiras menos tradicionais) tornando-se seu chefe (presidente e CEO) em 1966, havendo publicado grandes autores americanos (William Faulkner, James Michener, Dr. Seuss, Toni Morrison, Norman Mailer, William Styron), atingindo prestígio raro e, durante décadas de comercialização desenfreada da indústria dos livros no seu país, mantendo a reputação de excelência literária da Random House e só se reformando em 1989 (por imposição de novo accionista maioritário; as vendas tinham entretanto subido de 40 a 800 milhões de dólares), embora no seu caso reforma não fosse sinónimo de repouso e entretém ociosos à espera da morte pois há décadas, sobretudo depois de visita à União Soviética em 1973, integrando delegação da Associação dos Editores Americanos, que lhe permitira experimentar directamente a cultura literária sob um regime politicamente fechado (expressão editorial dessa consciência encontra-se na sua promoção da publicação em inglês de Andrei Sakharov e sua mulher, Elena Bonner, Nathan Sharansky e depois de Vaclav Havel, Jacobo Timerman, Xu Wenli e Wei Jingsheng, dando-lhes renome mundial), o que abriu ainda mais a atenção para a questão dos direitos humanos. “Os direitos humanos, escreveu, não são um luxo ou algo a ser respeitado se não entrarem em conflito com outras prioridades, como a paz ou o desenvolvimento económico. São, sim, na realidade, a chave para se chegar a essas coisas e a quaisquer outras de importância urgente para o mundo”.

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