José Cutileiro, In memoriam

Agnès Varda (1928-2019)

Pequena, pouco mais media do que metro e meio, onde quer que fosse, mandava no espaço em que estivesse

Arlette (o pai grego e a mãe francesa tinham-lhe dado esse nome próprio, que ela detestava, por a terem concebido em Arles mas aos 18 anos, na sua Bruxelas natal, ela mudara-o oficialmente), aliás Agnès Varda, que morreu na sua casa na rue Daguerre do 14° bairro de Paris, rodeada por família e amigos, na noite de quinta para sexta-feira da semana passada depois de breve combate contra cancro, foi uma cineasta, fotógrafa e artista plástica francesa que se tornou conhecida cedo — o seu primeiro filme, “La Pointe Courte”, 1955, longa-metragem a preto e branco figurando Sylvia Monfort, Philippe Noiret e pescadores locais de Sète, no Mediterrâneo, onde Agnès passara a adolescência, contando duas histórias independentes: a de casal parisiense em crise e em férias; a da luta dos pescadores contra intermediários que os exploram, realizado aos 25 anos, antes de Agnès ir ao cinema ver fosse que filme fosse, com tal talento e domínio que os críticos logo a assinalaram; tornaram a falar dele quatro e cinco anos depois quando François Truffaut, com “Les 400 coups”, e Jean-Luc Goddard, com “À bout de souffle”, ensaístas experimentados de “Les Cahiers du Cinema”, fizeram eles filmes em que críticos coevos viram e anunciaram o começo da Nova Vaga, referindo de passagem filme realizado anos antes por mulher de talento que fazia lembrar esses dois — a seguir, em 1962, ela realizou filme de grande sucesso, “Cléo de 5 à 7”, e em 1985 “Sans toit ni loi” ganhou o Leão de Ouro de Veneza ; depois, décadas passaram e tornou-se a falar muito dela na última meia dúzia de anos, quando a avalia­ção da situação das mulheres está a sofrer grandes mudanças e gente da sua arte, homens e mulheres, entendem agora ter sido ela a criadora mais original da Nova Vaga, revalorização confortavelmente acompanhada por três ou quatro filmes recentes e magníficos feitos com câmara digital por Senhora a aproximar-se dos 90 anos mas mais nova do que todos nós, de que o meu preferido é “Les plages d’Agnès”, espécie de autobiografia emocional, diferente dos que ela fizera antes e mais próximo do que todos os outros da pessoa original, desconcertante, genialmente criadora e divertida que ela era.

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