Repare-se na crueza dos números das taxas de analfabetismo em Portugal:
1878 - 80%; 1911 - 75,1%; 1930 - 67,8%; 1950 - 42,9%; 1960- 25,7%; 2009 - 8,9%
Desde o século 19 que os governos lutaram para erradicar o analfabetismo mas sempre com medidas tímidas, insuficientes desinseridas dos problemas sociais e económicos das pessoas e discriminando sempre as mulheres em relação aos anos de frequência e às matérias a leccionar.
A Unesco em 1950 colocou Portugal na cauda da Europa, situando-o ao nível da América Latina no que dizia respeito ao analfabetismo. Isto era desprestigiante para Portugal em termos de imagem a nível internacional e por isso o governo de então teve que tomar a medida política de lançar uma campanha de alfabetização de adultos que visava sobretudo as gentes dos meios rurais onde as pessoas tiveram que ser muito motivadas para aderir ao plano governamental porque consideravam prioritário trabalhar para a subsistência do dia-a-dia de famílias numerosas. Nesse tempo até as crianças faziam falta para ajudar no amanho da terra e guardar o gado, quanto mais os adultos!
Os políticos da altura pensaram a educação como um problema estanque em si mesmo e não atenderam às necessidades económicas das pessoas.
Teoricamente as campanhas visavam os exames da 3ª e 4ª classes, no entanto os exames não tinham o peso do das crianças. Estava superiormente estabelecido que a exigência ficava pela metade. Enquanto as crianças reprovavam no exame da 4ª ao quinto erro ortográfico no ditado os adultos reprovariam ao 10º. Na matemática o mesmo critério.
Estas campanhas de alfabetização certificaram um verdadeiro novo saber manifestado pelos candidatos? Então certificou-se o quê?
Será caso para dizer: coitadas das crianças que têm de lá andar quatro anos?
Eu digo: cada coisa no seu lugar, no seu tempo e nas suas circunstâncias.
Eram ou não políticas estas campanhas?
Eram ou não novas oportunidades para quem ambicionava sair do amanho da terra ou almejava uma profissão mais limpa e de ordenado mais certo?
Foram justas?
Foram. Todos merecem uma segunda oportunidade.
Hoje temos um número de analfabetos que ainda é alto comparado com o dos países europeus mas temos outros tipos de analfabetismo: a iliteracia e a infoexclusão.
Joviana Benedito Profª. aposentada do Ensino Sec. e autora