A oportunidade de ser professor
Foi a oportunidade que muita gente aproveitou quando os governos alargaram a obrigatoridade do ensino, primeiro ao ciclo preparatório e depois ao 9º, sem cuidarem dos requisitos necessários.
Com Veiga Simão no ME, alargou-se a escolaridade obrigatória para seis anos, quatro de escola primária e dois de ensino preparatório. Foi um esforço grande do ministro para conseguir convencer o PM Salazar de que a educação era muito importante para o país, mas o PM consumia a maior parte do orçamento numa guerra injusta.
Em 1986 levou-se o ensino aos nove anos de escolaridade. Construíram-se escolas pré-fabricadas em qualquer sítio mas sem as condições básicas. Poucas tinham cantina ou/e ginásio.
Com o alargamento da escolaridade obrigatória deveria também ter-se pensado em formar professores com as habilitações adequadas. Não se fez isso e para colmatar esta deficiência alargou-se a oportunidade de ser professor a muita gente: médicos, advogados padres, bancários, os alunos universitários, etc, etc, e muitos sem curso nenhum. Muitos, senão a maioria, tinham outro emprego.
Ainda hoje a classe dos professores não reconquistou a imagem perdida nesse tempo.
As aulas nunca abriam a tempo e horas e mesmo quando abriam era com falta de professores colocados. Havia datas para concursos dos que tinham habilitação própria depois para os de habilitação suficiente, e depois restavam vagas a preencher por quem cada CD entendesse.
Os professores licenciados sentiram-se invadidos nas suas competências e formaram o sindicato dos professores licenciados porque o sindicato maioritário dizia defender todos os que exerciam a profissão docente. Outro grupo formou o sindicato que defendia uma Ordem profissional. E outros. Anos de confusão, de lutas em que se degradou o ensino e também a imagem do professor.
Depois vieram as oportunidades de fazerem a certificação de habilitações. Houve os mais diversos casos do chamado complemento de formação. As antigas regentes escolares fizeram o 9º ano, os padres três cadeiras numa faculdade, etc, etc.Mais tarde os professores do básico também tiveram a sua oportunidade de chegarem ao 10º escalão: um ano de complemento de formação numa ESE privada, ou dois anos numa estatal.
Estas decisões do ME, ao longo de tantos anos, foram justas? Claro que não, nem justas nem correctas, nem respeitadoras duma classe que devia ser sempre estimada, motivada, formada e informada.
Cresceu a desmotivação e gerou-se um "modus vivendi" peculiar. Os intervenientes só acordaram de facto quando foram arrasados também de forma injusta.
Soluções baratas e desadequadas em sectores-chave da vida de um país, como o da educação, é um erro muito grave. Estamos a pagá-lo todos, cada um à sua maneira.
Há mais de trinta anos que a Educação não é tomada a sério, tem andado ao sabor de oportunidades e oportunismos.