Joviana Benedito

MFL e o ensino obrigatório

MFL grita na TV como o Velho do Restelo gritava na praia Restelo quando as caravelas estavam a partir para a Índia .

Joviana Benedito (www.expresso.pt)

Não me vou deter sobre o que diz a respeito de economia, finanças, justiça, etc porque alguém mais sabedor do que eu o fará.

Mas uma das suas propostas para a educação é fazer voltar o regime de faltas para os alunos do nono ano. O nono ano é obrigatório!

MFL e os seus conselheiros não sabem nem definem um rumo para a educação apenas vão ao encontro do descontentamento dos professores e assim "caçar-lhe" o voto. A luta dos professores é matéria mais vasta que não cabe hoje aqui.

Quais as consequências do regime de faltas nos anos de ensino obrigatório? EXCLUI. Produz "LIXO HUMANO e SOCIAL". Produz desmotivação que leva ao ABANDONO, ao INSUCESSO e ao ANALBABETISMO. Os exames também produzem "LIXO". Quem engrossa as fileiras do "lixo"? Ora quem há-de ser! Os mais desprotegidos: pobres, deficientes, ignorantes. Não se rasga o "lixo" mas vai dar no mesmo: varre-se do círculo dos cidadãos promissores.

Há pais que quando chamados à escola por causa das faltas dos filhos respondem, encolhendo os ombros: ai faltou? Mas ele sai de casa!

Que política é esta que trata uns como filhos e outros como enteados?

(Depois outros virão atrás tratar esse "lixo"! e com que custos! Na pobreza, na segurança, etc.)

Ficaria do lado de MFL se dissesse que dotaria as escolas de sistemas, estratégias, pessoal especializado para cuidar dos alunos que não conseguem integrar-se no sistema que lhe propõem. Não é por teimosia que eles não se integram, é porque não se sentem felizes e então exprimem o descontentamento como podem.

A escola democrática, se os obriga à frequência, devia ter respostas alternativas, mas sem atirar mais uma carga para cima dos mesmos professores e sem dar aos alunos mais do mesmo.

Não podemos voltar ao ensino elitista que é injusto e coloca Portugal cada vez mais longe do mundo civilizado. O tempo actual coloca-nos já outro analfabetismo à espreita: o analfabetismo informático e as línguas estrangeiras.

O caminho da Educação está para a frente e o desafio de Portugal está na Educação, há muito, é urgente agir. É preciso dotar os portugueses de ferramentas actuais se queremos vencer cá dentro e no mundo globalizado.

Faço votos para que o barco da EDUCAÇÂO parta mesmo que MFL fique a gritar na "praia do Restelo".

Nota: para leitura online do episódio do Velho do Restelo contido em "Os Lusíadas" de Luís de Camões e uma pintura a óleo de Carlos Alberto Santos que ilustra o episódio.