Joviana Benedito

É obrigatório. Como se pode cumprir?

Joviana Benedito (www.expresso.pt)

Quando um aluno falta dias seguidos a escola tem de providenciar no sentido de que a criança volte à escola. E como se faz isso agora? Em alguns casos vai pessoal técnico da escola a casa do aluno falar com a família. E conseguem? Pouco. A maioria das famílias dos alunos faltosos tem défice de inserção social e educação cívica mas não lhe falta arrogância e atrevimento. E então o que acontece? Recebem este pessoal com palavras violentas e impróprias, acusações, ameaças de vinganças, etc. Isto acontece na primeira vez porque nas outras o pessoal não arrisca, tem medo de actos violentos, vira as costas e escreve no relatório que não foi possível falar com a família referenciada.

Creio que é abusivo e incompreensível que a escola tenha de cumprir esta função, tanto mais que estes casos acontecem em meios em que as pessoas não respeitam ninguém.

É fácil dizer: que chamem a polícia. Mas se a polícia (a mando da escola) obrigasse este tipo de pessoas a qualquer coisa, o que acho difícil, não faltariam as vinganças sobre os professores, na sua integridade e nos seus bens.

Essa gente sabe que os outros têm medo deles e também sabe a força que o seu grupo tem.

Disseram-me que uma coisa semelhante se passa com o pessoal da assistência social, quando precisam de resolver situações difíceis ou dar pareceres sobre a atribuição de RMI. Por isso vemos notícias nos jornais como aquela da senhora e do filho, em Coruche, aprisionados pelo filho e nora. Segundo a notícia o caso estava referenciado por técnicos da assistência social mas, ainda segundo a notícia, foram mal recebidos pela nora e por isso as vítimas tiveram de esperar meses até que um familiar fizesse queixa.

Como se vê, a execução de qualquer política é feita no terreno e não nas belas palavras dos programas. Para que as medidas tenham sucesso têm que ser apoiadas, de contrário cada executante resolve o seu problema de segurança.

Não nos admiremos pois da alta percentagem de abandono escolar.

MLRodrigues para diminuir esta percentagem lançou um item na avaliação dos professores em que penalizava (já foi retirado esse ponto) aqueles que não reduzissem o abandono nas suas turmas.

Com que apoios? NENHUNS. Penalizava-se o professor e não o prevaricador.

A escola é obrigatória, os alunos abandonam e os pais são responsáveis e não lhes acontece nada?!

Uma notícia do DN do dia 24 de Setembro dá conta de um estudo feito pelos pediatras do Hospital de Famalicão em que concluíram: "apenas 28% das crianças de etnia cigana que participaram no estudo têm o Plano Nacional de Vacinas actualizado".

A vacinação é obrigatória, os pais não levam lá os filhos e não lhes acontece nada?!

Legislar que é obrigatório não chega. Como se faz cumprir é que é a questão.

Joviana Benedito

Profª. aposentada do Ensino Sec. e autora