Só uma grande equipa consegue grandes resultados: um grupo de Pessoas unido por uma visão mobilizadora e trabalhando competentemente são capazes de alcançar objectivos excepcionais. É assim no desporto, é assim nas empresas, é assim em todos os grandes empreendimentos colectivos. Ao longo da minha vida profissional tenho trabalhado em bons projectos nacionais e posso testemunhar que, mesmo com menores recursos financeiros, as empresas portuguesas são capazes de competir e vencer grandes empresas multinacionais. Atraindo as melhores pessoas e sob um motivante desígnio comum é possível a uma empresa portuguesa vencer na competição global.
Vêm estas reflexões a propósito daquilo que hoje observo se passa na política. Só por excepção, e em alguns casos por extrema vocação, a política atrai os melhores. Ora se, para um projecto empresarial relevante, atrair os melhores profissionais é condição fundamental para o sucesso por maioria de razão tal condição não deveria ser indispensável ao bom governo da nação?
Dir-se-ia, atendendo à natureza do debate político a que vamos assistindo em Portugal, que talvez não... Pouco é feito para atrair os melhores à política ou para dignificar o trabalho daqueles que se dedicam à causa pública. Conhecendo eu múltiplas excepções a esta regra - tanto no Governo, como no parlamento, como em alguns serviços públicos - a verdade é que a média de qualidade na concepção e execução da actividade politica em Portugal é medíocre. A política parece mesmo afugentar a qualidade: as remunerações praticadas são manifestamente insuficientes, a perda da privacidade familiar é um contratempo, o escrutínio público é cada vez mais ridiculamente inquisidor e, talvez o mais importante... é patente a ausência de lideranças excepcionais e de um projecto mobilizador.
Nem sempre foi assim. Agora que passam 30 anos da morte de Sá Carneiro e Amaro da Costa é justo reconhecer que nessa altura as lideranças políticas tinham a capacidade de convocar, e construir equipa, com alguns dos melhores de Portugal. Foi assim nos melhores governos que tivemos em democracia: primeiro com Sá Carneiro, depois nos primeiros anos de Cavaco Silva. Não é difícil concluir o óbvio: só com grandes pessoas ao serviço do Governo é possível dar bom destino a Portugal.
Face aos desafios que se colocam a Portugal no presente não deveríamos nós estar a olhar para este problema de frente? Depois de dez anos de estagnação, os portugueses andam angustiados e muito zangados. Com razão. Mas a mim, o que mais a me angustia, não é a crise financeira actual, nem o FMI, nem a falta de capacidade de trabalho e de sacrifício dos portugueses - que por experiência sei que a têm de sobra - para darem a volta à situação presente. O que verdadeiramente me deixa em desesperança é esta incapacidade da política portuguesa em se renovar e atrair os melhores. É este pensar pequenino em que se agita o debate político. É esta ausência de um desígnio comum. Que tipo de liderança se pode afirmar assim? Que líder nos tira deste círculo vicioso?
António Pires de Lima escreve de acordo com a antiga ortografia
Texto publicado na edição do Expresso de 11 de dezembro de 2010