António Pires Lima

Serviços mínimos

António Pires de Lima (www.expresso.pt)

1- Começo pela história da selecção no Mundial: qualificámo-nos, in extremis, num playoff com a Bósnia. Chegados à África do Sul fomos segundos no grupo, depois de duas exibições contidas e minimalistas com a Costa do Marfim e o Brasil e de uma bela vitória sobre a fraca Coreia do Norte. Acabámos eliminados nos oitavos, sem brilho nem glória, por uma Espanha mais forte. Evitámos, porém, a humilhação! Em quatro desafios, três jogos em branco atestam a dinâmica e o espírito de risco da selecção contra equipas de peso. Há quantos anos não ganha Portugal um desafio a uma selecção de top?

Carlos Queiroz confirmou na selecção aquilo que já se sabia da sua longa carreira de 20 anos a treinar seniores: bom formador, não é um líder e as suas equipas vegetam na mediania sem qualquer ousadia ou espírito de corpo. Os jogadores mais ambiciosos e inconformados, como Ronaldo, não podem estar contentes com a situação. Queiroz está. E como cumpriu com serviços mínimos e tem direitos adquiridos por mais dois anos o seu lugar não estará em causa. Em Portugal, perdem-se oportunidades porque, quem cumpre com serviços mínimos, tem sempre o seu lugar garantido.

2- Há anos que o comboio e as praias da costa do Estoril são vandalizados por gangues juvenis nos meses de Junho e Julho. O epicentro é geralmente o Tamariz, no Estoril.

Depois de pré-avisos sérios nos comboios no ultimo fim de semana de Junho, Julho começou com cenas de faroeste, tiroteios incluídos, na outrora chique Tamariz. Perante a legítima indignação do presidente da Câmara, António Capucho, o Governo anunciou reforço do patrulhamento. Vamos ver se chega mas o mal está feito e era perfeitamente evitável.

Está na cara que os miseráveis bairros construídos permissivamente nos subúrbios de Lisboa só por milagre não geram muitos jovens desintegrados e violentos. Que, com a chegada do calor, esses (e muitos outros) jovens queiram espairecer e refrescar-se nas praias de fácil acesso de Cascais é perfeitamente legítimo. Que a conjugação de tanto calor e alguma juventude violenta gere desacatos, idem. Que o governo aposte numa polícia de serviços mínimos de Inverno para uma situação comprovadamente explosiva no Verão, essa é que já é uma história de incompetência que só pode revoltar os locais.

Para mim, autarca local, a surpresa não é total. Cascais sabe como os socialistas 'gostam' dela. Nos anos 90 tivemos um presidente socialista que tudo fez para descaracterizar urbanisticamente o concelho. Os governos de Sócrates, que noutras geografias algo têm feito pelo turismo, parecem empenhados em desvalorizá-lo aqui, onde constituiu uma riqueza insubstituível. Chegou-se ao ponto de extinguir a Junta de Turismo do Estoril para promover a integração desta Costa única num aglutinado turístico que junta toda a zona de Lisboa e Vale do Tejo, com sede na socialista... Alpiarça!!!

Dir-se-ia que a negligência do Governo nos cuidados com a segurança no concelho de Cascais, em época tão crítica do ano, obedece a uma estratégia. São tantas as 'coincidências' que me pergunto: será esta uma história de desamor político por preconceito social?

António Pires de Lima escreve de acordo com a antiga ortografia

Texto publicado na edição do Expresso de 10 de Julho de 2010