Domingo, 3 de Outubro. Tarde de chuva em Vidago, de onde escrevo esta crónica. E que importância tem a chuva se o Vidago Palace tem sempre um encanto mágico, qualquer que seja a estação... Reinaugurado oficialmente nesta última quarta-feira pelo primeiro-ministro e depois de um investimento vultoso da Unicer - que só a coragem e o amor à região dos accionistas portugueses (famílias Violas e Pinho e BPI) viabilizou - o Parque de Vidago faz agora jus à sua história centenária com um hotel, património nacional, fielmente recuperado e maravilhosamente decorado, um campo de golfe com 18 buracos de sonho e um Spa Termal moderno e com o traço genial do arquitecto Siza Vieira. Portugal não pode parar.
A sul, na costa do Guincho, depois de há uns anos ter aberto o Oitavos golf course - um dos melhores da Europa -, o empresário Miguel Champalimaud inaugurou, no mesmo fim-de-semana, o hotel de Oitavos, um cinco estrelas de espaços amplos, exemplo moderno de luxo funcional. Só a visão e a persistência permitiram este resort, um projecto privado bem integrado numa maravilhosa zona natural. Portugal não pode parar.
5 de Outubro, o Presidente da República inaugura, em Lisboa, o Centro de Investigação Champalimaud. Num edifício, numa área esplendorosa, trabalharão cientistas e médicos nas áreas das neurociências e do cancro, hospital incluído. Serviço público por excelência perpetuando a memória de um dos mais discutidos e geniais empresários portugueses do último século: António Champalimaud. Portugal não pode parar.
Três investimentos privados, em sectores estratégicos para Portugal, levados a cabo num momento de crise e inaugurados uma semana depois de o primeiro-ministro José Sócrates ter assumido o óbvio: o Estado está quase falido e só não entrará em bancarrota porque vai seguir uma dieta muito dura anunciada pelo Governo, depois de imposta por Bruxelas e pelos credores que nos sustentam.
Uma última boa notícia: para surpresa de alguns - que não a minha -, numa Europa em crise e num mundo em mudança acelerada, as exportações portuguesas cresceram 13% nos primeiros oito meses do ano. Devido a este resultado brilhante, Portugal não voltou (ainda) a mergulhar em recessão. Mérito sobretudo das empresas que se reconverteram, abriram novos mercados com produtos e serviços mais inovadores e de valor acrescentado. Portugal não pode parar.
É assim esta nação. Num Estado pesado e no limite do descalabro financeiro convive um mundo empresarial privado que, apesar de todas as limitações e num contexto altamente desfavorável, procura fazer e construir, apelando, na ausência tantas vezes de outras razões mais racionais, ao amor que nutre por esta terra. Só à custa do esforço empresarial privado em Portugal se voltará a criar emprego e Portugal sairá deste atoleiro.
Empresários portugueses, uni-vos! Continuem a acreditar, a investir e a exportar: Portugal não pode parar!
P.S. - Confissão de interesses: o redactor destas linhas é presidente executivo da Unicer, empresa promotora do investimento em Vidago. Quem, por esse facto, alimentar dúvidas sobre aquilo que por lá se fez, tem bom remédio: vá ver com os próprios olhos.
António Pires de Lima escreve de acordo com a antiga ortografia
Texto publicado na edição do Expresso de 9 de outubro de 2010