Portugal precisa de uma alternativa e essa esperança só pode vir de uma coligação do PSD com o CDS capaz de um discurso credível e construtivo.
1. Uma alternativa que não nos devolve a Esperança não é útil, nem é credível".
Assim escrevia eu há dois anos, neste espaço, pouco tempo depois da eleição da dra. Ferreira Leite como presidente do PSD e quando os sinais do seu discurso combinavam já uma seriedade inquestionável com um catastrofismo insuportável. Incrível foi como, face às circunstâncias adversas que o primeiro-ministro enfrentou e à razão que lhe assistia em muitas das denúncias que fazia da situação económica e financeira que Portugal atravessa, Ferreira Leite conseguiu perder as eleições em Setembro.
A sua falta de confiança em Portugal e nos portugueses - "vamos morrer, só não sei se da doença ou da cura", disse recentemente numa conferência - foram fatais. Com Ferreira Leite e ao longo de dois anos sobraram, como legado, as trágicas previsões e as declarações tantas vezes sujeitas a urgentes precisões no dia seguinte. Mais do que razão nas críticas ao governo, a um líder da oposição pedem-se soluções que sinalizem a esperança numa alternativa. Digo-o com pena porque a ainda presidente do PSD, embora sem vocação para a liderança política, é uma excelente pessoa: se Sócrates se mantém como PM a Ferreira Leite o deve! O pior 'crime' que um líder pode cometer é matar a esperança.
Não sei se será pedir demasiado mas desejaria que, com novo líder, o PSD reencontrasse uma nova forma de estar e falar com os portugueses. Portugal precisa de uma alternativa e essa esperança só pode vir de uma coligação do PSD com o CDS capaz de um discurso credível e construtivo.
2. Foram clarificadoras as 'exibições' de alguns jornalistas na Comissão de Ética. É evidente que, como já se intuía e sempre aconteceu no passado, terão existido pressões indevidas e tentativas de influência do poder político sobre algum jornalismo mais incómodo. Os governantes que temos são tudo menos meninos de coro e as suas actuações devem ser fiscalizadas. O interesse público talvez justifique muitas das denúncias publicadas mesmo se eventualmente ilegais.
Mas do que também não sobram dúvidas, depois do que se tem visto no Parlamento, é que nenhum português com um caso de justiça sério por resolver e no seu perfeito juízo confiaria o apuramento da verdade a Felícia Cabrita ou delegaria uma investigação criminal a Manuela Moura Guedes. O ódio e a emotividade fácil nunca foram bons juízes. Numa sociedade civilizada os jornais cumprem o seu papel mas não substituem os tribunais.
O país, é certo, enfrenta uma crise da Justiça muito grave, campo fértil para todo o tipo de justicialismos populistas. Este populismo é, porém, um caminho perigoso.
As soluções para um melhor sistema de justiça passam por respostas mais sérias e serenas e que dão muito trabalho a pôr em prática: responsabilização efectiva dos agentes de justiça, critérios de gestão eficiente dos tribunais e uma revisão profunda do processo de justiça que permita o cumprimento de prazos razoáveis - eis algumas das tarefas que urgem num diagnóstico não exaustivo. Mais do que mudar pessoas é preciso investir e melhorar o sistema e sujeitar a justiça aos princípios da responsabilidade e boa gestão essenciais ao bom funcionamento de qualquer instituição. Só assim poderemos voltar a ter esperança - e confiança - na justiça e em Portugal.
Texto publicado na edição do Expresso de 13 de Fevereiro de 2010