Pedro Passos Coelho identificou bem o problema português e tem coragem na agenda que defende.
Quando houver eleições, ninguém poderá dizer que Pedro Passos Coelho "é igual a Sócrates", nem que é um "político de plástico". Nem Sócrates nem um "político de plástico" defenderiam, sobretudo antes de eleições, o que Pedro Passos Coelho defende.
Um "político de plástico" não vai ao fundo dos problemas como a agenda de Pedro Passos Coelho vai.
Dar liberdade de escolha na Educação, atacar com recurso aos sectores social e privado a ineficiência do Sistema Nacional de Saúde (30% de desperdício pago pelos nossos impostos, segundo o Tribunal de Contas), reformar de modo incisivo a Administração Pública, rever a lei do arrendamento, ajustar a flexibilidade das leis laborais aos regimes das economias que connosco mais directamente concorrem não são políticas de plástico.
Tem também todo o sentido pedir a revisão constitucional ao PS para permitir reformar o Estado em profundidade. Esta revisão constitucional é tão importante para Portugal como a revisão de 1989, que Vítor Constâncio acordou com Cavaco Silva. Só a reinvenção social do Estado permitirá defender o Estado social a prazo.
Pedro Passos Coelho deve, urgentemente, explicar que a sua agenda é social e não liberal.
O imaginário igualitário da esquerda está hoje reduzido ao mito de que uma agenda social passa e se centra no Estado. Como o Estado está falido e vem arrastando consigo a sociedade civil para a falência, o mito da esquerda é duplamente perigoso: põe em risco o Estado social e põe em rota de agonia lenta a própria sociedade, a economia privada, as classes médias, a própria esperança de progresso.
É por isso que a agenda social portuguesa passa e deve centrar-se na reforma do Estado.
Veja-se a Educação: quase 40 anos depois do 25 de Abril, 59% dos adultos em Portugal têm apenas o ensino primário, apenas 43% das pessoas entre os 25 e os 34 anos completaram o ensino secundário (sendo 77% a média da OCDE) e ainda temos uma taxa de iliteracia de 7% (1% média da OCDE). E gastamos em educação mais do que a média dos países da OCDE!
Este exemplo demonstra como a ineficiência do Estado condenou milhões de portugueses à pobreza e o país ao atraso.
Quem sofre com isto não são os ricos, são os pobres que sonham ver os filhos alterar a sua condição.
Pedro Passos Coelho, com a sua comunicativa tranquilidade, tem de saber aumentar o nível de desconforto dos portugueses perante o contexto desfavorável em que nos encontramos. E deve promover, apostando nos sectores dinâmicos e inconformados da sociedade, o combate de ideias que é condição prévia de sucesso para o projecto que defende.
A agenda de Pedro Passos Coelho é uma agenda dramaticamente social e não uma agenda diletantemente liberal. O primeiro passo do seu combate político é fazer os portugueses tomarem consciência disso.
Texto publicado na edição do Expresso de 24 de Abril de 2010