António de Almeida

2012 - dois perigos

O maior perigo advirá da aprovação do orçamento para 2013, dado ser necessário que não se destrua o que se fez antes.

António de Almeida (www.expresso.pt)

Por tradição, o período das festas felizes termina no dia de Reis. A outra festa, naturalmente menos feliz, começou no dia 7. A minha última crónica foi escrita no dia 5, quando a árvore de Natal ainda estava iluminada. Por essa razão, preocupado com o ano de 2012, só agora escrevo sobre futuro.

Não omitindo o efeito fundo de pensões da PT, o valor do défice de 2010 é animador. Contrariando muitas previsões, a economia teve um bom crescimento apoiado nas exportações, o que reforça o ânimo. Quanto ao financiamento da dívida pública, independentemente de alguns fatores que poderão ter influenciado o último leilão, a procura foi reconfortante e a taxa de juro, ainda alta, parece indiciar uma tendência de baixa. Usando a expressão do primeiro-ministro, boas notícias.

Este início do ano, a férrea determinação do primeiro-ministro em avançar com as medidas de austeridade e a sua saudável teimosia de não recorrer à ajuda externa representam fatores de motivação para a capacidade de resistência, luta e sacrifício dos portugueses de boa vontade.

Independentemente de injustiças que medidas de austeridade sempre comportam, salvo alguns grupos, não os mais necessitados, o povo compreendeu o desastre que se aproximava e tudo indica que vai ajustar as suas vidas. Para centenas de milhares, com imenso sacrifício. No entanto, são medidas que necessitam de anos para produzir resultados consolidados. Para criar as bases de um crescimento equilibrado. Para repor algum equilíbrio social. Para dar a esperança que à austeridade não se seguirá mais austeridade.

Tal como sucede na vida quando somos marcados por doença grave, vamos viver com testes constantes. Ao crescimento da economia que, inevitavelmente, tem de ser influenciado pelas medidas restritivas. À implementação das medidas mais duras, sem as quais o efeito das outras será negligenciável. À necessidade de encarar outras, se isso representar um imperativo nacional. À definição e implementação de reformas estruturais, as que verdadeiramente criam o cimento do futuro. Só desse modo se criarão novas fundações para um futuro diverso do passado ocorrido após 1990, mas necessita de tempo. Como de muito tempo necessitaremos para ajustar o nosso endividamento de forma suportável pelos portugueses. Há quem fale em pelo menos cinco anos, o que significa que o próximo período eleitoral para as legislativas decorrerá com esta música de fundo.

Sou dos que acredita numa alta probabilidade de, em 2012, o atual primeiro-ministro poder apresentar resultados adequados aos objetivos estabelecidos, mas há que ter muito cuidado com dois perigos relacionados com a luta pelo poder. O primeiro tem que ver com o comportamento dos partidos quando começar a haver um cheirinho a campanha eleitoral, que poderá levar à ruinosa prática do passado do 'quem dá mais'. O segundo e maior perigo advirá da aprovação do orçamento para 2013, dado ser absolutamente necessário que, nesse ano, não se destruam os resultados que tanto custaram a construir nos anos anteriores.

Texto publicado no caderno de economia do Expresso de 21 de janeiro de 2011