Há uma imagem da noite deste domingo que faz de Portugal um lugar único no mundo: um Presidente da República reeleito, sozinho no seu próprio carro a rabiscar um discurso de vitória que faria solitário num átrio vazio de uma faculdade. Os portugueses gostaram dessa dessacralização do poder, Marcelo Rebelo de Sousa teve 60,7% dos votos e reforçou a votação de 2016, quando nos últimos dias se falava da hipótese de uma segunda volta - a abstenção não foi tão negra como se chegou a temer - e foi reconfirmado com distinção e louvor. Se um resultado chorudo, como o Presidente/candidato chegou a explicar, significa que os portugueses ficaram satisfeitos com a sua relação com o Governo, então António Costa pode estar descansado.
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Marcelo ganhou, Ventura também, e Costa ainda se sente muito bem
Estas são das presidenciais com os maiores efeitos sistémicos: temos de distinguir os resultados deste domingo da influência que vão ter no futuro. A direita sofre um abalo que contaminará a democracia portuguesa. No curto prazo, António Costa também ganha: em Belém, à direita, à esquerda e no seu partido. Marcelo foi reconfirmado com distinção, mas continua limitado a ter de se entender com um Governo socialista, no mandato mais difícil que em Belém já se viu