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Opinião

Invejei a liberdade de Mujica

Como sabem os vencedores deste tempo, a política tem uma dimensão profética. Para admirar Mujica não é preciso ser ou desejar ser pobre. Nem achar que os políticos o deviam ser. Como modelo, representa um horizonte que nos transmite valores a seguir, não a vida a imitar. Mujica e Musk não são modelos de sociedade, são modelos morais de liberdade. Tenho mais inveja da liberdade conquistada pelo despojamento do que da lamentável solidão e do risível exibicionismo de Musk.

Não sou dado a heróis. Os vivos toldam o sentido crítico. O nosso e o deles. Prefiro a confiança precária. Os mortos perdem as contradições que fazem deles humanos. Lembro-me, aliás, de me ter rebelado contra a beatificação de Nelson Mandela, que o transformou numa Madre Teresa, vazio de radicalidade e política. Nem Madre Teresa merece ser Madre Teresa, como se veio a saber. Mas podemos usar os heróis por aquilo que são: modelos morais idealizados. Arquétipos de virtudes que gostaríamos de ter e não temos, caso contrário não precisaríamos deles.

Há duas personagens contemporâneas que representam, de forma caricatural, um confronto de valores, modos de vida e ideais políticos. Duas personagens de personalidades exageradas que permitem uma adesão romântica: Elon Musk e Pepe Mujica.