Não sou dado a heróis. Os vivos toldam o sentido crítico. O nosso e o deles. Prefiro a confiança precária. Os mortos perdem as contradições que fazem deles humanos. Lembro-me, aliás, de me ter rebelado contra a beatificação de Nelson Mandela, que o transformou numa Madre Teresa, vazio de radicalidade e política. Nem Madre Teresa merece ser Madre Teresa, como se veio a saber. Mas podemos usar os heróis por aquilo que são: modelos morais idealizados. Arquétipos de virtudes que gostaríamos de ter e não temos, caso contrário não precisaríamos deles.
Há duas personagens contemporâneas que representam, de forma caricatural, um confronto de valores, modos de vida e ideais políticos. Duas personagens de personalidades exageradas que permitem uma adesão romântica: Elon Musk e Pepe Mujica.