Flannery O’Connor escreveu cartas privadas que revelam o preconceito racista típico do sul dos EUA. No mesmo universo, Mark Twain tinha uma espécie de racismo implícito na forma como via as relações entre raças, mesmo quando descrevia a relação entre amigos. Se vasculharmos Faulkner e Cormac McCarthy, vamos encontrar pecadilhos idênticos. Jack London era racista. No seu “Diário”, na pele original de Eric Blair, George Orwell deixou passagens snobes que tresandam a desprezo pelos pobres — até dá vontade de bater. Virginia Woolf, a santa do modernismo, era antissemita partindo de uma preposição moderna e não religiosa. T. S. Eliot era antissemita partindo de uma preposição religiosa. Céline era antissemita a partir da misantropia: sim, odiava judeus, mas na verdade odiava toda a gente, não era esquisito. Picasso era um canalha misógino e agressivo. Idem para Naipaul, que, além de destratar na mulher, dizia em público coisas inaceitáveis sobre as escritoras. Como se atrevem a largar a vassoura para agarrar na máquina de escrever? Woody Allen e Roman Polanski podem e devem ser moralmente criticados pela sua amoralidade sexual. Michael Jackson era um pedófilo terrível e dissimulado, um predador sexual com vozinha de anjo assexuado. Lewis Carroll consumia aquilo que hoje em dia apelidamos de pornografia infantil e era provavelmente um pederasta. Idem para Egon Schiele. Marquis de Sade era, como dizer?, sádico. Charles Dickens era terrível com a mulher. Hemingway era terrível com toda a gente e não apenas com as mulheres — também não era picuinhas na hora de escolher um alvo para o seu carácter desprezível. Kipling era imperialista e racista. Roald Dahl era misógino, antissemita e talvez fascista. Ezra Pound era de certeza fascista e um traidor da pátria. Riefenstahl era nazi. Eisenstein era estalinista. Gogol era racista e um nacionalista eslavo que apoiaria Putin hoje em dia. Salinger foi um marido abusivo e cruel. Alice Munro deixou que o seu segundo marido abusasse sistematicamente da sua filha. Podemos argumentar ainda que Hitchcock era sádico na sua relação com as mulheres.
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Deixem os meus monstros em paz
Há uma obsessão com a biografia do artista e não com a sua obra. É como se as pessoas não conseguissem lidar com os defeitos de carácter dos que admiram