No ano passado, fez bruaá nos EUA o lançamento do livro “Butts: A Backstory”, da jornalista Heather Radke. O livro faz o percurso da bunda ao longo da história (bunda é um termo de origem angolana, utilizado no Brasil, e que me parece acertado para descrever o traseiro feminino do ponto de vista estético). E lá estão as questões bioevolucionárias, as modas históricas e a bunda feminina enquanto sujeito da opressão da heteronormatividade masculina. Nada novo. Mas é uma visão totalmente americano-cêntrica da bunda (já evitei uns 10 trocadilhos). Para Radke, a bunda moderna aparece nos anos 90 nos vídeos de hip-hop, quando os brancos se começam a interessar por essa parte da anatomia, mas só “nasce” verdadeiramente com Jennifer Lopez e o seu traseiro grande e curvilíneo, supostamente segurado em 25 milhões de dólares (treta), a que se seguiu a Kardashian, que conseguiu usufruir de privilégios de ser e não ser branca, bem como Miley Cyrus e Christina Aguilera, que tiveram uma fase dirty/suja que equivalia a exibir uma “bunda negra”. Radke conclui que há uma “apropriação cultural” e “inveja branca” dessas formas curvilíneas, exaltadas e desejadas por mulheres de todas as raças, mas que são ainda hipersexualizadas de forma negativa quando são mulheres negras. O ideal feminino é uma branca com uma bunda de negra. Contudo, faltou explicar no maniqueísmo racial norte-americano que as rainhas da bunda Lopez e Kardashian não são completamente “brancas”, o que estraga um pouco a tese.
Exclusivo
Teoria geral da bunda
Começou a falar-se da “síndrome do traseiro morto”, algo que ocorre com a idade ou quando se passa muito tempo sentado e em que o glúteo maior — o impulsionador de movimento — perde funções devido a “amnésia glútea”