Opinião

É obrigatório o aumento do salário médio

“Não podemos ser um país que normaliza que uma pessoa que trabalha 8 horas por dia, 5 dias por semana, possa ser considerada pobre, sem capacidade para procurar uma casa e com medo que o dinheiro que ganha possa não ser suficiente na fila de um supermercado”, diz o presidente do Conselho Nacional da Juventude

Ao longo destes dias são várias as vezes que me perguntam: “E depois de 10 de março? O que achas que vai acontecer?” E foi na reflexão de uma resposta a esta pergunta que decidi criar um conjunto de crónicas em que mais do que refletir sobre este período eleitoral em concreto, na espuma da mais recente história ou novidade, foco a minha atenção no que terá que acontecer no dia a seguir.

No dia 11 março, os nossos eleitos terão de se debruçar sobre matérias basilares, e a tendência serão as respostas a curto prazo, mas dia 11 é obrigatório que seja diferente: terão de ser capazes de cocriar as respostas, onde se partilhe o sucesso e a responsabilidade, imunizando para a política da terra queimada, a que a mudança de rostos ou cores sempre nos levam.

Serão seis os temas abordados e hoje começo com o que considero mais central: os salários e as oportunidades!

Nos últimos anos, Portugal tem enfrentado desafios económicos que têm impacto direto na vida dos trabalhadores. As guerras e as crises com o consequente aumento dos custos de vida e a globalização com a necessidade de manter uma força de trabalho altamente qualificada e competitiva, torna urgente repensar as políticas salariais.

O aumento dos custos de vida tem sido uma realidade incontornável para muitos portugueses. O encarecimento dos bens essenciais, da habitação e dos serviços básicos tornou-se um fardo financeiro significativo para muitas famílias. Não podemos ser um país que normaliza que uma pessoa que trabalha 8 horas por dia, 5 dias por semana, possa ser considerada pobre, sem capacidade para procurar uma casa e com medo que o dinheiro que ganha possa não ser suficiente na fila de um supermercado.

O aumento do salário mínimo nacional é uma medida que visa melhorar as condições para os trabalhadores de rendimentos mais baixos, aproximando-nos dos padrões europeus e garantindo vidas mais dignas para todos os trabalhadores portugueses.

Contudo, no mundo globalizado que vivemos, garantir um salário mínimo condigno está longe de ser o suficiente. Nos dias de hoje, as nossas empresas não competem apenas entre si, mas também com todas as outras, da Europa em particular, mas do mundo em geral.

Ao mesmo tempo, a competitividade de um país está intrinsecamente ligada à qualificação da sua população. Investir na educação e formação dos jovens é uma estratégia crucial para garantir uma posição forte no cenário internacional. No entanto, a retenção desse talento deve ser uma prioridade na mesma medida. Garantir que os trabalhadores qualificados permaneçam no país exige oportunidades de carreira, com condições salariais atrativas.

O atraso histórico na educação veio a alterar-se na minha geração e na anterior, contudo, os decisores das organizações públicas e privadas precisam de corresponder, criando as oportunidades salariais e de carreira, para que os jovens possam escolher Portugal.

Desta forma, é obrigatório o aumento do salário médio, e aqui na dificuldade de o mesmo não ser por decreto, o Conselho Nacional da Juventude (CNJ)tem vindo a defender medidas como:

● O fim da caducidade da contratação coletiva, e a reintrodução do princípio do tratamento mais favorável, é essencial para os trabalhadores não perderem condições e para permitir que setores ou empresas possam definir salários base, não impedindo que um contrato individual, logo que com melhores condições, possa ser celebrado.

● A alteração das tabelas de IRS, com um alívio significativo nos valores do salário médio e tendo em vista a subida pretendida. Não podemos querer reter talento em Portugal em relação à Europa e considerar que 2500€ deve ser taxado como um salário alto.

● O aumento do valor dos estágios, no correspondente ao valor da contribuição para a segurança social. Em abril de 2023, estes passaram a estar abrangidos pela Segurança Social, realizando descontos para a mesma, o que é positivo. Ainda assim, jovens que já tinham más remunerações, passam a levar ainda menos para casa.

Por último é preciso pensarmos coletivamente na integração deste talento nas organizações. Como disse, os salários são essenciais, mas também é preciso pensar em carreiras, é preciso pensar a relação vida/trabalho e se queremos uma verdadeira transição do conhecimento para a economia, é necessário desenvolvermos a comunicação intergeracional, onde a experiência dialoga com a energia e inovação e, conjuntamente, se constrói e aqui, temos todos que melhorar.

Em suma, o crescimento de Portugal passa por garantir melhores remunerações e mais oportunidades, pois só assim retemos talento e criamos uma economia competitiva.

Ao longo das próximas seis semanas, Rui Oliveira escreve sobre os temas que o Conselho Nacional da Juventude, enquanto órgão representante dos jovens, identifica como prioritários no pós-eleições. Depois dos Salários e Oportunidades, seguir-se-ão, Habitação, Educação, Coesão Territorial, Saúde e Democracia.