Há quem não esteja a gostar mesmo nada dos novos medicamentos contra a obesidade. Outros mais eficazes estão na calha. Os atuais, inicialmente para diabéticos, têm uma caterva de efeitos secundários e estão longe de estar democratizados. Mas o Oráculo anunciou. Wall Street anda a dar-nos uma imagem de um futuro não muito distante. E é o de um mundo (os Estados Unidos, portanto) de gente magra, com consequências no mercado financeiro. Li no “The Wall Street Journal” que devido ao “Ozempic Effect” as farmacêuticas que estão a trabalhar nestas drogas explodiram de valor e a indústria alimentar de junk food, doces, refrigerantes está a ter uma queda sustentada na bolsa. Até se fala, repare-se, de aviões consumirem menos combustível se tiverem passageiros mais leves (“Drogas de perda de peso poupam milhões a companhia aéreas” — Bloomberg 29/9). Ora, isso implicaria que a nossa sociedade iria alterar substancialmente a relação que tem com a “molécula do diabo” — o açúcar. E suspeito de isso vir a acontecer. Nos últimos 500 anos, só para falar de uma época em que estamos implicados, foi causa primeira de brutais transformações geopolíticas no mundo, levou à mercantilização de humanos à escala global, a guerras e revoluções, deu calorias para que trabalhadores malnutridos erguessem a Revolução Industrial e o capitalismo e energia a soldados para combaterem duas guerras mundiais. E quando o Homo sapiens, em estado erectus, se sentou a uma secretária e se sedentarizou por completo, o açúcar engordou-o até à morte: nos pratos principais, nas bebidas, nas sobremesas, nos snacks, em pastilhas. E de umas colheres por semana em bebidas intragáveis (café, chá), passou a consumir uns 50 kg por ano. Isto os americanos. Os belgas e os polacos não andam longe. Nós estamos perto dos 30 kg. Só que, atentem, os números de Wall Street mostram um crash em quem nos entulha de açúcar.
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