Sabemos muito pouco sobre a vida de Samuel Foster, imortalizada num adequadamente curto parágrafo em “Brief Lives”, de John Aubrey. Não sabemos quando nasceu, mas sabemos que morreu em 1652. Entre o ponto de interrogação e a data da morte, pelo testemunho do sobrinho, sabemos que terá nascido em Coventry, que era professor na Gresham College, em Londres, e que na parede do escritório tinha um desenho da sua autoria de um relógio de sol. O desenho, impressionante pela sua minúcia, é descrito como “verdadeiramente o melhor no mundo inteiro”, chegando a indicar as horas “em Jerusalém, no Cairo, etc.”. Conseguir mostrar em desenho um relógio de sol que indica as horas em diversas partes do mundo é um feito. Para alguns será um mistério.
O momento pelo qual David Kirke é lembrado em obituários pelo mundo, sobretudo anglófono, é tão insólito como o desenho do relógio de sol naquela parede em Londres. No dia 1 de abril de 1979 David inaugurava o desporto radical chamado bungee jumping, inspirado num ritual praticado em Vanuatu, no Pacífico Sul, em que miúdos saltam de torres de 30 metros com os tornozelos amarrados a uma corda feita de ramos flexíveis de plantas, cuja elasticidade varia consoante a época do ano. A distância era calculada para que ninguém morresse quando se atiravam da torre com o objetivo de varrer o chão com o cabelo. Em 1974, numa visita da rainha Isabel II, um rapaz morreu no salto. Não era a época do ano indicada para saltar, porque as cordas de plantas ainda não estavam suficientemente elásticas. O Naghol, assim se chama o salto, foi tema de um documentário da National Geographic e em finais da década de 70 era conhecido dos membros excêntricos do Clube de Desportos Perigosos da Universidade de Oxford.