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Opinião

Da subversão ao conservadorismo

M.S.T. exige que o estereótipo da beleza feminina seja “natural”, como se as mulheres tivessem vindo ao mundo com saltos altos e batom. Marina procura corresponder ao ideal patriarcal da jovem mulher. Não chegará para equivaler ofensor e ofendida, mas demonstra que a normalização por que lutámos levou a subversão a aproximar-se do conservadorismo

FOTO d.r.

Não faço parte da esquerda puritana. Nada tenho contra a objetificação dos corpos, sobretudo quando resulta da vontade dos seus legítimos proprietários. Ainda assim, o concurso Miss Portugal não trata da objetificação erótica, que vai saudavelmente sendo alargada aos corpos masculinos, mas do elogio ao lugar decorativo da mulher. Os bondosos e pueris discursos das misses são o retrato do que se espera da mulher bela, mas nunca escandalosa. É por ser anacrónico que quase tinha desaparecido das nossas vistas. Regressou de forma inesperada. A minha primeira reação à vitória de uma mulher trans foi, mesmo assim, de satisfação. A forma mais eficaz de destruir uma tradição serôdia é subvertê-la até ficar irreconhecível. Mas depois veio o incómodo. Não porque uma trans tenha conspurcado a pureza genética da feminilidade, mas pelo oposto. Não tendo de ser diferente das outras mulheres, Marina Machete assumiu que ser mulher implica corresponder aos estereótipos de género que, na realidade, estiveram na base dos ataques à comunidade trans. Não são poucas as vezes que se sente este acomodamento à norma dos que lutaram contra ela. E é disto que quero falar: da marginalidade e da norma.

Este é um artigo do semanário Expresso. Clique AQUI para continuar a ler.