Como foi noticiado em primeira mão por este jornal, decidiram o Governo – através do Ministério das Infraestruturas – e a Câmara Municipal de Cascais (CMC) alterar as regras em vigor no que respeita ao tráfego da aviação executiva em Lisboa, anunciando a sua transferência na totalidade para o Aeródromo Municipal de Cascais (AMC), mais conhecido como Aeródromo de Tires.
Esse anúncio foi feito em simultâneo com a publicação em Despacho pelo Governo da constituição de um Grupo de Trabalho que, alegadamente, irá no prazo de 6 meses avaliar as condições para “uma futura introdução de regras de distribuição de tráfego entre o Aeroporto Humberto Delgado (AHD) e o AMC”.
Ao mesmo tempo ainda, o presidente Carlos Carreiras anunciou como dado adquirido a saída do perímetro de Tires das quatro escolas de aviação aí existentes sem que, no entanto, tivesse existido qualquer comunicação prévia institucional endereçada aos responsáveis pelas referidas escolas. Evidentemente, esta atitude de facto consumado foi uma surpresa para as escolas, bem assim como a falta de solidez e de suporte dos argumentos apresentados à comunicação social para a referida decisão.
Em primeiro lugar, não é compreensível que se anuncie uma decisão - em jeito de pescada que “antes de ser já o era” - antecipando a realidade objetiva do plano a definir para o perímetro e que será objeto do relatório ainda a elaborar pelo grupo de trabalho agora criado.
Em segundo lugar, não se entende igualmente a exclusão das escolas do diálogo entre as mesmas e o Governo e a CMC, para a apresentação das consequências associadas a esta decisão. Após 44 anos pela International Flight Academy (IFA) a desenvolver ações de manutenção a aeronaves em Cascais, 25 deles também com o serviço de instrução para pilotos, não é compreensível que se decida e aja como se não existíssemos.
Finalmente, em terceiro lugar, não se compreende da mesma forma que o racional da decisão exclua a criação de valor da atividade das escolas, avaliada entre 25 a 30 milhões de euros por ano, o impacto dos empregos diretos é superior a 200 profissionais altamente qualificados e a lógica territorial que justifica a continuidade no distrito de Lisboa da nossa atividade, servindo uma população de 3 milhões de habitantes de onde saem alunos interessados em serem pilotos, mecânicos e assistentes de bordo e que, enquanto estudam, necessitam de aulas próximas dos seus locais de residência e trabalho, não fazendo assim sentido a transladação geográfica para lugares remotos e a várias horas de distância. Na verdade, se Cascais deixar de ser também um aeródromo destinado à aviação geral e instrução, Lisboa passará a ser a única capital europeia sem uma infraestrutura dedicada à instrução e aviação lúdica.
A nossa convicção é, neste momento, tripla: 1) Acreditamos que foi por lapso que as escolas não foram incluídas no diálogo institucional em torno desta questão e iremos contactar o Governo, a CMC e os representantes do Grupo de Trabalho criado no sentido de serem agendadas reuniões em que possamos apresentar os nossos argumentos, sustentados em números, dados e factos. 2) Estamos convictos de que – conhecidos esses dados - o Governo e a CMC se empenharão na definição de uma solução conjunta que salvaguarde os postos de trabalho das escolas e permita manter o serviço prestado aos alunos e ao setor da aviação na zona da Grande Lisboa. 3) Estamos certos de que – vivendo nós num regime democrático – não serão os nossos representantes eleitos a ignorar a nossa iniciativa e vontade de diálogo, caminho sempre preferencial ao confronto e à polémica.
Se hoje o tráfego desviado para Cascais já representa 70% dos voos executivos no distrito de Lisboa, não nos parece que sejam os restantes 30% a impossibilitar a coabitação entre escolas e voos executivos no Aeródromo de Tires, mesmo considerando as obras de beneficiação que se pretendem realizar no local.
Em suma, deve prevalecer o diálogo, a lógica e a abertura pública do processo decisório às partes envolvidas. Só assim entendemos fazer sentido quer a atividade política, quer a empresarial.