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Opinião

Gaza: o que é uma “guerra justa”?

O pior na banalização dos conflitos é a banalização das atrocidades. Por esse mundo, há guerras sangrentas que estão fora dos radares mediáticos, por isso não “existem”, nem comovem. Outras prolongam-se para além do tempo de consumo mediático. É o que está a acontecer com a guerra na Ucrânia. De repente, esta saiu das manchetes dos jornais, da abertura dos noticiários e das análises dos comentadores. Tanto cá, quanto lá fora, foi cruelmente substituída por um conflito mais recente, que suscita menos consensos na opinião pública e que assume contornos ainda mais dramáticos, se tal é possível. É uma realidade perversa

Lembro-me bem da guerra do Golfo, que começou em agosto de 1990. Tinha 17 anos e assisti em direto à resposta da coligação internacional (autorizada pela ONU e liderada pelos Estados Unidos) à invasão do Kuwait pelo Iraque. No plano formal, a invasão do Kuwait pelo Iraque tem semelhanças com a invasão da Ucrânia pela Rússia.

No entanto, neste último caso está fora de questão uma coligação internacional, isto essencialmente por dois motivos: o primeiro, o facto da Rússia ser membro do Conselho de Segurança da ONU; o segundo, ainda mais relevante, por a Rússia ser uma potência nuclear. Este exemplo comprova que as reações da comunidade internacional às guerras nem sempre obedecem a uma regra fixa. Estas são condicionadas por um conjunto de fatores, que vão das relações com os Estados beligerantes à avaliação do seu potencial militar.