Qual devia ser o factor de união entre um ativista trans e Jaime Nogueira Pinto? A resposta é simples: um espaço comum de diálogo onde fosse possível discutir através de uma linguagem comum e sem presunções de superioridade moral. Só que esta simplicidade clássica e republicana está de facto a desaparecer. Há cada vez mais pessoas, nas esquerdas e nas direitas, que acham que a sua discordância em relação a x é argumento mais do que suficiente para cancelar x - o reflexo de uma geração muito mimada, a geração snowflake para citar o psicólogo social J. Hardt; uma geração que, à esquerda e à direita, é incapaz de se confrontar com ideias diferentes e até com um conjunto de factos que não devia existir segundo as suas visões do mundo fechadas.
É uma geração que foi educada por pais demasiado receosos e protetores e que, agora, na chegada à vida adulta, só sabe atuar num modo bullying contra as pessoas que não acomodam as suas vontades, as suas palavras; é uma geração que não sabe ouvir, que não sabe dialogar e contra-argumentar. E daqui nascem dois extremismos, o extremismo woke e o extremismo trumpista.