Opinião

Se não pagar, não leia

A quantidade de partilhas ilegais demonstra que existe público com interesse na leitura de jornais. O que falta é capacidade política para encerrar plataformas que permitem a pratica disseminada de crimes

Diariamente, em grupos criados em redes sociais como o Facebook, WhatsApp e Telegram, são partilhadas ilegalmente algumas dezenas de publicações periódicas, de âmbito nacional e regional.

De acordo com estudo recente do OberCom – Observatório da Comunicação, estima-se que a pirataria tenha um impacto correspondente a 30% do mercado das publicações periódicas. Os prejuízos anuais estimados atingem as dezenas de milhões de euros.

Uma comunicação social independente, capaz de exercer com rigor a sua função de escrutínio dos poderes instituídos, é condição essencial para a sustentação de um regime democrático.

Com recursos financeiros ameaçados, o sistema mediático é cada vez menos pluralista, rigoroso e independente, ambiente incompatível com o cumprimento da função social do jornalismo.

O mundo é cada vez mais assolado por desinformação, potenciada pelas nefastas redes sociais. O jornalismo, enquanto mediação entre o acontecimento e seus protagonistas e o leitor, cumpre pois um papel social fundamental que importa valorizar.

Pagar uma assinatura de um jornal é um ato digno que valoriza o trabalho jornalístico; descarregar gratuitamente um jornal de uma qualquer plataforma parasita revela de quem o faz, sobretudo, uma personalidade malformada, marcadamente oportunista e com acentuado défice cultural.

A quantidade de partilhas ilegais demonstra que existe público com interesse na leitura de jornais. O que falta é capacidade política para encerrar plataformas que permitem a prática disseminada de crimes. E escasseia também a noção da ilicitude do ato de partilhar jornais sem pagar qualquer valor por isso. Trata-se de uma deformação cultural que justifica a implementação, tanto por organizações representativas do sector como pelo Ministério da Cultura, de campanhas de Informação e sensibilização.

Se não pagar, não leia. Lembre-se que quem consome um produto ou beneficia de um serviço e se furta ao respetivo pagamento não é senão um ladrão ou um burlão.

* Presidente da cooperativa Milho-Rei e diretor-adjunto do semanário Barcelos Popular