Olhando para trás, aquela conferência que o sociólogo Zygmunt Bauman pronunciou em Assis, em 2016, tornou-se uma espécie de legado seu ao futuro. Nessa ocasião, ele que tinha então 91 anos de idade, propôs-se refletir sobre o estado da humanidade fazendo a história do recurso ao pronome “nós”. Recordo-me de ouvi-lo dizer que esta palavra decisiva começou o seu percurso da forma mais restritiva, pois os grupos humanos protegiam a sua identidade fechando-se em agregados minúsculos. Por exemplo, o primeiro “nós” da história humana não ultrapassaria o reduzido círculo de uma centena de pessoas. Além dessa realidade, os primeiros humanos não conseguiam dizer “nós”. A humanidade era então composta por bandos de caçadores e recoletores que podiam mover-se conjuntamente e assegurar a alimentação do próprio grupo. O “nós” terminava abruptamente nessas fronteiras. Tudo o resto era “outro”. E o outro era olhado como inimigo.
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