Enquanto desfilava com os Liberais no 25 de Abril, vi um pequeno grupo de jovens sentados num banco a olhar para nós atentamente com bandeiras vermelhas e o slogan: somos os netos dos valores de Abril!
Fui olhando para eles enquanto andava de bandeira na mão. Acompanhei.
Quando me perguntam se sou de direita ou de esquerda, enquanto Liberal fico sempre de pé atrás. A pergunta, feita de ambos os lados e ao mesmo tempo, costuma ter o tom insistente de “escolhe o lado!”.
Como conseguir dizer que não se concorda com o que a Esquerda defende neste país, ao mesmo tempo que somos “diferentes” demais para a direita que temos?
Se eu concordar com a esquerda nalgumas coisas? Isso faz de mim um socialista?
E se eu concordar com a direita noutras coisas? A multiplicidade de problemas, temas, soluções e questões torna as situações complexas demais para simplificações. Pragmatismo, necessita-se!
Aqueles que hoje querem associar o Liberalismo a um pretenso conservadorismo fechado ou à anarquia da inexistência do Estado padecem do mesmo problema daqueles que, do outro lado, o acusam de um progressismo desmedido à esquerda: não sabem como abordar uma ideologia única e “nova” na forma de pensar e agir.
A sua necessidade de colocar Liberais em caixas por conveniência é forte demais. Precisam da caixa. A caixa é tudo. A caixa permite simplificar espantalhos. E ignorar as inúmeras variedades de Liberais.
Preferem combater o espantalho a debater o que os Liberais realmente defendem. Mas quem são eles? Uma nova “família” política, que agora tem palco para se afirmar de forma independente.
“Nova” no contexto nacional, porque por essa Europa fora os Liberais da centrista ALDE contam com uma longa história, incluindo vitórias eleitorais e experiência governativa com ambos os lados.
Os filhos do Iluminismo trabalham bem e com resultados provados. A sua identidade Liberal é explícita junto dos povos que largam os rótulos de ambos os lados - “direita” ou “esquerda" - e ultrapassam essa divisão votando nas soluções Liberais que funcionam.
Como sempre, ao longo da história os Liberais assustam os incumbentes do sistema, que sabem que as possibilidades dadas pela verdadeira Liberdade Individual no longo prazo são bem maiores e temem a perda inevitável da luta ideológica. Pior: arriscam perder o controlo aristocrático que têm sobre a sociedade.
E assim, as trincheiras são feitas, muralhas erguidas, acusações criadas, discurso simplificado para consumo rápido e inflamado, as redes sociais inundadas, a população simplisticamente dividida em dois blocos, com cada lado numa bolha isolada a ter a narrativa dos seus “bons” e “maus”. Ou és a favor ou contra mim. Decide o lado! Já!
E puxam por bipolarização a toda a hora.
Não o aceito. A Democracia Liberal que temos exige mais e melhor. Os jovens também.
Voltemos aos jovens. A meio do desfile reparei que um jovem Liberal, com a camisa azul, saiu do desfile e foi ter com os jovens de vermelho. Sarilhos a caminho? Não! Cumprimentaram-se, calorosamente até, e conversaram - na verdade eram amigos próximos e quiseram estar presentes. Este sim, é o país real do dia a dia. Fora das bolhas das redes sociais, fora dos partidos e fora do sectarismo. O português na rua quer o bem para si e seus semelhantes. Ter amigos. Ter trabalho. Deseja intrinsecamente a Liberdade Individual.
O Portugal real é este, onde meia dúzia de jovens se sentam num banco da amizade numa tarde de sol no 25 de Abril.
Os nossos políticos profissionais deste sistema sabem o que é (sobre)viver com salário mínimo? Ter um pequeno negócio ou empresa? Trabalhar em recibos verdes? Sabem o que é servir na função pública com a carreira estagnada por promoções dadas a quem tem o cartão partidário? Onde está a recompensa da virtude e diligência?
Saberão eles o que é ter um filho a quem queremos dar tudo, mas chegar ao fim do mês com dificuldade em pagar o pão da mesa, muito menos “aventuras” como “ir estudar”?
Eles sequer entendem o Portugal real?
Depois de décadas de estagnação Socialista, os problemas sociais do país de todo o género permanecem, e a grande questão do nosso tempo mantém-se: “Se todos estão perplexos, quem pode melhorar a nossa terra natal?”
Esta é a grande questão do nosso tempo caro leitor.
Sempre foi. Quem pode melhorar?
Esta é a grande questão que interessa. E a resposta já existe há séculos: Liberdade.
Se queremos resolver os problemas nacionais no longo prazo, somente pela beleza da Liberdade isso é possível. Isto implica lutar pela igualdade de oportunidades mas também concordar com a desigualdade de resultados.
Podemos e devemos lutar, com recursos, pela verdadeira igualdade de oportunidades. Mas igualmente aceitar convictamente que dessa oportunidade, diferentes pessoas obterão diferentes resultados. Desfrutar plenamente dos frutos do trabalho, do esforço, é Liberdade.
Portugal, um país pobre como outros outrora foram, deve trilhar o caminho do meio.
Responsabilidade e Liberdade estão sempre intrinsecamente ligados.
Só um projecto para o país assente na Liberdade e responsabilidade das pessoas em tomar as decisões por si permite a verdadeira emancipação.
De facto, faltava cumprir Abril: nesta democracia Liberal não havia ainda um verdadeiro movimento assumidamente Liberal em Portugal a afirmar-se.
E estes quinhentos jovens, também eles representam os “netos dos valores de Abril”.