A morte desumana a que foi sujeito George Floyd deve ser firmemente condenada por todos sem excepção. A sua vida importava, tal como importa a vida de todas as pessoas que são vítimas de racismo. Este acontecimento revoltante conduziu a inúmeros protestos um pouco por todo o mundo. Não pretendo deter-me sobre o mérito dessas manifestações contra o racismo, nem tão pouco sobre a falta do mesmo por estas terem provocado ajuntamentos de milhares em tempos de pandemia. Existe, no entanto, um de entre os vários actos de vandalismo que têm sido praticados nestas manifestações que penso exigir um breve comentário – o que visou a estátua do antigo Primeiro-Ministro britânico, Winston Churchill. Durante os protestos junto ao Parlamento britânico, os manifestantes escreveram na estátua de Churchill que este era racista.
A ideia de que Churchill era racista é algo que começa a ser objecto de propaganda cada vez com maior frequência, em particular no Reino Unido. Esta é uma ideia que deve ser refutada. Na verdade, Churchill protagonizou memoráveis episódios de oposição ao racismo, dos quais se destaca a denúncia da perseguição aos judeus, pelos Nazis. Em 1932, ainda Hitler não havia subido ao poder, já Churchill havia alertado, no Parlamento britânico, para as tendências racistas do Nazismo, questionando o sentido de se perseguir um homem com base na sua raça. Bem vistas as coisas, não é precisamente por isto que se batem os manifestantes que vandalizaram a sua estátua?
Infelizmente, a imagem do líder britânico que alguns tentam passar às novas gerações é a de racista. Não será por isso descabido recordar, a estas mesmas gerações, de que quando falamos de Churchill falamos de um dos mais notáveis e visionários líderes da história, de quem, entre muitos outros, devemos recordar três feitos:
- A Democracia. Não será injusto considerar-se que as actuais democracias europeias se devem também a Churchill, não apenas por desde o primeiro momento ter denunciado o nazismo e o perigo que representava para estas, mas principalmente por ter liderado os britânicos durante a Segunda Guerra Mundial, que lutaram praticamente sozinhos durante cerca de um ano e meio, entre a rendição dos franceses e a entrada dos norte-americanos na guerra.
- A União Europeia. Ainda em 1946, ao ser pioneiro a propor, no pós-guerra, uma união que designou de “Estados Unidos da Europa”, Churchill não fica também isento de créditos na construção da União Europeia, um dos mais bem-sucedidos projectos de cooperação e paz.
- O Comunismo. No que de Churchill dependesse, o comunismo nunca teria sobrevivido para além de 1917, não tivesse sido este um dos principais apoiantes do exército branco que combateu Lenine e Trótski. Tivesse o líder britânico alcançado sucesso neste ponto, e o mundo teria sido poupado a várias ditaduras e aos cerca de 100 milhões de mortes causadas por regimes comunistas.
É por isso, da mais elementar justiça, que Winston Churchill seja recordado pelas gerações vindouras como um acérrimo defensor dos valores da democracia, da liberdade e da igualdade, pela qual se batem os mesmos manifestantes que vandalizaram a sua estátua.