Volta ao Mundo em 8 dias

A pedido de muitas famílias

O protagonista: O Pedro Nuno de volta

A pedido de muitas famílias, o candidato a primeiro-ministro do Partido Socialista pôs finalmente termo à sua tentativa de mimetizar António Costa. As performances contidas, o vazio programático e o receio do risco foram substituídos, este fim-de-semana, por um longo discurso de ideologia, improviso e combate. Se é para perder, prefiro perder sendo eu próprio, é o mantra que parece preencher o ar pedronunista.

Com uma mensagem polarizadora contra a direita, desta vez Pedro Nuno Santos radicalizou na moldura e no quadro. As propostas do seu “plano de ação” para o país incluem ideias como compensações ao Estado por parte de médicos que decidam emigrar ou trabalhar no setor privado. Para o voto útil à esquerda talvez funcione; para quem aprecie moderação, nem por isso.

O evento: O não na ilha

Um dos sinais que pré-anunciaram o regresso de Pedro Nuno ao seu formato original foi a decisão que o PS tomou, mesmo que a nível regional, não-viabilizando a vitória de José Manuel Bolieiro apesar de não ter uma maioria alternativa para apresentar aos açorianos. Escrevi sobre ela este fim-de-semana, aqui no Expresso. Mas verdadeiramente surpreendente foi a reação de Tiago Antunes, atual secretário de Estado dos Assuntos Europeus e ex-secretário de Estado-adjunto de António Costa. Para o governante, a opção do PS/Açores “rompe com o cordão sanitário” ao partido de André Ventura, empurrando o PSD para os seus braços.

“Se o Partido Socialista tem vindo a chamar a atenção para os perigos do Chega e de uma governação dependente do Chega, como pode agora conformar-se com este desfecho quando está nas suas mãos evitá-lo?”, é a questão deste socialista. E é uma inescapável.

A advertência: Mr. Trump regrets he’s unable to lunch today

Num comício na Carolina do Sul, Donald Trump disse algo que não surpreendeu ninguém mas chocou toda a gente. O recandidato à presidência dos Estados Unidos relatou um encontro com um líder europeu, em que lhe terá avisado que deixaria a Rússia “fazer o que quisesse” aos países da NATO que não cumprissem com as metas orçamentais da aliança. As consequências do regresso de Trump à Casa Branca em 2024 têm estado ausentes dos debates entre os partidos portugueses, mas o risco existe e é real.

O inusitado: Guess who’s back, back again

Numa notícia do Times deste fim-de-semana, a crescente influência de Tony Blair na campanha de Keir Starmer fez-se notar. O responsável pela pasta da Administração Interna no seu instituto ‒ criado após Blair deixar de ser primeiro-ministro ‒ foi para o gabinete de Starmer. O chefe de políticas públicas do think tank a que dá o nome irá nas listas de deputados do Partido Trabalhista.

Com uma reputação ferida pela guerra do Iraque e por relações profissionais com regimes autocratas, o seu apadrinhamento tão flagrante do mais do que provável futuro primeiro-ministro não é unânime entre as tropas labour. As sondagens, contudo, prosseguem em alta.

A sugestão: Na cabeça de Montenegro

Publicado em simultâneo com “Na cabeça de Ventura”, que recomendei a semana passada, “Na cabeça de Montenegro” é assinado pela pena de Miguel Santos Carrapatoso, do Observador. Com um notório gosto pela política ‒ mas sem perder a objetividade ‒, o jornalista mostra que o talento para a escrita não se resume às suas análises sobre a vida do maior partido da oposição. Pelo contrário, Carrapatoso escreve uma biografia política de Luís Montenegro que nos ajuda a compreender melhor como decide ‒ e como chegou até aqui ‒ o líder do PSD. Da herança pesada do passismo à confiança na sua própria intuição, o autor desenha um retrato de Montenegro sem excesso de cor nem falta de pormenor.

Imprescindível para compreender os dias que faltam até 10 de março, será também uma boa bússola para descobrir o norte do PSD na madrugada eleitoral. A ler e reler.

Até para a semana

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