O fim de semana são dois dias

O mundo todo em Sines. Um passeio pelos novos museus de Lisboa. A 'chicla' de Nina Simone

Homenagem a António Pires, nos bastidores do FMM (foto de Vítor Junqueira)

Boa tarde,

para muitos fãs de música, rumar a Sines em julho é tradição obrigatória. Este ano, o Festival Músicas do Mundo, carinhosamente conhecido como FMM, celebra o seu primeiro quarto de século com um cartaz invariavelmente eclético. O arranque aconteceu, como habitualmente, em Porto Covo, e a festa continua até sábado em vários espaços de Sines, com destaque para o castelo, que recebe muitos dos concertos principais, e a avenida junto ao mar, aberta à dança até de manhãzinha. Num cartaz recheado de artistas de todo o mundo, destacamos três: esta quinta, o furacão Bia Ferreira, do Brasil, às 22h15; amanhã, também do país-irmão mas radicado em Portugal, Luca Argel, às 18h00, e no sábado a maliana Rokia Traoré, pela quarta vez no festival, seguramente com a elegância de sempre (às 22h15). No final há fogo de artifício, pelo meio há música, encontros e descobertas - este ano, com uma sentida homenagem a António Pires, antigo editor da BLITZ desaparecido este ano e um dos grandes amigos do festival, que visitava com regularidade e onde chegou a atuar com a dupla de DJ Clube Conguito.

O fim de semana vai trazer muito calor, mas se prefere temperaturas mais temperadas, este artigo pode ser para si: um roteiro pelos novos museus de Lisboa, com tudo o que interessa ver no MAC/CCB, Macam e Pavilhão Julião Sarmento.

Também no cinema encontramos o frescor que faltará nos areais escaldantes. Acabados de estrear estão o blockbuster “Superman” e o intenso “A Uma Terra Desconhecida”, que acompanha a saga de dois palestinianos em Atenas. Em cartaz, apenas numa sala de Lisboa, continua também “Lindo”, a história de um caçador de tartarugas na Ilha do Príncipe, em São Tomé e Príncipe, que se torna defensor desses mesmos animais.

Voltando à música: as noites do fim de semana prometem ser quentes (há mesmo quem assegure que serão “tropicais”), e mais cálidas se tornarão no Montijo, com concertos de Temples, Legendary Tigerman ou Vaiapraia no festival Sons do Montijo (sexta e sábado), ou em Briteiros, pequena povoação na zona de Guimarães que saltou para as manchetes há três anos, graças ao festival Rock in Rio Febras, o ‘David’ que foi notificado pelo ‘Golias’ Rock in Rio para mudar de nome. Agora, para não haver confusões, chama-se Rock no Rio Febras e este ano tem concertos de Dandy Warhols, Pluto ou José Pinhal Post Mortem Experience.

O fim de semana de canícula chega ao fim com estrondo, com a passagem de Kendrick Lamar e SZA pelo Estádio do Restelo, em Lisboa, no domingo. Na BLITZ, Rui Miguel Abreu fala com o biógrafo de um dos reis do hip-hop contemporâneo, para quem o sucesso do norte-americano passa pela sua honestidade.

Para terminar, deixo-lhe uma sugestão de leitura: “Nina Simone's Gum”, uma espécie de livro de memórias de Warren Ellis, multifacetado músico australiano conhecido, primeiramente, como braço direito de Nick Cave nos Bad Seeds. Tal como todos os grandes músicos, Ellis é um apaixonado pela arte: a sua e a dos outros. Como tal, aproveitou a mítica passagem de Nina Simone pelo londrino Meltdown Festival, em 1999, para subtrair de palco uma pastilha elástica que a norte-americana lá colara, antes de começar a cantar. Anos mais tarde, quando Nick Cave lhe perguntou se tinha algum objeto para incluir numa exposição em Copenhaga, o dono de uma das mais épicas barbas do rock respondeu: “aquele meu primeiro violino, todo escavacado. E a ‘chicla’ da Nina Simone”. O resto é história, nomeadamente a história de como pequenos troféus simbolizam a amizade, paixão e loucura que marcam a vida de qualquer melómano.

Tenha um excelente fim de semana e até à próxima quinta-feira!

O fim de semana são dois dias