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Elevador da Glória: e de repente tudo pode mudar

Bom dia,

Podia acontecer a qualquer um de nós: visitar uma cidade, ir a um dos seus pontos turísticos de excelência, aparentemente isento de riscos, e perder a vida. Aconteceu ontem em Portugal, em Lisboa, no elevador da Glória, ex-libris da cidade: um descarrilamento e posterior choque contra um edifício tirou a vida a 15 pessoas, entre portugueses e estrangeiros, e feriu mais 23 (últimos números divulgados esta manhã), entre os quais estão cinco feridos graves.

O drama agiganta-se à medida que vão sendo conhecidas as histórias de quem ficou para trás, por trás dos números frios das estatísticas de mortos e feridos, e os relatos de quem viu o que se passou e tentou ajudar. Podia acontecer a qualquer um de nós, bastava estar no sítio errado à hora errada. É também uma lição para relativizarmos muito do que nos aflige, desnecessariamente, porque de um momento para o outro tudo pode mudar.

A hora é de identificar os mortos, tratar dos feridos, cuidar dos que ficam. A seu tempo se perceberá o que falhou, o que aconteceu, e o que fazer para que não volte a acontecer. No momento em que publicamos este Expresso Curto ainda não se sabia porque é que o cabo que sustentava o elevador se partiu. Estes elevadores têm a manutenção adequada? – é a pergunta que começou logo a ser feita pouco depois das 18 horas de ontem. A Carris assegura que sim, que a empresa contratada para fazer a manutenção fez o que tinha a fazer. A Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (FECTRANS) aponta "queixas sucessivas" quanto à necessidade de manutenção dos elevadores, inclusive o da Glória.

“Lisboa está de luto”, declarou o presidente da câmara Municipal de Lisboa. Serão três dias a nível municipal. O país solidarizou-se: o governo decretou um dia de luto nacional, que se cumpre hoje, o primeiro-ministro cancelou parte da agenda. Luís Montenegro manteve apenas a reunião do Conselho de Ministros, onde Carlos Moedas estará presente, e a participação por videoconferência no encontro de líderes europeus sobre a Ucrânia. Os outros elevadores da cidade foram suspensos.

Há várias entidades em campo para perceber o que aconteceu, será preciso esperar pelos resultados para tirar conclusões. O que é certo é que a cidade capital do país acordou mais triste. E que aquele local será recordado durante muito tempo pelos maus motivos.

Se este acidente não tivesse acontecido, as principais notícias em destaque hoje em Portugal incluíriam encontros políticos de preparação de orçamentos do Estado, reuniões internacionais relacionadas com conflitos militares e julgamentos de ex-políticos.

Ganhar balanço para o Orçamento

Ontem, a ganhar balanço para um outubro recheado, o governo começou a preparar-se para o embate do Orçamento do Estado para 2026 (OE-2026), que será entregue na Assembleia da República até 10 de outubro, a poucos dias das eleições autárquicas, que se realizam dois dias depois, a 12 de outubro.

O governo acredita que o OE-2026 não terá aprovação difícil e mostra-se disponível para negociar com todos, disse-o Carlos Abreu Amorim, ministro dos Assuntos Parlamentares, após ter recebido os representantes do Chega, Iniciativa Liberal e Livre para falar não só do OE como também do conflito no Médio Oriente e da lei da nacionalidade e dos estrangeiros. As audições aos partidos com assento parlamentar arrancaram ontem, para hoje estava previsto um encontro com o PS e na sexta com o PCP.

O ministro disse que "não há parceiros preferenciais para o Orçamento que o Governo tem alinhavado". Foi uma resposta ao Chega, que voltou ontem a manifestar a disponibilidade para ser o “parceiro preferencial” do governo, escudado no facto de ser o segundo partido em número de deputados. Carlos Abreu Amorim aproveitou para sublinhar o sentido de "responsabilidade" demonstrado pelo Chega, Livre e Iniciativa Liberal nas conversações, admitindo que espera que se estenda aos restantes partidos da oposição.

Preparar o futuro da Ucrânia

A nível internacional há a destacar o encontro desta quinta-feira do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky com os líderes europeus, a partir de Paris, para discutir a situação da Ucrânia e as garantias de segurança do país uma vez que se consiga pôr termo à guerra com a Rússia. O encontro reúne o presidente francês, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, contando também com a presença do chanceler alemão, Friedrich Merz, além da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e do secretário-geral da NATO, Mark Rutte. Juntar-se-ão também por videoconferência outros líderes europeus, entre os quais Luís Montenegro.

Um acordo para terminar o conflito ainda parece muito distante, já que a Rússia quer o reconhecimento internacional sobre os territórios ucranianos ocupados. O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, disse que as novas "realidades territoriais" devem ser reconhecidas e formalizadas de acordo com o direito internacional, para que a "paz seja duradoura". Além disso a Rússia exige que a Ucrânia renuncie aos planos de adesão à NATO. A Ucrânia reagiu dizendo que esta posição “prova que o apetite do agressor só aumenta quando não é submetido à pressão e à força”.

A Europa reagiu também à forma como em Pequim o presidente chinês Xi Jinping recebeu os seus homólogos russo Vladimir Putin, e norte-coreano, Kim Jong-un. O encontro foi visto pela União Europeia (UE) como um “desafio direto” à ordem internacional, segundo a chefe da diplomacia da UE, Kaja Kallas. A China aproveitou as visitas para apresentar, durante um desfile militar, o seu poderio militar, nomeadamente um míssil balístico intercontinental capaz de transportar uma ogiva nuclear, entre uma série de novos equipamentos.

Putin desafiou entretanto Zelensky para ir a Moscovo: “Se estiver preparado, que venha a Moscovo e esse encontro terá lugar”, afirmou, embora tenha voltado a questionar a legitimidade de Zelensky para se manter na presidência da Ucrânia.

OUTROS ASSUNTOS

Migrantes Sete pessoas que viajavam em embarcações precárias durante a travessia do Mediterrâneo foram encontradas mortas ontem em duas praias da Andaluzia, no sul de Espanha.

Julgamento Sócrates No sétimo dia do julgamento da Operação Marquês, onde estão a ser julgados 117 crimes de corrupção, branqueamento de capitais e fraude fiscal, José Sócrates, o principal arguido, acusou o Ministério Público de “querer sustentar uma acusação criminal baseando-se numa opinião política”, a propósito do fim do projeto da alta velocidade ferroviária que lançou quando era primeiro-ministro. O julgamento prossegue hoje.

Julgamento Bolsonaro O segundo dia do julgamento do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado não correu bem nem à defesa nem à acusação.

Juros Em julho, a taxa média das novas operações de crédito à habitação fixou-se em 2,88%, o valor mais baixo desde novembro de 2022.

Depósitos bancários A remuneração dos depósitos a prazo voltou a cair em julho, para 1,39%, o valor mais baixo desde maio de 2023, uma descida que acontece há 19 meses consecutivos.

Gripe aviária Numa altura em que a Europa enfrenta um aumento sazonal de gripe aviária, um surto detetado em Portugal, na zona de Samora Correia, provocou a morte de mais de 1000 patos.

França O primeiro-ministro francês, François Bayrou, sugeriu que os socialistas se abstenham no voto de confiança apresentado pelo Governo, cuja votação está marcada para segunda-feira, para assegurarem a formação de um executivo alternativo.

FRASES

“Tenho a certeza que o sentido de Estado e o superior interesse nacional vão estar sempre presentes em todos. Seguramente vamos ter um orçamento que seja aprovado na Assembleia da República” - José Aguiar Branco, presidente da Assembleia da República

“O fascismo abrange o nacionalismo extremo, a procura de um grande rejuvenescimento nacional ilusório, o controlo interno rígido do discurso, a repressão da diversidade social, a criação de redes de polícia secreta e o culto descarado a ditadores” – William Lai Ching-te, presidente de Taiwan

PODCASTS

Expresso da Manhã José Milhazes diz no Expresso da Manhã que “a Rússia é apenas um fornecedor de matérias-primas (em saldo) para o maestro, que é a China”.

Bloco Central Os julgamentos de Sócrates e de Bolsonaro são um dos temas analisados no Bloco Central por Pedro Siza Vieira e Pedro Marques Lopes.

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