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80 terabytes de provas e um juiz que Musk conhece bem: Bolsonaro enfrenta a justiça, com o mundo a assistir

Jair Bolsonaro, acusado de liderar uma conspiração para derrubar a democracia, chega esta terça-feira a tribunal
Arthur Menescal

Olá,
E obrigado por começar o dia connosco.

Ainda é verão, mas a chegada de setembro faz com que o outono se abata sobre Portugal. Há conversas sobre o Orçamento, congressos de rentrée à esquerda e à direita, e uma pré-campanha autárquica que se adivinha intensa. O trânsito regressa às principais cidades, e os dias para o regresso às aulas contam-se pelas mãos. No Brasil, tudo isto parece pouco quando há um ex-Presidente da República prestes a ser julgado em Brasilia.

Jair Bolsonaro, acusado de liderar uma conspiração para derrubar a democracia, chega esta terça-feira a tribunal, dias depois de o Supremo brasileiro reforçar a vigilância na sua casa. O objetivo da medida foi evitar uma possível fuga, antes do julgamento por tentativa de golpe. Pela primeira vez em mais de dois séculos, um ex-presidente brasileiro pode ser condenado por um crime assim. Segundo a acusação, Bolsonaro disseminou a ideia de que o sistema eletrónico de votação não era fiável, mobilizou o aparato do Estado para manipular as eleições de 2022 e, quando nada resultou, articulou com militares um plano de ruptura constitucional que previa prisões e até o assassínio de adversários.

Se os julgamentos fossem anunciados como combates homem a homem, este seria um Bolsonaro versus Alexandre de Moraes e teria mais de três mil pessoas - que se inscreveram-se para acompanhar as sessões do Supremo - a assistir. A hora do embate chegou mais cedo do que se esperaria de um caso desta envergadura, mas o segredo do sucesso é simples de explicar: evitar um megaprocesso foi a aposta nas acusações que envolvem Bolsonaro.

Ainda assim, há 80 terabytes de provas — o equivalente a 17 milhões de DVDs empilhados até à altura de um arranha-céus de 68 andares. Há quem aposte que as provas contra Bolsonaro darão a condenação do ex-Presidente brasileiro, mas só a justiça terá a resposta para as questões ainda em aberto.

O momento mais aguardado deverá acontecer a 9 de setembro, quando Alexandre de Moraes ler o seu voto, propondo condenação ou absolvição dos acusados. O juiz, que já enfrentou Elon Musk e foi alvo de críticas de Donald Trump e dos seus apoiantes, tornou-se a face mais visível da justiça brasileira neste momento delicado. O foco estará sobre ele.

Se condenado, o ex-presidente poderá cumprir entre 12 e 43 anos de prisão, embora a execução da pena só aconteça após trânsito em julgado. Os restantes arguidos, sendo oficiais do Exército, terão direito a prisão especial.

Outras notícias

A flotilha e a reorganização à esquerda. A flotilha humanitária está a caminho de Gaza - os primeiros barcos saíram de Barcelona na tarde de ontem -, mas o tema está na ordem do dia também em Portugal. No sábado, Rangel recusou o acompanhamento português enquanto Espanha garante proteção diplomática. Na rentrée bloquista, a eurodeputada Marta Temido chegou mesmo a admitir que a UE é "cúmplice do genocídio". Já ontem, à distância, Mariana Mortágua traçou o objetivo de “relançar” o Bloco e recuperar “confiança do povo de esquerda”. A mensagem está em linha com o que também é defendido por José Luís Carneiro. “Éramos uma sociedade coesa”, frisou o secretário-geral socialista, que viaja na terça-feira para Luanda mas que se diz disposto a combater o populismo em Portugal.

As promessas sociais-democratas e as premissas de uma revolução à direita. Luís Montenegro aproveitou o discurso de encerramento da Universidade de Verão da JSD, este domingo, para fazer promessas aos portugueses. E a habitação voltou a ser tema, numa altura em que o primeiro-ministro aposta na desdramatização do Orçamento do Estado. O movimento é feito depois das notícias que davam conta de uma margem curta para a negociação, e num fim de semana em que os imóveis de Montenegro voltaram aos jornais: Montenegro travou o acesso a mais de 50 imóveis declarados à Entidade para a Transparência, mas diz que só se opôs à divulgação de dados sobre seis. Mas nem só de sociais-democratas se fizeram os últimos dias, também com o Iniciativa Liberal a posicionar-se: agora quer mesmo “despedir quem está a mais” na Função Pública e extinguir empresas públicas sem contas.

Anadolu



O que viu Israel em Teerão, o que fez no Iémen e o que revelam os vídeos de Gaza. Foi com recurso a espionagem tecnológica, e falhas nos telemóveis dos seguranças iranianos, que Israel descobriu uma reunião secreta de líderes iranianos, à qual o Presidente Masoud Pezeshkian viria a sobreviver. Tudo aconteceu em junho, mas só agora se conheceram os detalhes da operação efetuada pelas forças israelitas. A guerra, que começou após o ataque do Hamas - Israel recuperou o corpo de um luso-israelita que se encontrava entre os reféns do grupo terrorista - prossegue no Médio Oriente e acontece em várias frentes. No Iémen, onde os hutis continuam a preocupar Telavive, o primeiro-ministro e outros ministros foram mortos em ataques cirúrgicos. Mas é em Gaza que a situação é mais preocupante. E de onde chegam relatos que contradizem as Forças de Defesa israelitas (IDF): há novos vídeos que põem em causa a justificação de Israel para duplo ataque a hospital que matou jornalistas e socorristas em Gaza.

Frases

“Ninguém vai deixar de estar na oposição por causa do Orçamento, nem nós deixaremos de governar por causa do Orçamento”
Luís Montenegro, primeiro-ministro, na Universidade de Verão do PSD em Castelo de Vide.

“Com 11 fomos claramente a melhor equipa em campo”
Bruno Lage, treinador da equipa de futebol masculino do Benfica, considera que a expulsão de Dedić foi excessiva e que o jogo frente ao Alverca (2-1) mudou a partir daí.

“Se imaginam que posso abandonar as batalhas que estou a travar, que tenho travado há anos e que continuarei a travar depois, estão enganados”
François Bayrou, primeiro-ministro francês, declarou ontem que o que está em jogo no voto de confiança ao seu Governo é o "destino de França” e não o seu.

O que eu ando a ver

“Conan O’Brien Must Go”, na HBO Max
Esteve mais de um ano disponível na Max (plataforma de streaming agora re-rebatizada como HBO Max) até que eu desse por ele. E só tenho pena de não o ter encontrado mais cedo. O programa “Conan O’Brien Must Go”, série de viagens de comédia criada como extensão do podcast “Conan O’Brien Needs a Friend” e do especial “Conan Without Borders”, é um prazer para que gosta do comediante norte-americano de origem irlandesa.

Noruega, Argentina, Tailândia, Irlanda, Espanha, Nova Zelândia e Áustria foram os países visitados nas duas primeiras temporadas. Será Portugal contemplado na terceira temporada? Conan já falou sobre o país no podcast e parece estar à procura de conteúdos para algo maior.

O que eu ando a ler

“Norwegian Wood”, de Haruki Murakami
É o culpado de não ter terminado logo o “Intermezzo” de Sally Rooney, sobre o qual aqui escrevi. Comprei-o no mesmo dia, arrebatado pela capa assinada por Henriette Arcelin (numa edição da Casa das Letras). Foi e veio de férias comigo, imaculado. Agora já lhe peguei.

Neste “Norwegian Wood”, Haruki Murakami conta-nos a história de Toru Watanabe, um jovem estudante universitário em Tóquio nos anos 1960, a lidar com a morte de amigos e a complexidade dos relacionamentos. Toru tem uma relação com Naoko, fragilizada pelo suicídio de seu namorado, mas também se sente atraído pela extrovertida Midori.

Podcasts

Sabe porque é que enjoa no carro? “Se há duas sensações que não estão a bater certo, o nosso corpo acha que foi envenenado” Neste episódio de ‘Consulta Aberta’, Margarida Graça Santos fala com Tiago Eça sobre síndrome vertiginoso e sistema vestibular para nos ajudar a entender as causas das náusea, do desequilíbrio e da tontura.

“Portugal será o único país do mundo em que o Pateta é dobrado por um ator negro. A voz não tem cor”, atira Rui Paulo.Neste episódio do podcast ‘Era Uma Voz’, o último da primeira temporada, Rita Blanco e Rui Paulo submergem-se nas suas recordações de como chegaram ao projeto “À Procura de Nemo”, falam-nos da paixão pelo mar e dos diferentes significados que a família pode adotar para cada pessoa.

Ucrânia: “A guerra mantém-se porque ainda nenhum dos lados acha que os custos são mais elevados do que os potenciais ganhos”. Nesta conversa com Daniel Pinéu, investigador e perito em relações internacionais, combina uma reflexão histórica com uma ponderação política e oferece uma perspetiva crítica sobre o papel das grandes potências e dos mecanismos de justiça global. Oiça as explicações do analista sobre as guerras em curso, em Gaza e na Ucrânia, neste episódio do podcast ‘O Mundo A Seus Pés’.

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