Bom dia!
“Neste momento não sabemos efetivamente quantos bombeiros existem." Pode soar estranha a afirmação, neste tempo de chamas e cheiro a fumo, mas quem o diz é António Nunes, presidente da Liga de Bombeiros Portugueses (LBP). Desde dezembro de 2024 que o Recenseamento Nacional dos Bombeiros Portugueses deixou de estar ativo, pelo que registar efetivos e encontrar a ficha pessoal de cada um - onde constam as suas formações, horas prestadas, promoções, punições, entre outros dados - é tarefa impossível. Como se faz então? "Só por estimativa", explica António Nunes, que ainda assim afirma que a falta da plataforma não afetou o combate aos incêndios... pelo menos ainda.
A seriedade do problema merecia mais, diremos todos, porque a realidade não nos coloca em pódio invejável: Dos 137 incêndios extremos ocorridos na União Europeia entre 2000 e 2022, cerca de um terço foram registados em Portugal, conforme consta no relatório do projeto europeu Fire-Res.
Não nos falta saber as causas, tardamos é em encontrar soluções. Há as alterações climáticas, bem sabemos, e há - para o bem e para o mal - o nosso clima. À exceção da região do Minho, Portugal tem um clima mediterrâneo com verões quentes e secos e invernos amenos e chuvosos, o que associado a uma homogeneidade florestal, cria as condições ideais para incêndios. Não é tudo, claro, porque também temos demasiados eucaliptos. "Grandes explorações para produção de pasta de papel, que são bem geridas", como disse ao Expresso Vanda Acácio, investigadora do Instituto Superior de Agronomia, mas , em simultâneo, várias pequenas propriedade, em especial na região Centro, que estão muito próximas umas das outras e precisam de uma gestão “urgente”: “É muito homogéneo, não há quebras na paisagem e isso em conjunto com o clima, dá uma bola de fogo”.
Com dezenas de incêndios ativos só nesta quarta-feira (eram 43 ao final da noite), o país volta a enfrentar uma crise florestal de grandes proporções. Regiões como Arouca, Ponte da Barca e o Parque Nacional da Peneda-Gerês foram severamente afetadas, e a escassez de meios, nomeadamente aéreos — 72 disponíveis de um total de 79 previstos, segundo a ministra da Administração Interna — volta a levantar duras críticas. Também sem respostas imediatas. Como as bolas de Berlim na praia ou as festas populares nas aldeias, verão é sinónimo de promessas de relatórios para apuramento de "eventuais falhas". Questionada, a ministra Maria Lúcia Amaral, não prometeu nenhum, mas desvalorizou a existência de meios inoperacionais e colocou a tónica na necessidade de "perceber a raiz dos incêndios incontroláveis".
Sobram os hectares ardidos e a aflição dos que sofrem com o fogo à porta. Apontamentos só das últimas horas: na freguesia de Brufe, por causa do incêndio no concelho de Terras do Bouro, os bombeiros tiveram de fazer uma linha de água para proteger pessoas e bens, com as chamas a chegarem a cerca de 200 metros das habitações; cerca de 150 habitantes de quatro aldeias de Ponte da Barca foram retirados das suas casas, por razões de segurança; e mais mais de seis mil hectares ficaram reduzidos a cinzas em Arouca, onde o fogo começou nesta segunda-feira.
Em setembro do ano passado, estava o país a ser varrido por uma vaga de incêndios que consumiram milhares de hectares de área florestal nas regiões Norte e Centro de Portugal, a ausência e o silêncio da então ministra da Administração Interna foram criticados. Quando falou, Margarida Blasco elogiou a “resiliência e força do povo português” e prometeu conclusões para depois dos fogos. "Como sempre, apreenderemos", disse. Mas será que aprenderemos mesmo?
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Investimento - O Governo anunciou um plano de investimento de 4 mil milhões de euros até 2035 para modernização de seis portos, com destaque para o porto de Sines. Espera-se um aumento de 50% no tráfego de carga e vão ser lançadas 15 novas concessões. Será assente em parcerias público-privadas, cabendo aos privados a grande fatia do investimento: cerca de €3 mil milhões.
Sismo - O terramoto que atingiu a península Kamchatka, no extremo leste da Rússia, nesta quarta-feira é um dos maiores de todos os tempos. Com magnitude 8,8 na Escala de Richter, o fenómenogerou tsunamisque deixaram mais de 15 países em quatro continentes em alerta.
Ensino superior - Até à data, o número de candidatos ao ensino superior está bastante abaixo do ano passado. As candidaturas só terminam na próxima segunda-feira, 4 de agosto, mas, por agora e comparando com igual momento do ano passado, serão menos 6500 interessados. Caso se confirme a descida, este será o quarto ano consecutivo a confirmar a tendência.
Presidenciais - Gouveia e Melo já escreveu três textos sobre a forma como vê os poderes do Presidente: imigração, habitação e saúde são os"eixos" escolhidos pelo candidato presidencial, que considera “inadmissível” haver “grávidas a circular entre hospitais para poderem ter os seus filhos".
Diálogo - À boleia do encontro que manteve com o primeiro-ministro, José Luis Carneiro voltou a exigir "respeito institucional" do Governo para com o PS. O Orçamento do Estado para 2026 ainda não foi discutido, mas haverá novo encontro em setembro e a nova Lei da Nacionalidade está na agenda. Aos jornalistas, Carneiro considerou a conversa com o primeiro-ministro como tendo sido “muito construtiva”.
Zelensky - Sob pressão dos manifestantes nas ruas, o Presidente ucraniano mudou de ideias, mas o projeto de lei para restaurar a independência das agências anticorrupção ainda tem de ser aprovado pelo Parlamento. É bom que o seja, defendem politólogos. Caso contrário, a Ucrânia corre o risco de enfrentar novos protestos populares e de ver bloqueado o caminho para a adesão à UE.
Leituras - Para ler nas férias, ou apenas porque são obras a não perder, sugerimos uma lista com 37 “grandes livros”, onde cabem romances, contos e poesia, mas também biografias , ciência, música, fotografia, e banda desenhada. Há títulos para todos os gostos e os mais novos não foram esquecidos.
Supertaça no estrangeiro - Em entrevista à Tribuna Expresso, o presidente da Federação Portuguesa de Futebol admite que continua a considerar a hipótese de a final da Supertaça ser jogada, no futuro, algures fora do território nacional. Onde? Não aponta um país específico, mas Pedro Proença entende que “os nossos emigrantes têm o direito de poder partilhar estas boas experiências”.
Violência em Luanda - A paralisação dos condutores organizada pela Associação Nacional dos Taxistas de Angola deu origem a manifestações populares com violência e pilhagens em Luanda. Até ao momento, há registo de 22 mortos, 197 feridos e 1214 detenções. Este é um texto para perceber como uma greve acabou por originar o caos nas ruas de Luanda
Défice ou excedente? O Estado terminou o primeiro semestre com um excedente superior a €2 mil milhões, calcula a Entidade Orçamental (EO). Porém, foi a receita de IRC que contribuiu decisivamente para que os cofres públicos chegassem a junho com sinal positivo. Um prazo de pagamento mais apertado, face a 2024, para as empresas, fez que entrassem €2,6 mil milhões nos cofres do Estado duas semanas mais cedo. Quinze dias bastaram para fazer a diferença.
Compromisso - Portugal admite reconhecer o Estado da Palestina e compromete-se a trabalhar no “dia seguinte” em Gaza, integrando declaração conjunta de 15 países que defendem a solução de dois Estados e um plano para reconstrução e estabilização da região.
FRASES
"Se [Montenegro] quer o diálogo com o PS, é com o PS que deve dialogar. Vou repetir: se quer diálogo com o PS, é com o PS que deve dialogar"
José Luis Carneiro, líder do PS, após reunião com o primeiro-ministro, em São Bento
“Está a recompensar o Hamas se o fizer. Não acho que devam ser recompensados”
Donald Trump, comentário do Presidente dos EUA ao anúncio feito por Keir Starmer, primeiro-ministro do Reino Unido, sobre a intenção de reconhecer o Estado da Palestina
PODCASTS
Money Money Money - É de números e dinheiro que por aqui se fala, mas também há lugar para temas políticos e sociais O podcast é da responsabilidade da secção de economia do Expresso, e analisa o impacto na nossa vida e nas nossas carteiras de muitas medidas e decisões que vão sendo anunciadas. Esta quinta-feira o episódio dá atenção ao Banco de Portugal e a Álvaro Santos Pereira, o nome escolhido pelo Governo para suceder a Mário Centeno e que vai liderar o banco central a partir de setembro.
Fica por aqui este Curto, lembrando que pode continuar a acompanhar a atualidade online. Tenha um bom dia ou umas boas férias, conforme o caso, amanhã estaremos de volta.