Bom dia,
O que se antecipava como uma viagem tranquila do Almirante Gouveia e Melo rumo ao cargo de Presidente da República poderá, afinal, ser uma jornada de águas mais turbulentas. Segundo a sondagem da Intercampus para JN, CM e CMTV, o último mês trouxe mudanças nas intenções de voto dos portugueses. Em primeiro lugar continua o timoneiro da campanha de vacinação durante a pandemia, mas com 20,6%, em vez dos anteriores 27.3%. Seguem-se, em segundo, Marques Mendes, com 17,2% (menos um ponto percentual que em junho) e, em terceiro, António José Seguro, com mais 5,5% que na última sondagem. Como a margem de erro é de ±4%, os três candidatos estão em empate técnico, o que parece aumentar a probabilidade de uma segunda volta.
Mas a seis meses das eleições presidenciais, marcadas para 25 de janeiro de 2026, o ‘elenco’ ainda não está completo. No dia em que Rui Moreira – que em abril garantiu não estar “talhado” para o cargo” – disse "ponderar seriamente” concorrer a Belém, o Expresso faz o retrato dos candidatos confirmados e eventuais. Na primeira categoria perfilam-se Gouveia e Melo; António José Seguro (sem apoio oficial do seu partido de sempre, o PS); Marques Mendes, primeiro candidato a anunciar as suas intenções, e António Filipe, apoiado pelo PCP.
No banco daqueles que ponderam avançar, encontramos Cotrim Figueiredo, da Iniciativa Liberal; o autarca do Porto, Rui Moreira; António Sampaio da Nóvoa, que em 2016 perdeu na primeira volta contra Marcelo Rebelo de Sousa; André Ventura, que poderá ou não apoiar Gouveia e Melo, e Paulo Portas, ex-líder do CDS-PP. A secção de política do Expresso lembra-lhe ainda aqueles que abandonaram os planos de concorrer e os que correm “na pista de fora”, incluindo a única mulher do naipe, Joana Amaral Dias, do ADN, e o singular Tino de Rans.
Mas ao que vem, afinal, Rui Moreira, que depois do verão deverá confirmar a sua candidatura à presidência? André Manuel Correia traça-lhe o perfil: “Velejador experiente, habituado a ler o vento e a traçar rotas em mar aberto, navegou durante 12 anos as águas da política local. Agora, com o ciclo na Câmara a chegar ao fim, considera apontar a bússola a Belém — uma travessia nacional com bandeira própria e sem rede partidária”.
No terceiro mandato à frente da Câmara do Porto, o autarca de 68 anos usou o seu espaço de comentário na CNN para explicar que aproveitará o verão para fazer uma “reflexão íntima” e reunir apoios. Garantindo ser independente, vai já avisando não acreditar em cordões sanitários: “As pessoas que votam no Chega não têm lepra. Não tenho nenhum problema relativamente a essa matéria”.
Criticado pela opacidade de ideias, o candidato Gouveia e Melo falou esta terça-feira nas Estoril Talks e aproveitou para levantar o véu sobre o seu posicionamento em algumas questões, a saber: a defesa de uma “NATO global” alargada ao Indo-Pacífico; a economia como prioridade e a importância de, caso seja eleito, mostrar um comportamento “adaptativo”.
Ainda na sequência da notícia que marcou o início desta semana – a retirada do currículo escolar das matérias sobre sexualidade –, Rosa Monteiro, ex-secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade, classifica a decisão como “um retrocesso inimaginável” e uma “cedência às forças conservadoras radicais” que estão a fazer “uma cruzada moral contra a escola”.
“Claramente, o Governo tem um grande problema com a sexualidade e quer remeter o assunto novamente para o confessionário”, acusa uma das autoras da Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania até aqui em vigor, ao Expresso.
Terminamos com o adeus de uma lenda: há pouco mais de duas semanas, Ozzy Osbourne subiu ao palco de um grandioso evento em Birmingham, Inglaterra, para se despedir dos fãs de Black Sabbath num espetáculo em que se juntou aos seus antigos companheiros de banda, e em que também atuou a solo. “Não fazem ideia de como me estou a sentir. Obrigado do fundo do coração”, agradeceu, debilitado e emocionado, o vocalista de uns dos grupos que ‘inventaram’ o heavy metal. Esta terça-feira, ao final da tarde em Portugal, a notícia que nenhum melómano queria receber: John Michael Osbourne, Ozzy desde criança, rei de toda uma comunidade musical, morreu “rodeado de amor”, fez saber a sua família. Tinha 76 anos e muitas maleitas, tendo entregado parte das receitas do concerto de despedida a uma associação que ajuda doentes com Parkinson. Na BLITZ, recordamos o único concerto que deu em Portugal, em julho de 2018. Não será esquecido.
OUTRAS NOTÍCIAS
AD e PS empatados Dois meses após as eleições ganhas pela AD, volta a registar-se um empate entre este partido e o PS. Segundo o barómetro da Intercampus de julho, a AD caiu 3% nas intenções de voto, o PS subiu 2% e o Chega volta a ser o terceiro partido mais votado, com menos 1%. A maior subida é do Livre, que ultrapassa a IL.
IRS de verão Os contribuintes que ganhem até €1136 brutos mensais estarão isentos, em agosto e setembro, de retenção na fonte, podendo esperar um salário líquido maior nesses dois meses. Os escalões mais baixos serão os mais beneficiados.
Loures O presidente da Câmara Municipal de Loures, Ricardo Leão, afirmou na SIC Notícias que há uma "teia criminosa" de "comercialização de barracas" no bairro do Talude Militar e acusou o movimento Vida Justa de “prejudicar e manipular” quem lá vive.
Greve do INEM Um homem de 86 anos, vítima de enfarte agudo de miocárdio, é o novo caso fatal associado a demoras durante a greve dos técnicos do INEM, em 2024. O paciente de Bragança esteve 1h20 à espera de socorro, revela a Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), contrapondo que o risco de morte foi agravado pelos antecedentes cardiovasculares do idoso. Para a contestada ministra da saúde, Ana Paula Martins, "Tirar consequências políticas de situações semelhantes às passadas significa resolver os problemas e não atirar a toalha ao chão.”
Banco de Portugal O ministério das Finanças vai pedir uma auditoria à Inspeção Geral de Finanças sobre a polémica que envolve a nova sede do Banco de Portugal. Em causa está o contrato-promessa de compra e venda de um edifício nos terrenos da antiga Feira Popular, em Lisboa, à seguradora Fidelidade (detida pelo grupo chinês Fosun).
Lei dos Estrangeiros O Presidente da República vai enviar a Lei dos Estrangeiros para o Tribunal Constitucional. Marcelo Rebelo de Sousa estará a analisar esta lei, que introduz limitações ao reagrupamento familiar, prevendo que algumas das questões se colocarão também nas alterações à Lei da Nacionalidade.
Fome em Gaza 21 crianças morreram de desnutrição e fome em Gaza nos últimos dias, disse à BBC o diretor do hospital Shiva. Ontem, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros exigiu que a imprensa possa entrar em Gaza para mostrar ao mundo o estado das coisas, após 21 meses de guerra. Entretanto, a ONU acusou Israel de matar em Gaza, desde final de maio, mais de mil pessoas que tentavam obter ajuda.
Benfica District A promessa eleitoral de Rui Costa, presidente do SLB e candidato à reeleição, é um Estádio da Luz renovado e ampliado, com três pavilhões, piscina, teatro, hotel e praça com DJ.
Frases
“Não estou para passar cinco anos da minha vida a olhar para o ar e a fingir que as coisas estão bem, quando as coisas não estão bem. Não venho de nenhuma estrutura partidária. Nem tive experiências partidárias”
Henrique Gouveia e Melo, candidato à Presidência da República, nas Estoril Talks
“Sou deputada há anos suficientes para saber que o chão comum que nos unia foi quebrado. Já está. Todos os dias a banalização da negação do Estado direito assume tantas formas e tão grotescas, que a reação e o combate pela reconstrução do que já fomos (…) é um caminho desequilibrado”
Isabel Moreira, no Expresso
“A única alternativa à segregação, que permite trabalho escravo e sem direitos, é um tipo de integração que a extrema-direita nunca aceitaria para os emigrantes portugueses espalhados pelo mundo: não trazem família, não exibem a sua religião, não têm qualquer tipo de expressão cultural e prescindem de todos os direitos sociais e políticos. Não é integração. É subjugação passiva”
Daniel Oliveira, no Expresso
“Quando não se esforçam para educar jovens e crianças para papéis igualitários entre homens e mulheres, os políticos perdem o direito a vir chorar para as TV a respeito do aumento de casos de violência doméstica ou da incidência de doenças sexualmente transmissíveis”
Nelson Nunes, em Comunidade Cultura e Arte
Podcasts
No podcast “45 Graus”, Luís Bettencourt, doutorado em Física Teórica e especializado em “ciência das cidades”, alerta: “Em Singapura, 85% das pessoas vivem em habitação social. Deixas de ter estigma social porque a maior parte das pessoas usa o sistema”. Para ouvir aqui.
À conversa com Daniel Oliveira no podcast “Perguntar Não Ofende”, o humorista Bruno Nogueira reflete: “O humor tem poder. Não o poder de mandar abaixo um Governo, não o poder de fazer com que o Chega não suba. É um tipo de poder mais cruel”.
No podcast “Consulta Aberta”, a nutricionista Conceição Calhau explica: “O nosso relógio biológico responde à luz, mas também à entrada de alimentos. Comer de noite é como ligar as luzes das células”.
Como poupar dinheiro no crédito habitação? Conheça as dicas de Pedro Andersoon, no podcast “Contas Poupança”.
O que ando a ler
“Annie John”, Jamaica Kincaid (Penguin)
Poucas coisas serão mais gostosas do que estar de férias e ter tempo para, por fim, pegar num dos livros que clamam pela nossa atenção, na estante ou na mesinha de cabeceira. Na última semana, aproveitei a pausa de verão para mergulhar em “Annie John”, primeiro romance de Jamaica Kincaid, originalmente editado em 1985 e lançado em Portugal no ano passado.
Sobre os temas do livro, que acompanha a transição de uma menina para a adolescência, nas Caraíbas de meados do século passado, muito foi já escrito, inclusive nas páginas do Expresso, onde José Mário Silva louvou a forma como o leitor é transportado “para as exultações, agruras e angústias do crescimento psicológico, (…) com excelente tradução de Alda Rodrigues”.
Mas, em tempo de férias, torna-se ainda mais saboroso atravessar as camadas de “Annie John”, uma história que se desenrola com vagar numa ilha tropical e na qual, além das leituras possíveis – feminismo, colonialismo, tensões familiares, pistas autobiográficas – é fascinante descobrir novas cores, frutas, iguarias e sensações. Uma prova cabal de que ler nos permite viajar, neste caso no tempo e no globo terrestre, até à Ilha de Antígua, onde também Elaine Richardson, nome civil da escritora Jamaica Kincaid, nasceu há 76 anos.
Tenha uma excelente quarta-feira e continue a acompanhar-nos em Expresso, Sic, Blitz e Tribuna.