Newsletter Expresso Curto

Cada um por si, mas a Ucrânia precisa de todos juntos

Ursula von der Leyen e Emmanuel Macron na reunião de urgência em Paris
TERESA SUAREZ/Lusa

Bom dia,

Há três anos, no dia 24 de fevereiro, acordei com a melhor notícia do mundo: ia ser mãe. A minha felicidade esvaneceu-se quando liguei o telemóvel e percebi o contraste absoluto e doloroso para com aqueles que estavam a chorar os mortos dos primeiros bombardeamentos de uma guerra que já leva quase três anos. Quase ao virar de mais um ano de ataques russos à Ucrânia, a Europa, que se manteve sempre na linha da frente da vontade de ajudar os ucranianos, é posta de parte e alguns ainda lutam contra a ventoinha.

Esta segunda-feira, depois do toque de chamada do presidente francês, Emmanuel Macron, os líderes europeus tentaram não ficar fora das soluções, no rescaldo da mais importante cimeira de segurança que terminou com a terrível sensação de que ficámos mais inseguros do que quando começou. O poder negocial e de influência não reside apenas na força de vontade – e nem todos querem o mesmo – e choca de frente com a vontade de outros, como ficou bem explícito no discurso de JD Vance.

Os tempos de encruzilhada em que vivemos, quase que como numa repetição lamentável de vários acontecimentos do século passado, pedem líderes à altura e, se nos Estados Unidos sabemos que elevação não é o bem reconhecido a Donald Trump, na Europa, tal como o bom senso, sabemos que a elevação também é rara e mal distribuída. Aconselho este artigo do Hélder Gomes para entender um pouco melhor o que saiu de Munique. Depois da coincidência temporal com a invasão da Ucrânia e a morte de Navalny, o mais importante fórum para políticas de segurança, que terminou domingo, trouxe novas rimas com uma História mais recuada. O futuro da Ucrânia no pós-guerra será discutido com as falhas de um acordo e uma conferência com oito décadas? E a UE ficará como “espectador irrelevante”, com a Rússia e os Estados Unidos na dianteira?

Sobre este assunto, aconselho ainda a leitura deste artigo do Henrique Burnay: “O Vice-presidente dos Estados Unidos da América veio a uma conferência sobre segurança, na Europa, e não falou uma única vez da NATO, da Ucrânia ou dos adversários comuns. Escolheu falar do wokismo. Quem o aplaude, ou não percebe o significado, ou percebe e é cúmplice”.

Perante a posição unilateral dos EUA, Macron tentou dizer que depois de Munique teremos sempre Paris. Teremos? A reunião de líderes europeus na capital francesa para entender em cinco perguntas e respostas: acabou a cooperação com os EUA em relação à Ucrânia?

À saída da reunião, António Costa e Ursula von der Leyen quiseram mostrar que na cúpula europeia há união, pelo menos nas palavras, e escreveram a mesma mensagem na rede social X, defendendo que a Ucrânia merece “uma paz que respeite a sua independência e integridade territorial, com fortes garantias de segurança. A Europa assume plenamente a sua quota-parte na assistência militar à Ucrânia", defenderam, assumindo que tem de haver um aumento da despesa com defesa na Europa.

Um debate que tem tomado os líderes europeus nas últimas semanas. O mais vocal tem sido o secretário-geral da NATO, Mark Rutte. Os objetivos nacionais também se vão adaptando. Sobre este assunto, recomendo-lhe ainda estes textos já com algumas semanas do Vitor Matos: este, este e este.

Como sempre, os países europeus andam à procura de uma fórmula mágica, como nos conta a correspondente do Expresso e da SIC em Bruxelas, Susana Frexes. A Alemanha quer maior margem orçamental (e nacional) para investir em defesa. Bruxelas ainda à procura de uma fórmula mágica.

A dificuldade europeia não é apenas serem 27 vontades, mas agora e cada vez mais a existência de forças exteriores que pretendem dividir ainda mais para reinar. A União Europeia, que já recebeu o Nobel da Paz, passa por um dos momentos mais definidores da sua história. Esperemos que se façam grandes os nossos líderes.

Outras notícias

📈 A terra tremeu ontem com algum impacto na zona da Grande Lisboa. Com epicentro no mar, a 4km da praia da Fonte da Telha, em Almada, o sismo de 4,7 na escala de Richter deu-nos assunto para o resto da tarde. Mas o que importa saber é que, apesar de não ter sido muito forte, foi bastante próximo de uma zona muito habitada, como nos conta a Carla Tomás.

O abalo sísmico fez o presidente da Câmara de Lisboa ter um abalo político. O PS criticou-o pelo atraso na criação de uma aplicação sobre sismos que tinha prometido no anterior tremor de terra, e Carlos Moedas sentiu-se. Sem mortes ou feridos a contabilizar, considerou que as críticas nesta altura eram de “baixo nível”.

💙 O mundo tem coincidências raras e, enquanto a terra tremia em Lisboa, o Porto homenageava o “presidente dos presidentes”, Jorge Nuno Pinto da Costa. “É como se a cidade perdesse o avô”: dentro do último adeus a Pinto da Costa, “o grande herói do Porto e dos nortenhos”

Frases

Na Alemanha do regime nazi, uma pessoa com deficiência era vista uma aberração e, por isso, era indigna de viver. Não é tempo para os paninhos quentes do PAR, é agora que é preciso dizer basta! A conversa da tasca é uns furos bastante acima daquilo a que temos assistido no Parlamento”
Paulo Baldaia, no Expresso sobre os insultos à deputada Ana Sofia Antunes

“O abandalhamento do Chega não é estilo, é programa. Serve para degradar as instituições e intimidar adversários”
Daniel Oliveira, no Expresso também sobre o mesmo tema

Quando achamos que o Chega não é capaz de nos surpreender mais na indignidade, na lama em que se banha, na indecência, na grosseria, na alarvidade, na falta de decoro e no desrespeito por valores básicos civilizacionais, eis que mergulha ainda mais no fundo
João Costa no Expresso, sobre os insultos e a necessidade de uma intervenção de José Pedro Aguiar-Branco

“Os portugueses que veem o que se passa na Assembleia da República, façam o seu juízo sancionatório, e que perante aquilo que são as condutas e atuações dos seus representantes, façam pelo voto a censura relativamente a esse tipo de práticas
José Pedro Aguiar-Branco, presidente da Assembleia da República insta os partidos a decidirem sobre alterações ao regimento

Podcasts

🎙️ A primeira remodelação de Montenegro é o tema da Comissão Política desta semana, o podcast da secção de política do Expresso, onde também se discute o mais recente caso relativo ao primeiro-ministro.

🎙️ 🎙️ Expresso da Manhã. Paulo Baldaia fala com o editor de internacional do Expresso, Pedro Cordeiro, sobre a reunião de Paris. Negoceia-se a paz mas o que se ouve são os tambores da guerra. Moscovo e Washington discutem em Riade o futuro da Europa.

🎙️🎙️🎙️ No episódio mais recente de O Futuro do Futuro, João Miguel Salvador conversa com o engenheiro ambiental Tiago Lagoa sobre como as novas tecnologias estão a impulsionar a sustentabilidade, enfrentando desafios como as mudanças climáticas e a perda de biodiversidade.

O que ando a ler

Sou fã desses dois grandes autores da literatura sul-americana, Vargas Llosa e Gabriel Garcia Marquéz, e talvez por isso tenho muita tendência para procurar autores e romances com sabor a América Latina. O ano passado embrenhei-me na leitura do colombiano Juan Gabriel Vásquez e, depois de ler “O barulho das coisas ao cair”, iniciei no final do ano “Os informadores”. Este último tem a vantagem de juntar outro fascínio: a forma como o mundo lidou no pós-Segunda Guerra Mundial com aqueles que se debateram com dilemas morais, como enterraram muitas vezes os sentimentos de culpa em camadas de desculpabilização. Como os seres humanos foram abandonando a memória para poderem continuar a viver. No final deste livro questionamo-nos o que teríamos feito, pomo-nos no sapato do outro: “E se?”. Porque o homem é o que é, mas também a sua circunstância e a linha entre o certo e o errado é muito vezes mais difusa do que queremos aceitar. Uma boa leitura para o tempo em que vivemos.

Muito obrigada por ter estado por aí. Desejo-lhe uma óptima terça-feira. Vamos dando-lhe o essencial das notícias do dia em expresso.pt