Bom dia,
Começo por lhe fazer um convite: hoje, às 14h00, "Junte-se à Conversa" com David Dinis e Diogo Pombo para falar sobre "Futebol: balanço de época e o europeu". Inscreva-se aqui.
Na guerra só se morre uma vez, mas na política pode morrer-se várias vezes. Veio-me à cabeça esta ideia atribuída a Winston Churchill no dia de ontem, tão rico em notícias sobre várias vidas políticas, umas mais importantes do que outras.
Começo pela mais impactante. É incontornável falar do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, que ontem esteve em Lisboa. Zelensky é imparável a tentar arrecadar apoios para a Ucrânia e em 48 horas esteve em três países. Conseguiu 30 aviões F-16 na Bélgica e de Portugal levou a promessa de 126 milhões de euros de ajuda. É um trabalho de formiguinha para um político que tem tantas vidas quanto um gato. Em Lisboa, depois de encontros com Marcelo Rebelo de Sousa e Luís Montenegro, deixou uma frase que ilustra o cansaço e desespero de um povo que tem de pedir ajuda para resistir a um invasor: “A ajuda nunca mais vem, mas os mísseis vêm todos os dias”. É um texto da nossa jornalista Ana França, que esteve em reportagem na Ucrânia no início da guerra e que tem um livro, que não queria perder a oportunidade de recomendar. “Ali está o Taras Shevchenko com um tiro na cabeça”.
Num outro patamar – de longe comparável –, o dia de ontem mostrou a resistência de um outro homem. Na política não há muitas mortes definitivas (até o serem) e para aqueles que achavam que desta é que era, desenganaram-se e foi “cada um para sua casa”: Miguel Albuquerque vai ser mesmo indigitado esta quarta-feira como presidente do Governo Regional da Madeira. Por mais escaldado que esteja com o estatuto de arguido num caso judicial, por mais ferido que tenha saído das últimas eleições, ainda foi o primeiro a cortar a meta nas eleições de domingo e a sobreviver politicamente. Resta saber por quanto tempo. Tem 30 dias para negociar a sua entrada em funções e conseguir quem lhe aprove o programa de governo.
Os ciclos viram e o tempo vai moldando as circunstâncias. Mas tempo é o que o Governo parece saber que tem pouco. Esta quarta-feira, novo Conselho de Ministros, desta vez para apresentar o programa de emergência para a saúde, com pedidos para que não agrave a saída de médicos do SNS. O executivo está a dar tudo até às eleições europeias.
A luta pela sobrevivência na política nacional está a atingir os píncaros e os principais protagonistas puseram-se nas mãos dos seus candidatos às europeias, mas uns põem-se mais do que outros. Montenegro e Pedro Nuno Santos já apareceram na campanha logo a abrir e lá voltarão; Ventura de lá não sai.
Notícias da campanha
Primeiro que tudo, deixo-lhe a sugestão de leitura do primeiro de uma série de ensaios sobre o futuro da União Europeia de vários especialistas, a convite do Expresso. O primeiro é de Henrique Burnay e tem como título: “O futuro da Europa — A vacina contra os extremos”.
Ontem foi noite de debate com os oito partidos com assento parlamentar e foi quente. Pode ler aqui o resumo: “A guerra não é uma festa e o ódio não vencerá: relato de um debate a 8 em 5 capítulos”
Na análise dos comentadores do Expresso, Catarina Martins e Cotrim Figueiredo levaram a melhor num debate em que Marta Temido confirmou que tem vindo em crescendo e Sebastião Bugalho cometeu um erro: “A experiência conta: a avaliação dos comentadores do Expresso ao debate a 8”.
O que se passou no segundo dia de campanha:
- André Ventura é quem menos se põe nas mãos do candidato: Ventura, o cabeça de cartaz que esconde o cabeça de lista: líder ignora candidato ausente, do Vítor Matos;
- O dia do BE foi dedicado à Palestina: "Não podemos ter armas europeias a contribuir para genocídio": Catarina Martins critica "cinismo insuportável" e exige sanções a Israel, da Margarida Coutinho;
- O PCP tentou apanhar o comboio e não conseguiu. Comboios suprimidos dão boleia à mensagem da CDU: é preciso travar os bloqueios da UE, da Cláudia Monarca Almeida;
- Na campanha da Iniciativa Liberal, Cotrim de Figueiredo retomou as aulas: Cotrim voltou a vestir fato de gestor e deu uma aula de economia: “É preciso dar ao mercado único de novo um papel central”, da Liliana Coelho;
- Catarina Martins e Cotrim Figueiredo levam dias a trocarem acusações. BE e IL disputam eleitores: liberais acusam BE de ser “eurosonso”, bloquistas que Cotrim ajudou a vender vistos Gold.
Outras notícias
- Já há bancos a descer o crédito à habitação para 0,7%.
- Caso das gémeas: quase todos querem ouvir o filho do Presidente, só Bloco, IL e Chega chamam Marcelo.
- Número de greves é o mais alto desde a crise de 2013.
- O aquamanil que esteve para ser classificado foi vendido, mas fica em Portugal.
- Reino Unido vai a votos: seis perguntas e respostas sobre eleições que prometem ser históricas.
- Uma entrevista ao ministro do Trabalho do salário mínimo, no ano em que este direito faz 50 anos: "Avelino Gonçalves, antigo ministro do Trabalho: “O maior obstáculo foi o preconceito em melhorar a vida dos trabalhadores”.
O que ando a ler
O livro só sairá em julho, mas o número da revista “Atlantic” deste mês já nos dá um cheirinho do que será o próximo livro de Anne Applebaum. O extenso artigo na revista fala-nos daqueles que gostam pouco ou nada da liberdade e de como esses estão a conseguir ganhar a “guerra da propaganda”. Sabemos que as democracias estão sob ataque um pouco por todo o mundo e os que querem restringir as liberdades e direitos usam as mesmas táticas para as desacreditar. A comunicação social é um dos primeiros alvos, para que seja mais fácil a confusão entre a verdade e a mentira. O caos nas instituições, o alarme social, redes sociais com um algoritmo que facilitam a propagação de ódio e a focalização em determinados assuntos, realidades alternativas. Vale muito a pena ler o artigo, na esperança que nos possa dar armas para fazermos o que pudermos para defender o regime.
Podcasts do Expresso para ouvir
🎙️ No Expresso da Manhã, o Paulo Baldaia conversa esta manhã com o editor de internacional do Expresso, Pedro Cordeiro, sobre o reconhecimento do Estado da Palestina feito por alguns países de forma unilateral e pelo facto de Portugal travar a fundo. Se não é oportuno, de que vale defender a solução de dois estados sem reconhecer a Palestina?
🎙️ Ainda só há o trailer, mas vale a pena. Guilherme Geirinhas regressa às conversas políticas com candidatos às europeias na nova temporada de 'Bom Partido', em podcast
Este Expresso Curto termina aqui. Seguimos no Expresso online. Tenha uma excelente quarta-feira.