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A coragem de uma desistência e um sinal de "desagravamento"

Bom dia.

A notícia já não faz soar as campainhas de última hora, mas não há título da imprensa internacional que não lhe dê destaque. A surpresa de Tóquio promete pôr o mundo a discutir, como nunca foi feito, os problemas dos atletas de alta competição, sujeitos a pressões inimagináveis para corresponder às expectativas.

Simone Biles está na capa de todos os jornais.

A melhor ginasta do mundo, diz o El Pais, sofreu uma crise de ansiedade. O problema, acrescenta a Folha de São Paulo, começa bem cedo na infância quando, em vez de se divertirem, as crianças/atletas já são sujeitas a altos níveis de pressão. O Washington Post destaca a grandeza de saber dizer não em momentos decisivos.

Foi isso que a ginasta norte-americana fez esta terça-feira, naquela que foi até agora a maior surpresa dos jogos de Tóquio. Depois das cinco medalhas no Rio de Janeiro, Simone Biles tinha poucas adversárias à altura e uma expectativa alta pela frente. Talvez demasiado alta. A atleta medalhada desistiu no fim da primeira prova da competição de ginástica artística por equipas.

As primeiras informações indicavam que podia tratar-se de uma lesão, mas mais tarde
a própria Simone reconheceu, coisa rara, enfrentar problemas de equílibrio mental. Sem a principal estrela, a equipa norte-americana não conseguiu revalidar a medalha de ouro que ficou nas mãos das ginastas russas.

Esta manhã, a jovem norte-americana decidiu também não participar na final individual do all around. Uma desistência que a Federação de ginástica dos Estados Unidos diz apoiar “com todo o coração”.

Há outra vedeta que perdeu o palco das medalhas. A tenista japonesa Naomi Osaca
não passou da terceira ronda do torneio olímpico. Também ela a admitir que não conseguiu reagir bem às altas expectativas.

Nunca como nos últimos tempos de falou tanto de saúde mental, o SOS de Tóquio é mais um importante contributo para os dias que correm.

O CERCO À PANDEMIA


Se depender dos especialistas, vamos assistir ao alívio gradual das medidas atualmente em vigor para combater a covid-19.

A hipótese já se aguardava. A confirmação surgiu sob a forma de um plano com quatro fases, delineado para se ir atualizando a par da evolução do processo de vacinação.

Os peritos do Infarmed colocam, por agora, o país no primeiro nível, com 52% da população vacinada com as duas doses e alinham a entrada em vigor da segunda fase quando a vacinação completa atingir os 60%.

O que não impede que defendam de imediato que algumas limitações horárias na restauração deixem de vigorar. E há outras mudanças que aqui projetamos.

O coordenador do processo de vacinação continua a prometer ritmo acelerado pelo verão dentro, para garantir o cumprimento das metas. E sugere uma mudança na administração das doses: três semanas de distância, em vez das tradicionais quatro. Chegar aos 70% da vacinação completa no final de agosto é o objetivo que continua em cima da mesa.

A intenção de Gouveia e Melo depende do aval da DGS que tem ainda outras questões a que responder. A vacinação dos mais jovens que começa a 14 de agosto, vai ou não abranger os menores entre os 12 e os 15 anos? Já sabemos que a resposta é sim, se se tratar de alguém com doenças de risco, mas há quem defenda que o processo deve ser geral. Para os jovens de 16 e 17 anos, já está tudo a postos para a vacinação em agosto.

Há uma hipótese de evento-teste no terreno já no próximo fim de semana. A ministra da Saúde admite que a final da Supertaça em Futebol possa vir a ter público no estádio de Aveiro. Desde que “as regras de segurança sejam cumpridas”.

As alterações, defendidas pelos especialistas, encaixam na leitura de um assumido “irritantemente otimista” Marcelo Rebelo de Sousa, que tem vindo a defender uma mudança na matriz de risco com base na leitura de diversos fatores. O Presidente gostou do que ouviu no encontro dos políticos com os especialistas, mas não deixou escapar sete reparos.

Esta quinta-feira sabemos, depois do Conselho de Ministros, de que forma o Governo acolhe este plano dos especialistas com os quais não se reunia há dois meses. O Governo, já disse António Costa, ainda não decidiu.

Porque é de contas e números que se vai fazendo o balanço da covid em Portugal, convém não perder de vista a contabilidade das últimas 24 horas: 6 mortos e 2316 novos casos de infeção. E ainda (as boas notícias!) há mais de cinco mil doentes recuperados, o número mais alto em quatro meses e meio.

OUTRAS NOTÍCIAS


Coligação negativa leva a aprovação do relatório final da comissão do Novo Banco. Os sete deputados do PS ainda votaram contra o texto que teve como ponto de partida um trabalho do socialista Fernando Anastácio, mas não conseguiram impedir a aprovação da maioria. Com as alterações aprovadas, o resultado final do documento afastou-se da versão original, o que levou o PS a falar em “ataque partidário”. O texto inclui criticas à atuação dos Governos PSD/CDS e PS (apesar de ter sido aprovado pelos sociais democratas) e não esquece o papel de entidades como o Banco de Portugal ou o BCE ao longo dos últimos anos. António Ramalho, o gestor, também não é poupado. Vale a pena ler o artigo do Diogo Cavaleiro para compreender os bastidores da comissão e perceber as motivações de uma comissão que acabou sem relator e quebrou a unanimidade que existiu nas últimas duas votações das comissões ao sector bancário.


Fumo branco na Concertação Social. Há acordo entre Governo, patrões e UGT sobre a formação profissional. “Um sinal de desagravamento”, escreve a Rosa Pedroso Lima, a lembrar as criticas duras que Carlos Silva fez na semana passada a António Costa. O primeiro-ministro vai estar presente esta quarta-feira na assinatura do novo acordo.

Partidos em Belém. O PCP diz que não se deve confundir as eleições autárquicas com as negociações do Orçamento do Estado e faz depender a estabilidade política do combate à precariedade laboral. O BE assegura que as prioridades em matéria de OE são as mesmas que defendeu no ano passado. O CDS quer menos impostos: IRC com cortes, IRS com menos escalões e taxas mais baixas. Ideias gerais que os partidos deixaram aos jornalistas depois de audiências com o Presidente da República. Rodrigues dos Santos, o líder centrista criticado internamente, responde que é nas autárquicas que a sua liderança deve ser julgada.

A homenagem a Otelo. Marcelo Rebelo de Sousa recorre às mesmas palavras que Ramalho Eanes utilizou para se referir a “uma figura proeminente da História de Portugal”. À entrada para o velório do antigo capitão de abril, o presidente passou para o Governo a responsabilidade pela decisão de não decretar luto nacional, mas fez questão de lembrar outros exemplos, no passado, em que a decisão também não foi tomada. António Costa pega na deixa para assegurar que as homenagens podem assumir “formas múltiplas” e que há memórias perante as quais “o Estado se curva”. Ferro Rodrigues já veio dizer que “respeita a decisão” do Governo. Catarina Martins, líder do BE, lamenta que não tenha sido decretado o luto nacional. Para esta quarta-feira está marcado o funeral.

O peso histórico (para o bem e para o mal) de Otelo Saraiva de Carvalho e as reações que a sua morte suscitou não passaram ao lado do episódio desta semana da Comissão Política do Expresso. Que discutiu ainda, como não podia deixar de ser, as mais recentes sondagens e não perdeu de vista os efeitos do debate do Estado da Nação. Volto ao tema mais abaixo, como vai perceber, com a tradicional lista de sugestões de podcasts que não vai querer perder.

Há já quem fale na necessidade de um Orçamento Suplementar. As dívidas do SNS aos fornecedores crescem a um ritmo de quatro milhões de euros aos dia. O Conselho Estratégico Nacional da Saúde fez as contas e chegou à quantia global de 605,4 milhões de euros. Um volume de dívidas em atraso que leva as associações do setor a considerar que “não é aceitável que o Estado e o SNS se financiem nos fornecedores”.

500 Vagas no ensino superior para alunos de escolas situadas em zonas desfavorecidas. A medida governamental, escreve o Público, entra em vigor no ano letivo de 2022/23.

Perturbações na circulação de comboios. A previsão é da CP que deixa o aviso para durar até 15 de setembro. Em causa, a realização de diversas greves.

Lucros a descer. Falamos da EDP renováveis mas também do banco Santander. Dados desta manhã.

Otimista, mas não demasiado. O FMI reviu em alta o crescimento mundial para 2022, mas deixa o alerta para as nuvens que encontra no horizonte.

A primeira condenação em Hong Kong ao abrigo da nova Lei de Segurança Nacional. A sentença ainda não foi lida, mas um cidadão de 24 anos arrisca uma pena de prisão perpétua, que nunca foi aplicada, pelo crime de “terrorismo e incitação à secessão”.


OS PORTUGUESES EM TÓQUIO

À hora que vos escrevo, ainda não foi desta que o desporto nacional chegou à medalha
, mas temos bons resultados para conferir. Nas meias-finais dos 200 metros mariposa, a estreante Ana Catarina Monteiro fez o terceiro melhor tempo de sempre, apesar de não ter passado à final da prova. No surf, Yolanda Hopkins Sequeira
ficou em quinto lugar e tem esperança que esse resultado lhe abra as portas para uma carreira que não tem sido fácil. Nos cavalos, a equipa portuguesa de Rodrigo Torres ficou em oitavo na modalidade de dressage. Já no andebol, Portugal perdeu esta madrugada por um ponto com a Suécia (29/28) e adiou o apuramento para a fase seguinte. Todos os resultados para conferir aqui ao longo do dia.


FRASES

Eu agora também estou, como diz o senhor primeiro-ministro, um bocadinho irritantemente otimista, houve aqui uma ligeira inversão de posições” – Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República na reunião do Infarmed

Obviamente, o Estado curva-se perante a memória de Otelo”- António Costa, primeiro-ministro, à margem do velório de Otelo Saraiva de Carvalho

Não temos mais tempo para discutir dúvidas. Temos de nos preparar para vários cenários e alguns podem ser francamente maus” - Miguel Miranda, presidente do IPMA num debate sobre alterações climáticas


O QUE ANDO A LER

Amesterdão, 1941. Em tempos de ocupação nazi, o dia-a-dia de uma população faz-se de muitos sacrifícios, sorrisos amarelos, palavras e silêncios muito ponderados.

Oito décadas depois, o livro de que vos falo hoje, um romance apoiado em factos reais, procura traçar um retrato da relação da população holandesa com o invasor alemão. Mas vai muito além dessa avaliação aparentemente simples.

Foram tempos de cumplicidades em que amizades deram lugar a delações e rivalidades num perigoso jogo pela sobrevivência num país que ainda mal conseguiu digerir os anos de invasão da Alemanha nazi.

Há pouco mais de um ano, o primeiro-ministro holandês pediu desculpas, em nome do Governo, pela perseguição e deportação de judeus que viviam na Holanda durante a segunda guerra mundial. Foi na véspera dos 75 anos da libertação do campo de extermínio Aushwitz-Birkenau.

Dos 140 mil judeus que viviam no país, apenas 38 mil sobreviveram. São dias de uma dureza extrema, mas também de profundo altruísmo, que revisitamos ou descobrimos em “Uma janela com vista sobre os telhados”, um romance de Suzanne Kelman, baseado em factos reais. A argumentista premiada que se fez escritora (ou terá sido ao contrário?) obriga-nos a refletir sobre o nosso papel no mundo.


PODCASTS A NÃO PERDER

⛵🌴 Costa e Medina podem ir para férias descansados? O prometido (mais acima) é devido. A análise na Comissão Política da sondagem do Expresso para a Câmara de Lisboa, que dá uma vantagem tranquila a Fernando Medina, e o estado desta nação que vai de férias. Pode António Costa ir beber cocktails despreocupado?

💸 Zangam-se as comadres, sai um relatório com (quase todas) as verdades O relatório da Comissão de Inquérito ao Novo Banco foi aprovado pela oposição e não poupa nem o Governo do PSD/CDS, nem o Governo do PS, nem os governadores do Banco de Portugal e as instituições europeias. Só escapam os deputados. Um Expresso da Manhã a não perder

🎬 Ganhou a Palma de Ouro em Cannes e é um filme de body horror Segundo Rui Pedro Tendinha, 'Titane' é a obra francesa mais exaltante dos últimos anos. Mas Cannes teve também momentos menos felizes: o erro do realizador Spike Lee ao revelar o filme vencedor da Palma de Ouro antes do tempo e 'Bergman Island' de Mia Hansen-Løve. Ouça o magazine de cinema CineTendinha

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Tenha uma excelente quarta-feira e, se for caso disso, umas boas férias!