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Eis os grandes devedores da banca: diga 128!

Aí está a lista. Depois de uma batalha jurídica com o Parlamento, o Banco de Portugal, BdP para os mais chegados, lá divulgou a lista daqueles que ficaram conhecidos no jargão parlamentar como “os grandes devedores da banca”.

Qualquer pessoa que tenha cruzado a pátria nos últimos anos sabe do que estamos a falar, tantas foram as comissões de inquérito, as acusações políticas, as crises bancárias e, já agora, as ajudas do Estado, numa história que não parece ter fim.

Ora, se ainda não tem fim à vista –a reestruturação do Novo Banco está nas mãos do implacável Lone Star e ainda há contas a emitir… - agora já temos uma lista cheia de… códigos. Isso mesmo, como BdP entende que não pode divulgar nomes (e tem a lei do seu lado), atribuiu códigos. Mais precisamente 128.

Assim mesmo, os nossos devedores são como os agentes secretos de sua majestade. Não sei a quem calhou o 007, mas o nosso conhecido Álvaro Sobrinho e o seu Banco Espírito Santo Angola, o famoso BESA, são o 130. Neste momento, o leitor mais atento perguntará: mas se são 128 como é que há 130?

Bem perguntado, é que a lista tem dois números em branco. E se esse portento dos desastres bancários que dá pelo nome de BESA levou o 130 (com perdas de, segurem-se, 2,9 mil milhões de euros), o Estado grego, detentor da medalha olímpica das contas marteladas, tem o dorsal 112 e levou a perdas por causa dos investimentos na sua dívida pública por parte do BPI e do BCP.

Neste ponto, convém lembrar que estes dois bancos pediram ajuda ao Estado mas pagaram juros com língua de palmo e devolveram o capital. Um caso bem diferente da Caixa, que teve brutais aumentos de capital, do BES/Novo Banco, que nos explodiu nas mãos, ou do BANIF. Já para não falar do nosso velho conhecido BPN e do pequeno BPP.

A lista dos 128 é longa, com muitos quadros e difícil de perceber. Mas é um retrato, mais um, bastante preciso dos desmandos, sortes e azares dos anos em que se emprestava sem grande lógica ou garantias,

E agora, a pergunta que todos fazem. Mas qual é o número de Joe Berardo? Não se sabe. Podemos, no entanto, imaginar um pequeno diálogo no Parlamento entre Mariana Mortágua e o nosso comendador preferido:


M.M. - Então diga-me lá qual é o seu código na lista dos grandes devedores do BdP?
Joe B.Ó minha querida, eu, pessoalmente, não tenho códigos.
M.M.É que, lendo a lista, eu diria que o 012 lhe assentava como uma luva. Sempre são umas centenas de milhões na Caixa.
Joe B.Não sei, não faço a mínima ideia, a mim é que me devem dinheiro. Já agora, sabes qual é o código do Jardim Gonçalves? Ele é que me deve muita massa.

Pronto, já violei várias regras formais e estilísticas do Expresso Curto. Prometo ser mais enxuto nas linhas que se seguem. A atualidade que me ajude.

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Já ouviu falar em investir em obrigações ligadas ao aumento do número de rinocerontes? Parece estranho, mas as Rhino Bonds (obrigações rino) são o primeiro instrumento financeiro do género. Segundo o Financial Times, os investidores apostam em projetos de proteção da natureza em alguns países africanos com o objetivo de proteger e aumentar o número de rinocerontes. Lucram ou perdem, conforme o sucesso de um projeto socialmente responsável.

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FRASES
O dia de finados da direita portuguesa não vai ser a 2 de novembro, vai ser em outubro”. José Miguel Júdice, comentador político, na SIC Notícias

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O QUE EU ANDO A LER
Comprei esta semana a versão digital de um livro muito recomendado na imprensa internacional e que está a condicionar uma das discussões mais relevantes dos nossos tempos: as implicações que a revolução digital e a robotização podem ter no futuro do trabalho.


The Technology Trap: Capital, Labor, and Power in the Age of Automation, de Carl Benedikt Frey, ainda não está traduzido em português, mas encomenda-se facilmente na Wook, na Fnac ou na Amazon, entre muitas outras opções.

Frey já era um nome recorrente nesta discussão – é coautor de um célebre estudo de 2013 que calculou que 47% dos empregos nos EUA iam ser afetados pela automação -, mas agora passou a ocupar um lugar central neste debate. A tese do livro é surpreendente.

Frey defende que os luditas – trabalhadores que sabotavam máquinas nos primeiros anos da Revolução Industrial – tinham toda a razão. O progresso tecnológico dessa época beneficiou brutalmente as gerações futuras, mas foi trágico para os que apanharam em cheio com a transformação, remetidos a uma miséria extrema, condições de trabalho desumanas e até a uma grave regressão da esperança média de vida. Por exemplo, em Manchester em 1850 vivia-se em média, menos 9 anos, que no resto do Reino Unido…

Dizer que os luditas estavam certos é, no mínimo, provocatório. Mas o objetivo de Frey é simples, é dizer que temos que evitar repetir os piores erros da Revolução Industrial e alertar para as consequências políticas que as alterações tecnológicas bruscas causam sempre, com uma enorme preocupação com a distribuição da riqueza.

Tenha uma boa quarta-feira.