Provavelmente vai ouvir falar disto durante o dia: hoje é dia internacional do cigano. Ou como diz o mais politicamente correto gabinete da ministra da Presidência, o dia da pessoa cigana. A secretária de Estado para a Igualdade vai assinar protocolos com várias associações (de pessoas) ciganas, tal como o Estado já fez no passado com o pagamento de bolsas a estudantes ciganos, entre outras iniciativas meritórias. Os convidados vão juntar-se hoje na Gulbenkian, vão ver o filme “Entre os Montes” e distribuir prémios por várias associações.

Entre elas, a Letras Nómadas, cujo presidente Bruno Gonçalves, em declarações ao Expresso do último sábado deixou bem claro qual é a situação real desta minoria étnica no nosso país: “Estamos em Portugal há 500 anos e ainda somos considerados estrangeiros; somos a comunidade que mais sofre no país”. O dirigente reagia à hipótese levantada pelo INE, e divulgada pelo Expresso, de incluir no próximo Censos uma pergunta sobre a origem étnica dos entrevistados.


De acordo com o Público, a maioria dos inquiridos disser concordar com a existência da pergunta. Bruno Gonçalves e outras associações ciganas estão contra a ideia do INE. Porquê? “A recolha de dados étnicorraciais por parte do Estado, quando não é anónima, (…) pode levar ao aumento da discriminação e do racismo, bem como à perseguição da população cigana, dado esta ficar social e geograficamente totalmente caracterizada e ‘cadastrada”, justificaram os representantes ciganos no grupo de trabalho do INE’. Exagero?

De acordo com os últimos dados recolhidos pelo próprio Governo em 2009, os ciganos eram a comunidade com maior nível de pobreza e de desemprego e o menor acesso à educação do país. Estima-se que sejam cerca de 37 mil pessoas (ciganas). Mais de noventa por cento não têm o 3º ciclo do ensino. Culpa própria? Abra o insuspeito Priberam, o dicionário online ao dispor de qualquer pessoa cigana ou não cigana e leia, entre outras definições mais geográficas, o que significa cigano em português: "Quem age com astúcia para enganar ou burlar alguém. BURLÃO, IMPOSTOR, TRAPACEIRO." Talvez esteja na hora de mudar o dicionário. O título deste curto não é para ofender.

OUTRAS NOTÍCIAS

Especial tolerância:

O PNR criou perfis falsos de supostos militantes negros do Bloco de Esquerda que espalhavam mensagens de ódio contra (pessoas) branca nas redes sociais O esquema foi desmascarado pelo Polígrafo que deixou à vista a pouca inteligência do plano: uma das fotos era do cantor angolano C4 Pedro, que ali aparecia com o nome falso de Habib Zunduri.

O primeiro ministro israelita Benjamim Netanyahu prometeu ontem numa entrevista televisiva que anexará partes da Cisjordânia se for eleito nas eleições legislativas de amanhã. O líder do Governo tenta a quinta eleição, apesar de estar sob suspeita de corrupção. O grande adversário é um general, Benny Gantz, que prometeu acabar com a corrupção. A Cisjordânia vai estar cercada no dia das eleições.

Num comício com apoiantes judeus, o presidente americano Donald Trump galvanizou a assistência com piadas sobre os migrantes que atravessam a América Central em direção aos Estados Unidos. Foram comparados com lutadores do UFC, gozados por usarem tatuagens e até houve um momento de imitação por parte de Trump. A secretária de Segurança Interna,
Kirstjen Nielsen, demitiu-se depois de uma viagem à fronteira com o México com o presidente.

Na Grécia, a polícia entrou em confronto com refugiados que, por causa de uma notícia falsa que andou pelas redes sociais, se dirigiram para a fronteira com outros países europeus convencidos de que estas seriam abertas. Não foram.

Especial justiça:

No Tribunal Central Criminal de Lisboa é lida hoje a sentença de três funcionários das Finanças acusados de se deixarem corromper para passar informações confidenciais a outros oito arguidos no processo. Segundo o Ministério Público, terão recebido 1,4 milhões de euros como pagamento. Leu bem: 1,4 milhões de euros.

O Tribunal Criminal da mesma cidade adiou de hoje para dia 11 a continuação do julgamento de Abdessalam Tazi, o ex-polícia marroquino que é acusado de ter montado em Portugal uma célula de recrutamento de terroristas para o Daesh. Vão ser ouvidos os inspetores da PJ especializados em contraterrorismo responsáveis pela investigação. Na primeira sessão do julgamento, o suspeito classificou o processo como uma ficção de Hollywood. Para ajudar à trama uma misteriosa mulher japonesa apareceu na sala de audiência intrigando o juiz presidente Francisco Henriques que mandou saber quem é aquela mulher. Os resultados ainda são desconhecidos.

Na vida real, enquanto o Governo vai delineando o plano e fazendo os contactos necessários para repatriar as mulheres e os bebés dos jiadistas portugueses, uma criança de três anos filha de portugueses morreu no último bastião dos terroristas, atingida por um estilhaço na cabeça. A vida dela serve para nos lembrar a urgência da operação. É para ontem.

Heila Lopes é a 14ª vítima de violência doméstica deste ano. Foi estrangulada pelo ex-namorado e o resto da história é o mesmo de sempre: a mulher já tinha sido ameaçada pelo homem que não aceitava o fim da relação, toda a gente sabia das ameaças mas ninguém foi capaz de evitar o desfecho. O suspeito foi preso.

O Tribunal da Relação de Guimarães diminuiu para três anos a pena aplicada a um ex-GNR que espancou e mulher e a filha durante 12 anos. Apesar de ter considerado provado que o arguido é “violento” e que reage mal “à mais pequena contrariedade” e que bateu na mulher grávida e partiu uma vassoura na filha mais nova, os desembargadores tiverem em conta o facto de nenhuma das vítimas ter ficado ferida “com gravidade” e tiraram um ano à pena do agressor.

O Bloco de Esquerda vai apresentar um projeto de lei que permitirá o recurso ao Supremo Tribunal de Justiça de casos como este. Atualmente a lei só permite o recurso ao STJ em casos com pena superior a oito anos.


O Tribunal Constitucional reconheceu aos filhos de pai incógnito o direito de reclamarem o nome durante toda a vida. A lei dizia que tinham até aos 28 anos.

A comissão de inquérito ao pagamento de rendas excessivas no sector da eletricidade enviou para o Ministério Público as conclusões dos trabalhos que decorreram nos últimos meses. O relatório aponta o dedo ao ex-ministro Manuel Pinho e ao seu antigo assessor, João Conceição (hoje administrador da REN) a quem são imputados factos com “contornos especialmente graves”. O MP já está a investigar estas suspeitas há sete anos, ainda sem um despacho final.

Futebol: o Benfica voltou ao comando do campeonato depois de vencer o último classificado por 4-1. Esteve a perder 1-0, o árbitro anulou o 2-0 do Feirense e a reviravolta começou com um penalti. estas duas decisões foram discutidas ontem durante várias horas em vários programas da televisão e hoje o tribunal de O Jogo diz que foram erradas. Mas que ficou outro penalti por marcar a favor do Benfica. O FC porto já tinha ganhado no sábado ao Boavista e os dois rivais estão empatados a sete jornadas do fim.

O Sporting ganhou, Bruno Fernandes marcou e chegou aos 27 golos numa época, igualando o feito do inglês Frank Lampard, o médio que tinha marcado mais golos numa só época nos principais campeonatos europeus.

Frases

“Nunca tinha sido construído um paquete em Portugal”

António Costa, na cerimónia de batismo do MS World Explorer, o primeiro navio oceânico “integralmente concebido e projetado em Portugal”

“Temos mesmo de sair da União Europeia”

Theresa May, primeira-ministra britânica, à entrada de mais uma semana decisiva para o Brexit

“É errado nomear familiares”

Marques Mendes, criticando o PS e a si próprio por ter feito parte de um Governo onde também estava a mulher

“O PSD veio buscar lã e saiu tosquiado”

Ana Gomes, sobre o familygate. A eurodeputada socialista criticou o próprio partido pela reação “infeliz” ao caso

“A questão é saber se, no curto espaço de tempo que falta para o fim da legislatura, é possível definir e aprovar normas legais mais restritivas”

Marcelo Rebelo de Sousa, ao Expresso

“É perigoso legislar em cima de casos destes”

Rui Rio, líder do PSD, que considera "impossível" legislar sobre a ética

O que eu ando a ver

Nós, Jordan Peele

É verdade que depois de o fantástico “Foge” que valeu a Jordan Peele um Óscar de melhor argumento logo no primeiro filme que escreveu e realizou, as minhas expectativas eram altas. E saí com sentimentos contraditórios. Mixed feelings, como diria Peele. Depois da metáfora do racismo, o realizador faz uma história sobre uma invasão de duplos malévolos que atormentam (para dizer o mínimo) os originais, nós. Uma metáfora sobre o nosso lado negro. O ambiente é de filme de terror dos anos 80, sem grandes efeitos visuais, mas muita tensão. Talvez seja eu que não tenha conseguido apreender todas as ideias que Peele vai juntando na fita, mas a verdade é que “Nós” não me encheu as medidas como “Foge”. Mas é bom. Um sete em dez.

After Life, Rick Gervais

Não, os relatos que ouviu não são manifestamente exagerados. After Life (não tem tradução, não sou eu a armar em intelectual), escrito, realizado e protagonizado por Rick Gervais é mesmo a obra prima do autor e comediante britânico. É a história de um jornalista de um pequeno jornal de uma pequena cidade que decide castigar o mundo depois da morte precoce da mulher. O castigo é aplicado através da remoção de todos os filtros sociais. Isto é, Tony faz e diz tudo o que lhe apetece. Come menus infantis, humilha pessoas que bocejam alto, droga-se, faz amizade com a prostituta local, ameaça um "bully"de dez anos com um martelo, despreza todos os trabalhos que lhe aparecem e maltrata a humanidade no geral e o carteiro em particular (acho que os tipos que fazem mal as rotundas escapam porque não há rotundas naquela cidade fictícia). Todos os dias Tony pensa ou tenta mesmo matar-se e só a cadela e os vídeos que a mulher lhe deixou o impedem. O tom da série é agridoce e tenta responder à pergunta mais velha do mundo: de que adianta viver se o mundo não é mais do que um mar de sofrimento? Pois. Não é. Há sempre um raio de sol.

Love,Death and Robots, vários autores

Antologia de curtas metragens de animação do estilo Twilight Zone escolhidas ou organizadas por David Finsher, o realizador de "Seven" e Tim Miller, o autor de "Deadpool".. Algumas são contos de terror horríveis, outras belas histórias de fantasia e uns episódios são só cómicos ou absurdos. Cada história tem um autor e desenhador diferentes e o conjunto é francamente bom. Cada episódio tem mais ou menos 15 minutos, o ideal para ver com o café da manhã, depois do Expresso curto.

Hoje começam as férias da Páscoa para a maioria dos estudantes. Divirtam-se e leiam jornais. E vão ao site do Expresso, da Tribuna, da Blitz, da Vida Extra e da SIC. Às seis sai o Expresso Diário.