Jair Bolsonaro e Donald Trump dão hoje início ao que pode vir a ser uma bela amizade. Os líderes dos dois países mais influentes do continente americano têm em comum o facto de terem sido eleitos contra a vontade do resto do mundo (pelo menos o democrático), a ideologia populista de direita e o uso das redes sociais como arma de campanha e forma privilegiada de comunicação com os eleitores.
Bolsonaro, que tem Trump como modelo e inspiração (a palavra mais certa é: imita-o), vai ter direito a um encontro de vinte minutos na sala oval da Casa Branca, em Washington, e a um almoço oficial com o presidente americano. O tempo parece curto mas o novo presidente brasileiro já mostrou que é sucinto: em Davos usou apenas 15 dos 45 minutos a que tinha direito na abertura do Fórum económico.
O Presidente brasileiro quer ser o novo melhor amigo e aliado estratégico de Trump (terá de concorrer com Kim Jong-un, presidente da Coreia do Norte) e para o provar rompeu com a tradição de ir à Argentina na primeira visita presidencial, tal como fizeram os seus antecessores no Palácio do Planalto. Se seguir a regra não escrita de não falar de negócios ao almoço, Jair Bolsonaro terá vinte minutos para convencer Trump a apoiar o Brasil na pretensão de aderir à OCDE, o fórum que junta os 26 países mais ricos do mundo, e em intervir militarmente na Venezuela de Nicolas Maduro (contra a vontade do próprio Governo brasileiro, que prefere a via negocial).
Trump tem tido uma política de “todas as opções em aberto” e no primeiro discurso que fez nos Estados Unidos Bolsonaro foi claro ao referir “o poder bélico” dos Estados Unidos. Numa entrevista à Fox, Bolsonaro fez uma declaração pública de amor a Trump, dando apoio à construção do muro na fronteira com o México e ao slogan “make American great again”. Na entrevista, Bolsonaro garantiu que não conhece o sargento reformado que é suspeito do assassinato de Marielle Franco.e explicou que postou um vídeo de um homem a urinar em cima de outro "para mostrar a verdade". A estação chama-lhe repetidamente o Trump dos Trópicos, no que parece ser um elogio.
Vão ser assinados acordos bilaterais, o Brasil já assegurou que a base de Alcântara vai ser usada para lançar satélites comerciais americanos e conquistou a classificação de país amigo, logo a seguir aos aliados na Nato.
Mas tal como Financial Times nota, terão os dois líderes capacidade política e negocial para um acordo verdadeiramente efetivo que mude as relações entre os dois países? Será que Bolsonaro conseguirá ver o encontro não como um objetivo em si mesmo mas como um meio para uma cooperação efetiva? Talvez sejam precisos mais do que vinte minutos para que estes dois homens façam história.
OUTRAS NOTÍCIAS
Gokmen Tanis tem 37 anos e ontem matou três pessoas num ataque a um elétrico em Utreque, na Holanda. É de origem turca e isso, aliado ao modus operandi do ataque, fez com que as autoridades começassem por falar de um “ataque terrorista”. Mais tarde, já depois de ter detido o suspeito e de uma agência de notícias turca ter avançado com a notícia de que se tratava de um caso de desavença familiar, a polícia admitiu a possibilidade de se tratar de um “incidente doméstico” já que a primeira vítima seria uma familiar do atacante. As outras vítimas teriam morrido ou ficado feridas porque tentaram ajudar a mulher. As verdadeiras motivações de Gokmen continuam ainda por esclarecer, mas para as vítimas e para as famílias pouco importa. Como já tínhamos percebido com o atentado da Nova Zelândia, um terrorista é um terrorista. Pouco importa se é muçulmano, cristão, hindu ou simplesmente alucinado. É um cobarde armado. Gokmen Tanis pode não ser um terrorista. Mas é um cobarde armado.
A passagem do ciclone Idai pelo sul de África fez, pelo menos, 84 mortos em Moçambique, 56 no Maláui e 23 no Zimbabué. Mais de um milhão de pessoas foram afetadas e 90 por cento da cidade da Beira ficou destruída. O presidente moçambicano, Filipe Nyusi, fala na possibilidade de mais de “mil mortos”. O dia de hoje será decisivo para perceber a verdadeira dimensão da tragédia e se a previsão do presidente se concretiza. Francisco George, presidente da Cruz Vermelha portuguesa, apelou aos donativos dos portugueses e, talvez com Pedrógão na consciência, garantiu que será ele a assumir a responsabilidade pela gestão da generosidade dos portugueses.
Pai padrasto. A expressão é uma injustiça para os padrastos impecáveis que substituem, completam ou coexistem na maior com os pais biológicos. Mas é assim que a língua portuguesa denomina um pai que não ama. Hoje, dia do pai, no Tribunal de Coimbra, é lida a sentença de um homem acusado de forçar a filha de 19 anos a casar-se com um homem de 29 que estava preso por tráfico de droga. A rapariga é cigana e namorava um rapaz de uma etnia diferente, facto que o pai não aceitava. O líder da comunidade cigana de Aveiro terá dado luz verde ao casamento forçado e é um dos acusados pelo Ministério Público. Estes casos, felizmente raros, são condenados pelas associações mais representativas dos próprios ciganos mas são uma cruel realidade que pelos vistos ainda existe. O tribunal vai decidir se as provas recolhidas pela PJ e pelo MP são suficientes para aplicar penas de prisão aos envolvidos.
Adolfo Mesquita Nunes demitiu-se da vice presidência do CDS para se dedicar à carreira profissional na administração da Galp. Assunção Cristas “lamenta” mas “compreende”.
Joana Marques Vidal volta ao único sítio onde foi infeliz: Tancos. Ou melhor, à comissão parlamentar sobre o assalto ao paiol de Tancos. A intervenção da ex-procuradora no processo foi fundamental porque foi ela a decidir que seria a PJ civil a investigar o caso e não a PJ militar, iniciando, provavelmente sem querer, uma guerra entre as duas polícias que acabou da pior maneira possível com uma operação clandestina de recuperação de parte do material furtado e a detenção de vários responsáveis da PJM, incluindo o seu diretor. Os deputados hão de querer saber quais foram as motivações para esta decisão e que indícios de terrorismo existiam que justificassem a entrega do caso à PJ.
O ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, vai estar hoje na Comissão Parlamentar de Inquérito ao Pagamento de Rendas Excessivas aos Produtores de Eletricidade. É a última audição desta comissão de inquérito e os deputados vão fazer um relatório sobre se houve ou não benefícios às empresas do sector elétrico, em prejuízo do consumidor.
Notícias mais agradáveis da mãe natureza: uma Quercus Rotundifolia Lam é a candidata portuguesa a árvore europeia do ano, cujo vencedor vai ser anunciado hoje. Mais conhecida por azinheira secular do Monte do Barbeiro, tem 150 anos e vai bater-se com nomes grandes da botânica como a Tília de Gubec: testemunha da Grande Revolta dos Camponeses de 1573 na República da Croácia.
Foi há três dias mas não posso deixar de assinalar o 193º aniversário de Camilo Castelo Branco, um dos maiores nomes da nossa literatura, como explica Hugo van der Ding, que posso descrever como um gajo com piada. Camilo, que era mais dramático e esteve preso mais de um ano por causa de uma relação romântica com uma mulher casada, escreveu em 1856 que conhecia “homens, se faísca de espírito, que se abraçam tocados pelo amor como o fósforo em presença do ar. O amor nada tem nada com o corpo, nem com o espírito, é um fluído”.
Já tinha dito: é dia do pai. Mime o seu. Como fez Elmesu, o babilónio, autor do primeiro cartão de felicitações ao pai, feito em argila há mais de 4 mil anos.. se fosse hoje ficava milionário com o negócio dos postais de parabéns. O dia do pai como nós o conhecemos deve-se a Sonora Louise Dodd que foi criada pelo pai depois de a mãe ter morrido ao dar à luz o sexto filho. Sonora queria homenagear o pai, William Jackson Smart e teve a ideia de um dia dedicado aos pais. Persistiu e levou o caso à presidência dos Estados Unidos, que em 1910 decretou o primeiro dia do pai. Em 1924, o presidente Calvin Coolidge lançou a campanha para um dia do pai nacional que seria decretado em 1972, por Richard Nixon. Isto é para impressionar o meu pai, que gosta de história.
FRASES
"A Terra está a lixar-se para nós"
José Matos Fernandes, ministro do Ambiente, embalado com a a manifestação dos jovens em defesa do ambiente
“Mal ou bem, Maduro foi eleito”
Jerónimo de Sousa, líder do PCP, em entrevista ao Polígrafo, não querendo dizer se o líder venezuelano é ou não um ditador. Na mesma entrevista também se recusou a dizer se considera a Coreia do Norte uma ditadura.
“Às vezes atiro-me um bocado para o chão”
João Félix, a nova estrela do futebol português num assomo de sinceridade.
“Não chega um pedido de desculpas em off”
Frederico Varandas, presidente do Sporting, depois dos incidentes num jogo de hóquei em patins em que a mulher de um dirigente leonino foi violentamente agredida
"Não é aceitável, seja nas escolas, no Serviço Nacional de Saúde, nas forças de segurança, nos tribunais, onde quer que seja, que trabalhadores que têm 15 anos de serviço estejam a receber o mesmo que trabalhadores que começaram a trabalhar agora"
Catarina Martins e a contagem do tempo de serviço dos funcionários públicos.
Manchetes:
O Correio da Manhã faz 40 anos e volta a história do acordo do Sporting então presidido por Bruno de Carvalho com os caboverdianos do Batuque: “Sporting paga por jogadores fantasma”. O jornal diz que o Sporting pagou 300 mil euros por quatro jogadores mas não há documentos que sustentem a operação.
O Jornal de Notícias faz manchete com uma “Aplicação no telemóvel” que “permite consulta médica”. A plataforma vai ser usada no SNS e destina-se a doentes crónicos.
O Público tem na primeira página uma imagem forte do desastre natural em Moçambique e faz manchete com uma notícia preocupante: “Cientistas estimam que poluição do ar causou 15 mil mortes em 2015”.
No I: “Pedidos de levantamento de imunidade parlamentar quase duplicaram”
O Diário de Notícias constata que “há muito por explicar” no ataque em Utreque.
À hora do fecho deste Curto, o Observador tinha como manchete um trabalho sobre os novos partidos que se vão apresentar nas próximas eleições: “Novos partidos estão a conseguir ser diferentes?”. Boa pergunta.
O Negócios noticia a contratação do ex-ministro Pires de Lima pelo Bank of América “para crescer em Portugal”.
No Jornal Económico é revelado que o “Embaixador dos EUA revela que Trump vai bloquear OPA chinesa à EDP.
A Bola foi ver “o fantástico novo mundo de Diogo Dalot”, o jovem português de 20 anos que está a brilhar no Manchester United
O Record diz que “Samaris é para ficar”
E o Jogo anuncia que Casillas é “Dragão até ao fim”
O que ando a ler
“The Pushman and Other Stories”, Yoshihiro Tatsumi
No Japão, a Banda Desenhada mais adulta (não confundir com Para Adultos) chama-se Gekiga e não tem nada a ver com a habitual Manga que costuma chegar ao Ocidente ou com o mais explicito Hentai. “Pushman” é uma das 16 histórias que Tatsumi desenhou e escreveu nos anos 60 e conta a história de um daqueles funcionários do metro de Tóquio encarregado de empurrar as pessoas para dentro das carruagens que desperta o líbido de uma passageira quando a ajuda com uma camisola rasgada. Ele não sabe, mas é alvo do fetiche de várias mulheres que já empurrou. Li uma versão em inglês que foi editada em 2015 e junta histórias de oscilam entre o humor negro, a maldade e a, digamos, javardice. Uma das melhores histórias – Sewer – é também a mais triste. Mas também dá rir com a história do projecionista de filmes eróticos que só se excita com os garatujos das casas de banho.
O que ando a ver
“Terra Adentro”, Joaquin Sorolla
O génio deve ser isto: um homem de 48 anos comove-se às lágrimas a olhar para um quadro de duas miúdas a entrar na água. Como não sou crítico de arte, não sei se é da luz, da composição, ou das cores só sei que é belo. E que precisamos disto. Até 31 de março no Museu Nacional de Arte Antiga.
Já cheira a primavera e em março cada dia cresce um pedaço. Aproveite-o e acompanhe-o no site do Expresso, da Tribuna, da vida Extra e, mais logo, no Expresso Diário.