Este é o seu Expresso Curto, no primeiro dia útil após a Fitch ter subido na sexta feira em dois níveis a notação da dívida portuguesa, retirando-a da classificação de ‘lixo’, onde a tinha colocado em 2011.
Foi provavelmente a última boa notícia económica de 2017, mas veio confirmar um ano verdadeiramente excepcional: conclusão do processo de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos; crescimento económico muito acima do previsto, o maior do século (2,6% contra 1,8%), subida do emprego em 3,1%, desemprego a cair para 8,5%, aumento do investimento de 8,7% e das exportações de 7,7%, saída do Procedimento por Défice Excessivo, melhoria do rating da dívida pela Standard & Poor’s em Novembro, défice orçamental de 1,4% (o mais baixo de sempre em democracia), excedente de 1,5% na balança corrente e de capital e de 1,8% na balança de bens e serviços, emissão de dívida pública a 10 anos pela primeira vez abaixo dos 2% em 43 anos – e a eleição do ministro das Finanças, Mário Centeno, para presidente do Eurogrupo em Dezembro.
Tudo isto traduz-se na descida dos juros cobrados à República mas também às empresas e às famílias; e na evidente melhoria da imagem do país junto dos mercados e dos investidores. O Jornal de Negócios comparou a nossa situação à italiana e, através de sete gráficos, mostra como Portugal apanhou a Itália: os nossos juros a dez anos apresentam pela primeira vez, em quase oito anos, um valor inferior ao dos transalpinos; o nosso ritmo de investimento é superior; o desemprego é inferior; a nossa economia cresce mais desde 2013; as nossas exportações aumentam quase o dobro; o nosso défice é inferior, o que não acontecia desde 1997; e a nossa dívida está abaixo e com uma trajectória descendente, ao contrário da de Itália, que está praticamente estagnada.
O homem por trás de tudo isto chama-se Mário Centeno. Recebido de início com desconfiança, acinte e piadas (houve quem o alcunhasse de “Mário sem tino”) devido à sua proposta de política económica para o país, o certo é que o ministro das Finanças está a colher os frutos do que plantou. E os seus colegas europeus, em particular no Eurogrupo, a Comissão e o FMI que tanto o pressionaram a mudar de políticas quase até meados de 2017, acenando por diversas vezes coma possibilidade de um novo resgate, não tiveram outro remédio senão admitir que Centeno está a cumprir o que a Europa lhe exige mas através de uma política económica bem diferente daquela que impuseram a todos os países sob resgate. Daí até à sua eleição para presidente do Eurogrupo, substituindo Jeroen Dijsselbloem, que defende ideias antagónicas às suas, acabou por ser um passo inesperado mas natural.
Este Governo pode estar a perder na política, onde se sucedem os casos graves ou embaraçosos; mas está claramente a ganhar na economia, contra todas as expectativas e contra inclusive aquilo que a generalidade dos analistas acreditava que iria acontecer quando o Governo tomou posse, com o apoio do BE e PCP.
OUTRAS NOTÍCIAS
As negociações na Autoreuropa são hoje retomadas. O ponto crucial de desacordo Na fábrica da Volkswagen de Palmela é o trabalho aos sábados, que permite um regime de laboração contínua. Os trabalhadores já chumbaram dois pré-acordos e a administração decidiu avançar unilateralmente para a imposição dos trabalhos ao sábado a partir de Janeiro.
O ministro Vieira da Silva está esta manhã no Parlamento para prestar declarações sobre a Rarissima. Quando soube? Que medidas tomou? Ninguém parece satisfeito com as explicações. Mas pelo sim pelo não, António Costa já reafirmou por duas vezes a sua confiança em Vieira da Silva. No futebol, esta atitude costuma ser sinónimo de substituição do treinador…
O Presidente da República disse ontem julgar estar em condições de decidir sobre a promulgação do Orçamento do Estado para 2018 entre quarta e quinta-feira da próxima semana, pouco depois de receber o diploma em Belém.
O candidato à liderança do PSD Pedro Santana Lopes manifestou-se indisponível para consensos com o Governo PS até final da legislatura, admitindo-os no futuro, e, em matéria fiscal, definiu como prioridade descer o IRC. Curiosamente, antes de Santana ter defendido estas posições estava nas bancas a entrevista do outro candidato, Rui Rio, ao Diário de Notícias, onde sustenta que é de evitar uma coligação com o PS, porque são partidos que se vão alternando no poder, e defendendo uma descida do IRC… Vai ser mesmo difícil aos militantes sociais-democratas encontrarem diferenças programáticas entre os dois candidatos. Mas, claro, há sempre as diferenças de carácter e de feitio…
As rendas das casas estão a atingir valores que poucos se atreviam a antecipar mas, apesar da subida meteórica, nem todos os senhorios se mostram interessados em manter o negócio. Em 2015, mais de 570 mil contribuintes declararam rendimentos provenientes de rendas; neste ano, o número recuou para 546 770, uma redução de mais de 23 mil pessoas. Associações de proprietários e de inquilinos encontram várias explicações para a descida: retirada das casas que vão ficando vagas, optando por dar-lhe outro destino, como o alojamento local; ou por vendê-las, aproveitando o bom momento do mercado imobiliário.
Mais de 10% das empresas portuguesas de construção e serviços são zombies, ou seja, "sem viabilidade económica", "com muito baixa produtividade" e que "minam o crescimento" da economia. Os dados são do estudo "Empresas Zombies em Portugal - Os setores não Transacionáveis, da Construção e dos Serviços", da responsabilidade do Gabinete de Estratégia e Estudos do Ministério da Economia e Inovação. Em causa estão mais de 7500 empresas, a construção e imobiliário, do comércio, da reparação automóvel e de serviços de distribuição de água e gestão de resíduos.
A emigração em 2016 atingiu o valor mais baixo em cinco anos. As estimativas são do Observatório da Emigração. Comparam as saídas do país em 2012 com as registadas em 2016. Os portugueses que partiram querem regressar, só não sabem quando.
O presidente angolano João Lourenço desafiou no início desta semana governantes e titulares de cargos públicos a devolverem ao Estado dinheiro ilicitamente repatriado e prometeu um “período de graça” em janeiro para quem o faça voluntariamente. O Expresso sabe que alguns governos e instituições financeiras já terão notificado a Presidência sobre o montante e o nome de detentores de fortunas expatriadas ilegalmente.
No Chile, o empresário e candidato apoiado pela direita Sebastián Piñera ganhou ontem as eleições e vai governar o Chile depois de quatro anos de interregno. O futuro presidente Piñera vai tomar posse a 11 de março e substituir a socialista Michele Bachelet, a atual presidente que o derrotou na corrida presidencial de 2014.
O Papa Francisco fez ontem 81 anos. Milhares de pessoas cantaram-lhe os parabéns na Praça de São Pedro, em Roma.
O ANC adiou para hoje a sucessão do Presidente Zuma, dadas as profundas divisões internas no partido que governa a República da África do Sul desde o fim do apartheid.
A CIA terá ajudado a Rússia a travar um ataque terrorista que estava a ser planeado para sábado passado numa catedral de São Petersburgo, segundo avançou o Kremlin. Vladimir Putin já terá telefonado a agradecer a Donald Trump a ajuda da agência secreta norte-americana.
O aeroporto de Atlanta, nos EUA, o mais movimentado do mundo, com 104 milhões de passageiros por ano e 275 mil por dia, sofreu uma falha de energia que levou ao cancelamento de mais de 1100 voos, naquele que é um dos períodos do ano com mais passageiros a viajar.
A bitcoin, a polémica moeda virtual, chegou a Wall Street. Com feito, os futuros sobre a bitcoin começaram a ser transaccionados ontem, 17 de Dezembro, na CME Group, uma semana depois da rival de Chicago Cboe Gobal Markets ter introduzido derivados semelhantes sobre a volátil criptomoeda.
FRASES
“É pelo país que apoiarei e votarei em Pedro Santana Lopes”. Hugo Soares, líder da bancada parlamentar do PSD. E quem votar em Rui Rio é contra o país?
“Temos de pôr os miúdos (e os graúdos) a saber gerir o insucesso”. Eduardo Marçal Grilo, Diário de Notícias. Eu percebo-o, Professor, mas mais insucesso? Não basta o que já temos? E que tal prepará-los para tentarem o sucesso?
“Faz imensa falta uma primeira dama em Belém”. Maria Cavaco Silva, Sol. Um recado direitinho para Marcelo Rebelo de Sousa. Mas desta vez o presidente comentador que comenta tudo o que mexe não vai comentar. Vai uma aposta?
“Porque é que não vemos mais filmes portugueses nos Estados Unidos? São óptimos!” Edward James Olmos, o tenente Castillo da série Miami Vice, nos anos 80, Público. Pois meu caro Edward, deve ter a ver com distribuição, circuitos comerciais, falta de reconhecimento e outras minudências. Mas pelo menos para consumo interno, as tuas palavras são excelentes. Nós só acreditamos quando é um estrangeiro a dizer-nos.
O QUE ANDO A LER. E O QUE ANDO A OUVIR.
Fernando Guedes está à beira de fazer 87 anos (em 29 de Dezembro) e comemorou este sábado 61 anos de casamento. Os filhos, aproveitando o facto da Sogrape ter comemorado 75 anos de existência em 2017, quiseram fazer-lhe uma surpresa e pediram à jornalista Ana Sofia Fonseca para colocar em papel muitas das histórias com que cresceram e que atravessam a vida do pai e da maior empresa portuguesa de vinhos. O resultado está em “Fernando Guedes – O vinho é a vida”, um livro que foi apresentado por António Lobo Xavier e pela autora na Quinta do Azevedo, no sábado passado, perante dezenas de familiares e alguns convidados. Não se trata de um retrato laudatório do chefe do clã Guedes, mas de um trabalho jornalístico, com a enorme qualidade de escrita e de independência a que Ana Sofia Fonseca nos habituou.
O pequeno texto introdutório que explica o livro diz tudo: “Salvador, Manuel e Fernando. Os filhos quiseram contar uma história ao pai. A sua. Cresceram com os seus feitos e contos, queriam registá-los. Deixá-los em papel para o tempo não os apagar. Também descobrir mais sobre o homem que é o seu exemplo. Fernando desafiou então a jornalista Ana Sofia Fonseca para investigar e escrever sobre a vida do pai. Ele nunca soube do livro. Eles nunca souberam o que seria o livro. O resultado são estas histórias”. Só um/uma grande jornalista escreve assim. E só grandes senhores aceitam estas regras.
Quanto a música, por estes dias bastante agitados do ponto de vista profissional, tem-me sabido bem chegar a casa e ouvir Keith Jarret. Tenho vários dos seus CD mas “Last Dance”, com Charlie Haden, é um dos meus preferidos. Para relaxar ou para se concentrar não há melhor.
Pronto, o Expresso Curto fica por aqui, com uma pequena nota de rodapé: é o meu último Expresso Curto enquanto jornalista do quadro do Expresso. Foi um prazer fazê-los – e sobretudo saber que havia em média mais de 40 mil pessoas a lê-los. É por tudo isto que adoro ser jornalista. Tenha um bom dia, uma grande semana, um Natal muito feliz e um excelente 2018. E nunca se esqueça de ir lendo o Expresso online, o Expresso Diário e o Expresso em papel todos os sábados. A existência de uma comunicação social livre e independente, um pilar fundamental das democracias, depende de si, de todos os leitores – sempre.