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Estado da Nação em resumo: quatro anúncios do Governo, um bate-boca e um acordo que não é acordo entre PSD e Chega

Luís Montenegro e André Ventura estiveram no centro do debate

Boa noite,

O debate do Estado da Nação, o último antes das férias parlamentares, terminou há pouco e é o tema principal deste diário. Considero que o melhor serviço que lhe posso fazer, caro leitor, é resumir os pontos principais de tudo o que se passou, que naturalmente o Expresso vai ainda desenvolver e aprofundar.

1 - Os anúncios do Governo: o destaque vai para um suplemento extraordinário para pensões até aos 1567,50 euros, a ser pago em setembro (os moldes são os mesmos do ano passado e o valor varia entre 100 e 200 euros). Amanhã, em Conselho de Ministros, será também aprovada a descida do IRC para 19% em 2026, 18% em 2027 e 17% em 2028 (em linha com o programa do Governo, aliás). Mais duas medidas: o Governo vai publicar as novas tabelas de retenção do IRS na segunda-feira, com vista a que tenha efeito já em agosto, e os professores vão ver o apoio à deslocação, que era aplicado apenas a territórios com falta de docentes, alargado a todos.

2 - O “frouxo” e o “fanfarrão”: a polémica da tarde disparou depois de André Ventura ter dito que a oposição do PS de José Luís Carneiro é "ainda é mais frouxa" do que a de Pedro Nuno Santos. Na resposta, José Luís Carneiro apelidou o líder do Chega – que disse que um governo do seu partido “teria dez vezes mais qualidade e eficácia do que este” – de "fanfarrão", o que motivou um reparo do presidente da Assembleia da República, que censurou o uso dessa palavra mas não fez qualquer referência ao termo “frouxo”. José Pedro Aguiar-Branco, recorde-se, defendeu recentemente que o facto de o Chega ter reproduzido nomes de crianças matriculadas em creches públicas (para aludir a um eventual excesso ou privilégio no acesso de estrangeiros) estava ao abrigo da liberdade de expressão. A bancada do PS explodiu, Edite Estrela perguntou se a palavra era um “insulto” (sem ter resposta), mas a reação mais veemente foi de Pedro Delgado Alves: “Sou deputado desta casa há muitos anos e tenho vergonha do senhor presidente, porque mostra dualidade de critério”, atirou.

3 - Acordo sim ou acordo não? Luís Montenegro negou um entendimento com o Chega, mas André Ventura pareceu tentar passar o contrário: "Chegámos a um acordo e não escondemos". Afinal, a questão era semântica e o próprio líder do Chega esclareceu que Montenegro se estava a referir “a um acordo permanente de Governo”, quando afinal apenas há alinhamento para alterações na imigração, IRS e nacionalidade, esta ainda não concretizada. Toda a esquerda cavalgou o tema: Carneiro prometeu uma oposição "firme" caso a AD continue a deixar-se levar para os "braços da extrema-direita". Pedro Delgado Alves sublinhou que o "não é não" se transformou em "não é sim". E Paulo Raimundo, do PCP, diz que Montenegro usa a extrema-direita como “um abre-latas”. O primeiro-ministro rapidamente ficou sem tempo para responder a mais interpelações sobre o tema.

4 - Para além da imigração, a saúde e a educação foram os temas principais abordados pelos partidos, com quase todos a apontarem o dedo para a situação das urgências de obstetrícia na Grande Lisboa. Montenegro reconhece que o Governo "não conseguiu ainda resolver os problemas todos", nomeadamente de ginecologia e obstetrícia. Porém, reiterou que o SNS e a Educação estão hoje "melhores" do que há um ano. “O país está melhor. A vida das pessoas está melhor", garantiu na abertura do debate. O agora líder da oposição, André Ventura, usou o habitual discurso hiperbólico para falar num estado de "total desilusão e podridão" e para atacar o chefe do Governo por ter dedicado "16 segundos" do discurso à saúde.

5 - Um consenso: no meio de muitos apartes e momentos de exaltação, um ponto de convergência: Montenegro anunciou que o Governo vai “aproveitar” a ideia do PS para criar uma unidade de coordenação para emergências hospitalares. Ventura também se disponibilizou para uma oposição responsável e para mais eventuais acordos com a AD, apesar de, na legislatura anterior, ter usado expressões como “conluio” ou “compadrio” quando AD e PS se uniam para fazer aprovar alguma medida.

Deixamos-lhe de seguida mais algumas notícias do dia. Até amanhã.