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Chega expõe nomes de crianças em Lisboa: associações de pais denunciam xenofobia e violação da lei

Associações de pais criticam as “declarações xenófobas” e a “exposição indevida de menores” feita pelo Chega. A posição é tomada numa carta de repúdio à qual o Expresso teve acesso
Nuno Botelho

Olá,
E obrigado por se informar connosco.

A estupefação tomou conta de parte do Parlamento na passada sexta-feira, quando André Ventura começou a ler o nome de crianças que integrarão o pré-escolar em Lisboa no próximo ano, mas quem estava mais atento às redes sociais já sabia que o momento já não era original. Rita Matias havia ensaiado o ato político na véspera, através de um vídeo em que recitou nomes e apelidos escritos numa página onde o nome do agrupamento de escolas a que estas pertenceriam aparecia ligeiramente desfocado.

Agora surgem as reações, com associações de pais de Lisboa a criticarem as “declarações xenófobas” e a “exposição indevida de menores” feita pelo Chega. A posição é tomada numa carta de repúdio à qual o Expresso teve acesso.

Segundo o documento, as associações entendem que a exposição destas crianças foi feita para “alimentar uma narrativa de ódio” que vai contra a Constituição. “A lei estabelecerá garantias efectivas contra a obtenção e utilização abusivas, ou contrárias à dignidade humana, de informações relativas às pessoas e famílias”, lê-se no artigo 26º.

O tema, mencionado no Expresso Curto de hoje, é também desenvolvido em dois artigos de opinião assinados por Henrique Raposo e Daniel Oliveira, publicados esta segunda-feira.

Henrique Raposo denuncia que os dirigentes do Chega isolaram “nomes reais de crianças para uma campanha de ódio direcionada” e que a ação é, além de “ilegítima”, “criminosa”. “É esta a mensagem de Rita Matias e André Ventura: qualquer miúdo estrangeiro está a mais na escola portuguesa e, por isso, é um alvo legítimo da violência verbal e por arrasto física”, escreve também.

Daniel Oliveira considera que “os juristas dirão se é crime e, se for, deve seguir para o Ministério Público”, mas salienta um pormenor que poderá ter escapado aos olhos menos treinados: “Parece-me que os dirigentes do Chega estarão convencidos que sim, já que, repetindo a rábula abjeta, André Ventura omitiu, no Parlamento, os apelidos.” No artigo desta segunda-feira, o analista político frisa ainda como “a desumanização do outro é tema político”: faz-se aos poucos e não tem fim, (…) o ódio normaliza-se muito para lá do que vimos nas bocas de Matias e Ventura. Nunca poupou os filhos dos que transformamos em sub-humanos”.

Aceite agora o meu convite para ler alguns dos artigos que preparamos esta segunda-feira, selecionados abaixo. Ou acompanhe tudo em direto no Expresso Fundamental.

Até breve,
João Miguel Salvador

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