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Plástico, um desafio difícil de dissolver

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Uma vez por mês, à terça-feira, o SER traz-lhe um tema-chave sobre o meio ambiente, com contexto, notícias relevantes e dicas práticas para facilitar a sua jornada “verde”. Hoje, falamos sobre o plástico, o seu impacto ambiental, as soluções em curso e como cada um de nós pode fazer a diferença.

Plástico, um desafio difícil de dissolver

Das embalagens que preservam os alimentos até aos componentes essenciais na construção e na tecnologia, o plástico é uma peça-chave da modernidade. Inventado no século passado, este material foi conquistando espaço em todos os setores da Economia devido à sua versatilidade, durabilidade e custo reduzido. Contudo, o seu uso intensivo e a resistência ao tempo, que o caracteriza, tornaram-se a raíz de um problema ambiental alarmante.

De acordo com os dados preliminares divulgados pela Plastics Europe, a produção global de plásticos atingiu 413,8 milhões de toneladas em 2023, um aumento de 13,4 milhões em relação ao ano anterior (o número sobe há pelo menos seis anos consecutivos). Enquanto 90,4% dessa produção derivou de materiais fósseis, 9,6% tiveram origem em materiais reciclados ou biológicos - o que evidencia desafios na transição para uma economia circular.

Na Europa, o panorama é ligeiramente mais promissor. A produção totalizou 54 milhões de toneladas, representando 12% do bolo mundial, com 20,6% provenientes de materiais circulares. Em 2023, a indústria europeia de plásticos contava com 1,5 milhões de trabalhadores, 51 700 empresas, um volume de negócios de 365 mil milhões de euros, segundo a Plastics Europe.

Embora os dados sobre a produção de plástico em Portugal sejam limitados, a Associação Portuguesa da Indústria de Plásticos (APIP) estima que o setor empregue 43 mil pessoas, distribuídas por 1150 empresas, e gere um volume de negócios de 8 mil milhões de euros, representando cerca de 4% do PIB nacional.

Que implicações tem para o meio ambiente?

O impacto ambiental dos plásticos é vasto. Não só poluem ecossistemas terrestres e aquáticos, ameaçando a biodiversidade, como contribuem para as alterações climáticas e afetam a saúde humana. A maioria dos plásticos é fabricada a partir de materiais fósseis, utilizando fontes de energia que emitem grandes quantidades de gases de efeito estufa (GEE) durante a produção.

A OCDE afirma que os plásticos geraram 1,8 mil milhões de toneladas de GEE em 2019, o que representa 3,4% das emissões globais, e que o valor deverá duplicar até 2060.

Além disso, as fases subsequentes - transporte, uso e descarte - aumentam significativamente a pegada de carbono associada a este material. É sobretudo a durabilidade do plástico, uma das suas maiores vantagens enquanto produto, que o transforma num inimigo do ambiente: podem levar mais de 400 anos para se decompor, o que cria um problema de acumulação.

Enquanto a produção cresce de forma exponencial, a capacidade de reciclagem permanece limitada. Resultado? Milhões de toneladas de resíduos plásticos são gerados todos os anos e apenas uma pequena fração é reciclada. De acordo com a OCDE, cerca de 22 milhões de toneladas de plástico foram encontrados nos solos, rios e oceanos em 2019 e prevê-se que os desperdícios de plástico dupliquem até 2060.

Em 2021, cada habitante da União Europeia (UE) produziu, em média, 36,1 quilogramas (kg) de resíduos de embalagens plásticas, totalizando 16,13 milhões de toneladas, segundo o Eurostat. Embora a taxa de reciclagem tenha atingido cerca de 41%, uma parcela considerável desses resíduos foi incinerada para recuperação de energia, enquanto outra parte significativa acabou em aterros.

Nesse mesmo ano, Portugal reportou à UE a produção de 428,1 mil toneladas de resíduos de embalagens plásticas, o que equivale a 40,3 kg por habitante, com uma taxa de reciclagem inferior à média europeia, de 38%. E o problema parece ter-se agravado em 2023. O último relatório da Agência Portuguesa do Ambiente (APA) revela que os plásticos representaram 11% dos resíduos urbanos produzidos em Portugal Continental, mas apenas 23% foram reciclados.

O que está a ser feito?

A União Europeia tem vindo a tomar medidas nos últimos anos para combater o problema dos plásticos, nomeadamente com a Estratégia para os Plásticos na Economia Circular, que inclui objetivos como tornar todas as embalagens plásticas recicláveis ou reutilizáveis até 2030, restringir a exportação de resíduos plásticos para países fora da OCDE e obrigar os produtores a incorporar pelo menos 30% de plástico reciclado em novos produtos.

Em Portugal, desde 2021 que está em vigor a proibição de produtos plásticos descartáveis, como talheres, pratos e cotonetes. O país pretende implementar um sistema de depósito e reembolso para embalagens de plástico e metal, semelhante aos modelos adotados noutros países da Europa. Estas ações fazem parte do Plano Nacional de Gestão de Resíduos 2030, que estabelece a meta de reciclar 60% dos resíduos urbanos, com um foco especial no plástico.


Como podemos ser parte da solução?

Medidas governamentais e ações das empresas são fundamentais para a redução do consumo de plástico, mas todos nós podemos desempenhar um papel na economia circular. Deixo-lhe cinco dicas:

  1. Evite o descartável: substitua ou dê preferência a garrafas, sacos e talheres descartáveis por alternativas reutilizáveis;
  2. Recicle: verifique a existência de ecopontos para separação de resíduos na sua área de residência e garanta que os plásticos são descartados nos locais corretos;
  3. Compre a granel: opte por comprar produtos a granel (feijão, massas e frutos secos, por exemplo), levando os seus próprios recipientes;
  4. Apoie marcas sustentáveis: esteja atento ao mercado e prefira soluções que utilizem plástico reciclado ou que sejam classificados como biodegradáveis;
  5. Seja amigo do ambiente: participe em iniciativas locais, como limpezas de praias e matas

Exclusivo Expresso: Oiça o podcast Ser ou Não Ser

José Fernandes

Filipe de Botton é o presidente da Logoplaste, uma empresa portuguesa que fabrica plástico. Vale a pena revisitar a entrevista que deu em 2023 ao podcast Ser ou Não Ser, na qual falou sobre a indústria e o que falta fazer para que o setor não seja tão poluente. Oiça o episódio completo aqui



Cada gesto, por mais pequeno que seja, conta para criar um futuro mais “verde”. A newsletter Expresso SER volta à sua caixa de correio no próximo mês, com mais dicas e informação. Para sugestões ou comentários, contacte-me através de: mcdias@expresso.impresa.pt

Até lá, boas leituras e práticas sustentáveis!

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