Caro leitor,
Acaba de chegar à sua caixa de correio mais uma edição da newsletter do Expresso dedicada à sustentabilidade.
Uma vez por mês, à terça-feira, o SER traz-lhe um tema-chave sobre o meio ambiente, com contexto, notícias relevantes e dicas práticas para facilitar a sua jornada “verde”. Hoje falamos de sustentabilidade no imobiliário.
Cada português pesa 300 quilos na pegada carbónica dos edifícios
Um relógio que se compromete a contar as emissões de gases com efeito estufa (GEE) de 180 países até 2050 revela que Portugal já emitiu este ano 58,4 megatoneladas de dióxido de carbono equivalente [esta unidade de medida faz a equivalência entre todos os GEE, convertendo-os em dióxido de carbono], das quais 3,1 megatoneladas provenientes dos edifícios.
Fazendo as contas per capita, cada português foi responsável por 300 quilogramas destas emissões, o que coloca o país na 58.ª posição dos que mais GEE emitem. No topo da lista encontramos o Omã, Turquemenistão e Luxemburgo, e, no fim, o Afeganistão, Timor-Leste e Islândia. A indústria, os transportes e os sistemas de energia são, por esta mesma ordem, os mais poluentes.
Como poucos são os dados nacionais sobre o assunto, focamo-nos no mais recente relatório da Agência Europeia do Ambiente (AEA), que indica que os edifícios - ao longo de todo o ciclo de vida, isto é, da construção ao uso e à demolição - representam mais de 30% da pegada ambiental total da União Europeia (UE), sendo o setor com maior impacto ambiental. Consomem 42% da energia anual e geram 35% das emissões de GEE.
Consumo de energia na fase de utilização faz disparar os GEE
A AEA olhou para as diferentes etapas de um edifício e constatou que só o fabrico de materiais de construção, como o cimento e o aço, corresponde a 6% das emissões de GEE libertadas. Concluiu também que a utilização de maquinaria pesada e o transporte fazem com que a montagem dos produtos contribua significativamente para a pegada carbónica.
Já o processo de renovação, embora seja essencial para melhorar a eficiência energética dos imóveis, acarreta riscos - entre eles, o aumento do consumo de materiais. Mas é no uso dos edifícios que está a maior contribuição de GEE. E o consumo de energia, especialmente para aquecimento e eletricidade, com recurso a combustíveis fósseis, é a principal explicação.
Na fase final, a demolição de edifícios gera grandes volumes de resíduos, como, por exemplo, tijolos, madeira e metais - em 2020, aliás, contabilizaram-se 333 milhões de toneladas. O documento aponta que, ainda que as taxas de reciclagem na União sejam altas, grande parte dos resíduos é reciclada de uma forma que limita o seu valor ambiental e económico.
O que está a ser feito?
A agência recomenda a renovação dos edifícios, o uso de métodos e materiais de baixo impacto ambiental, bem como políticas para mitigar as emissões de GEE. A UE, contudo, já tem dado indicações nesse caminho: a diretiva de Desempenho Energético dos Edifícios estabelece normas ambiciosas para construções novas e já existentes.
O objetivo é a neutralidade carbónica até 2050. Para isso, exige-se, entre outros pontos, que todos os edifícios públicos novos e todos edifícios em geral sejam neutros a partir de 2028 e 2030, respetivamente. Impõem-se ainda a instalação de sistemas solares em edifícios públicos e privados, com prazos escalonados até 2031, e a ampliação de pontos de carregamento para veículos elétricos.
Para que seja possível atingir a sustentabilidade neste setor, a UE criou incentivos financeiros. Em Portugal, vários projetos de requalificação de edifícios públicos e privados estão em curso com o apoio de fundos europeus - nomeadamente do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), que conta com programas que ajudam a cobrir o custo de instalações como painéis solares, isolamento térmico e janelas eficientes.
Saiba aqui o que estão a fazer as empresas do setor imobiliário pelo futuro do planeta
Eis os princípios da construção sustentável
Desde a fase de projeto à construção e da operação à eventual demolição, a construção sustentável abrange técnicas e materiais que minimizam o impacto ambiental dos edifícios. A abordagem considera o uso eficiente de recursos, a redução de resíduos e das emissões de carbono, mas também a criação de espaços que promovam o bem-estar dos ocupantes.
Veja-se alguns exemplos:
- No âmbito da eficiência energética, privilegiam-se os sistemas e materiais que reduzem o consumo de energia, como os painéis solares, o isolamento térmico e a iluminação LED;
- Ao nível dos materiais que servem à construção, a preferência é dada aos locais e renováveis - por exemplo, o bambu e a madeira certificada - além dos reciclados e recicláveis;
- Para uma melhor gestão da água são instalados sistemas de reaproveitamento da água das chuvas ou tecnologias que diminuam o desperdício, como torneiras inteligentes;
- É possível projetar uma construção mais ecológica logo na planta, com recurso à arquitetura bioclimática, que aproveita as condições climáticas locais para reduzir a necessidade de climatização artificial;
Como podemos ser parte da solução?
Se não lhe for possível apostar em reformas maiores, experimente trocar as lâmpadas convencionais da sua casa ou escritório por LED: esta pequena mudança pode reduzir até 80% o consumo de energia. Trata-se de um investimento de curto prazo que gera poupança e ajuda a reduzir a pegada de carbono do imobiliário.
Exclusivo Expresso: Escritórios pouco amigos do ambiente já são penalizados
A crescente preocupação com o meio ambiente e a imposição de novas regras estão a transformar o setor imobiliário europeu, que é responsável por mais de um terço das emissões de carbono anuais. Em Portugal, onde a ocupação de escritórios deverá alcançar 200 mil metros quadrados este ano, a sustentabilidade já é um requisito essencial para a viabilidade dos projetos.
As diretrizes da União Europeia determinam que edifícios com mais de mil metros quadrados adotem práticas sustentáveis ao longo de todo o seu ciclo de vida, da construção ao uso. Segundo especialistas consultados pelo Expresso, projetos que não seguem critérios ecológicos correm o risco de perder valor e relevância no mercado.
Construções com alta pontuação ESG (que avalia práticas ambientais, sociais e de governança) podem reduzir o consumo de energia até 50% e o de água até 40%. E os investidores estão dispostos a pagar um prémio por certificações como a LEED e a BREEAM, uma vez que estes “selos verdes” também dão acesso a vantagens fiscais e financeiras.
Cada gesto, por mais pequeno que seja, conta para criar um futuro mais “verde”. A newsletter Expresso SER volta à sua caixa de correio no próximo mês, com mais dicas e informação. Para sugestões ou comentários, contacte-me através de: mcdias@expresso.impresa.pt
Até lá, boas leituras e práticas sustentáveis!