Expresso Olha, nem sei

Um sapo a levitar, um prémio Nobel e um até já

Boa tarde!


Não é novidade nenhuma que há coisas que começam numa brincadeira e acabam em algo sério. Tanto se aplica a relações como a trabalhos. Há inúmeros casos de pessoas que começaram com um blog, descontraidamente, e acabaram com carreiras em moda ou como chefs. No entanto, hoje trago-vos a história de Andre Geim.


Andre Geim é um cientista, atualmente com 65 anos, que, às sextas-feiras, no seu laboratório, costumava fazer experiências totós (não há outra palavra, mas é escrita com carinho). A dada altura, em 1997, conseguiu fazer um sapo levitar através de jogos de campos magnéticos, argumentando que conseguiria fazer o mesmo com humanos. O sapo ficou bem, intacto, tranquilo, apenas a levitar. (Claro que poder-nos-íamos questionar sobre a presença por si só de sapos no laboratório, mas o assunto, hoje, não é esse). Este feito valeu-lhe umIg Nobel, que é, basicamente, um prémio satírico destinado a “honrar proezas que primeiro fazem as pessoas rir, e depois pensar”.


Passados dez anos, Geim e Konstantin Novoselov fizeram experiências inovadoras com o super-material grafeno (graphene), que é extremamente forte e com muitas propriedades a nível de condução de energia, nível térmico e força. Mesmo com a espessura de um milhão vezes menos que um cabelo, o grafeno é mais duro que diamantes e 200 vezes mais forte que o aço. É o material mais condutor de energia à face da terra e tem o poder de carregar um telemóvel em apenas 5 segundos. Consegue, até, fazer upload de um terabite em 1 segundo. As experiências de Geim e Novaselov foram tão importantes, que lhes valeu o prémio Nobel da Física (agora a sério) em 2010.


Assim, a brincar, Geim conseguiu um prémio Nobel. E porquê? Porque a liberdade de experimentar, de não ter medo de fazer coisas que podem ser consideradas totós, leva-nos muito longe. Há, inclusive, uma corrente de pensamento que consegue explicar tudo através do processo do jogo: relações interpessoais, trabalho, vida pessoal. Tudo pode ser visto como um jogo. Por objetivos, por intenções, por vontades de experimentar.

(Referência que recomendo e onde li sobre Andre Geim: Power of Play, de Paul Pethick)


Não se façam só Legos segundo as instruções, experimentamos também nós, sem guias. Sejam literalmente Legos, ou estes como metáforas para a vida.


Termino a dizer que esta brincadeira de me receberem no vosso e-mail, termina com o ano 2023. Os meus artigos em versão aberta ao público continuarão a sair às segundas-feiras. Espero que tenham gostado da minha companhia, como eu gostei da vossa.


Até já,

Clara


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