Boa tarde!
No passado dia 25 de Novembro, assinalámos o dia pela eliminação da violência contra as mulheres. Para o assinalar, estive num evento em Grândola, onde falámos de casos de violência contra mulheres, a problemática da revitimização aquando a apresentação de queixa, entre outros aspetos. (Sobre os dados horripilantes da violência recomendo o artigo de Paula Cosme Pinto.)
Partindo deste contexto, hoje queria falar-vos de um argumento que é muito usado, em busca de um rasgo de empatia: o argumento da propriedade. “E se fosse a sua mãe?” “E se fosse a tua irmã?” “E se fosse a sua filha?”
A verdade é que, por exemplo, em contexto de piropo, muitos homens que mandam piropos não gostariam que outro homem mandasse piropos à sua mãe, à sua irmã, à sua filha. Repararam como é sempre “à sua”? Ou seja, quando uma mulher está relacionada com eles de alguma forma, tornam-se protetores, querem defendê-la. Desta forma, o argumento da propriedade é, arrisco-me a dizer, praticamente infalível, quando em busca de empatia. Uma realidade triste, mas que acontece. Para estes homens, todas as mulheres são passíveis a piropos, menos as suas mulheres.
Quando falo de violência contra mulheres, apanho sempre um homem que nos comentários pede “desculpa por todos os homens”. Para eles, tenho a dizer que as mulheres sabem que nem todos os homens são horríveis. Nós nem pedimos que sejam todos exemplares, porque as mulheres também não o são, mas o mínimo é que nos respeitem. Como nem sempre acontece, parece que os que o faz são heróis. Não são. Um homem que não mande um piropo não é herói, é pessoa. Mais ainda, pedir desculpa “por todos os homens” não me adianta de nada, nem a mim, nem às mulheres, ou o homem que pede desculpa é o porta-voz do grupo? O grupo escreveu uma carta aberta? Os homens todos vão virar automaticamente homens decentes só porque houve um que pediu desculpa “em nome de todos os homens?
Em vez de pedirem desculpa falsamente coletiva, sejam homens decentes e chamem à atenção dos vossos amigos e conhecidos quando estes têm comportamentos machistas. Além disso, não tenham conversas de “mas nem todos os homens”, porque nós sabemos que não são todos os homens. No entanto, quando dizem que é perigoso uma mulher andar sozinha à noite, porque é, infelizmente, quando lhes dizem para elas terem cuidado, é para terem cuidado em relação a quem? A homens. Por isso, quem é o comum predador? Homens.
A violência especificamente contra mulheres existe e começa na base da propriedade, quando um homem tem um raciocínio do género “eu tenho direito a comentar todas as mulheres, mas ninguém pode desrespeitar as mulheres da minha vida”.
Termino com uma ilustração de Javirroyo: