Expresso Olha, nem sei

Reprodução e Menstruação sem romantismos

Bom dia,


Hoje falo-vos de avanços na desobstrução de tabus, para não termos sempre assuntos negativos à nossa volta.


O pudor social pela sexualidade da mulher cis vive em muitas áreas. Até recentemente, nos anúncios de testes de gravidez, apenas apareciam pessoas felizes e em anúncios de pensos higiénicos não se via uma única pinga de líquido vermelho.


Foi com muita alegria que ontem, terça-feira, vi um anúncio a pensos higiénicos em que aparecia um líquido vermelho a representar o período- Embora tenha aparecido rapidamente e sem mostrar a sua absorção no penso, já é uma grande mudança: passámos de líquido da louça azul a sumo de frutos vermelhos. “Podia ser pior”.


Esta digievolução da representação do período pode parecer algo supérfluo, mas é uma desconstrução grande deste ainda tabu, tão presente no nosso dia-a-dia, quer pela linguagem, que evita ao máximo dizer “período” e “menstruação” — chegando a fazer viagens de três a cinco palavras com “estou naqueles dias” e “são aqueles dias do mês”—, quer pelo penso enfiado na manga às escondidas e o tampão pedido em sussurro à colega de trabalho.


Como é que algo tão básico tem tanto pudor à sua volta? Porque sai de uma vagina. Não é uma “história”, não é “um jogo do Benfica em casa”, é menstruação. Há que tirar o romantismo, o pudor, o secretismo, e contar as coisas naturais como elas são, naturalmente.


Da mesma forma, nos últimos tempos, tem-se visto em anúncios de marcas uma nova representação de quem faz testes de gravidez: as mulheres que não querem estar grávidas e ficam aliviadas quando vêem que realmente não estão; e as que descobrem que estão e ficam cheias de tensão. Até há bem pouco tempo, tínhamos apenas a representação de mulheres felizes por estarem grávidas. Ora, se há muita gente que quer engravidar, há muita gente que teme esse possível acontecimento. A gravidez não é necessariamente algo desejável e, mesmo quando é desejada, não é por isso sempre agradável. (Mostro mais sobre a minha opinião sobre a gravidez e maternidade no meu último artigo).


Assim, proponho que se levante o véu do romantismo à volta da reprodução e se fale das coisas naturais como elas são, naturalmente.



Com votos de boas desconstruções de tabus sociais,

Clara



Nota: Por favor, enviem-me os vossos testemunhos de pudor à volta da menstruação para clara@claranao.com

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