A cinco dias apenas do fim da campanha, quase 40% de indecisos. Isso, quase 40%, se juntar os 18% que nem sequer arriscam uma cruz num boletim simulado pela empresa de sondagens aos 20% que admitem ainda mudar de voto antes de dia 10.
Nos dois maiores partidos é a hora de carregar nas ideias centrais. São, sem surpresa, as mesmas de 2022: estabilidade, pelo PS; mudança, do lado da AD. E, talvez com surpresa, a ver o empate técnico teimosamente a persistir. Não estranhe, por isso, se assistir a comentários mais acalorados e quiçá incompreensíveis nas televisões. E não estranhe, também, se vir na estrada a repetição dos argumentos de outrora: para os partidos, é hora do tudo ou nada. Ora veja como foi o dia de ontem.
O PS quis mostrar mobilização, ao colo das Caxinas e debaixo dos confettis de Vizela, com Pedro Nuno Santos a reclamar uma vitória nas ruas e a transmitir confiança nos resultados e numa mudança segura, feita em continuidade. Mas com o novo líder socialista abaixo de Costa nos indicadores de confiança e a comparar pior com Montenegro nas perguntas sobre personalidade, os convidados da caravana recorreram ao mesmo mote que deu, há dois anos apenas, uma surpreendente maioria a Costa: a subida da direita-radical e o necessidade de a manter afastada do poder.
Na AD, a palavra do dia foi “descaramento”, na boca de Pedro Santana Lopes, atirada contra António Costa e o seu discurso de campanha aos socialistas, feito na noite anterior. Costa já não é o adversário direto e 60% dos portugueses, diz a sondagem do Expresso, dizem que é altura de mudar. Mas como nem isso faz Montenegro descolar nas sondagens, o líder do PSD vinca os problemas do SNS e a emigração dos jovens qualificados, apontando aos desiludidos do PS; enquanto Mesquita Nunes, um ex-CDS diferente de outros CDS, o apresenta como a "mudança sensata, moderada, ponderada e pensada” – a ver se a mensagem cola. Ontem, pelo menos, não houve polémicas na campanha da AD.
Quanto aos pequenos, esta será a mais difícil das semanas de campanha – porque é tempo de convencer os mais ou menos convencidos a não entregar o voto como útil a outro maior.
O Bloco (que tem 40% de intenções de voto em risco), apostou no voto feminino, mas carregou no discurso lembrando que "o primeiro ataque é sempre às mulheres, aos imigrantes, aos mais pobres, a quem trabalha”. A Iniciativa Liberal, que tem 31% em risco de fuga também, alinhou num jogo amigável com a AD mas tentando esvaziar o apelo ao voto útil. E a CDU fez prova de vida em Lisboa e recebeu a ajuda (e um abraço) de Jerónimo: “Isto é coisa de quem está a morrer?”.
E o Chega? Bem, o Chega, entra na reta final e deixa cair a aparência de moderação: carrega nas propostas mais polémicas, levanta os adjetivos, espalha as conspirações e aposta nas acusações – servindo para isso todos, até o pai de um candidato.